01/11/2017 - 15:14
Todo mundo quer um SUV. E quem não pode comprar um, vai de hatch aventureiro mesmo. Dos legítimos utilitário-esportivos eles não têm praticamente nada, mas nessas versões com visual “off-road” e suspensões mais elevadas e reforçadas, eles encaram com mais competência e valentia uma eventual estrada de terra ou, com maior frequência, os buracos e valetas das cidades e estradas. Essa já tradicional subespécie automotiva tem como principais atrativos o tamanho compacto, vantajoso no uso urbano, e principalmente o preço mais baixo. São a porta de entrada para o “mundo dos SUVs”.
Juntamos aqui os três aventureiros mais atraentes vendidos hoje por menos de R$ 60.000: Hyundai HB20X, Renault Sandero Stepway (que acaba de ganhar nova versão de entrada) e Chevrolet Onix Activ. Há outras opções no mercado, umas menores, outras já ultrapassadas e ainda algumas caras demais, como o VW CrossFox e o próprio HB20X Premium das fotos, que passam de R$ 70.000 – mas aí já dá para começar a pensar em Ford EcoSport, Hyundai Creta, Jeep Renegade & cia.
Mas a grande novidade dessa disputa é o chinês JAC T40, que chegou no mês passado para desafiá-los – mesmo não sendo um hatch. Na verdade, ele nasceu em 2012 como tal, mas no caminho a marca escutou o mercado e o transformou em um “SUV”, elevando o capô, deixando seu para-brisa mais vertical e reforçando (e também elevando) a suspensão. Assim, o JAC tem um visual bem mais imponente, ficando muito mais próximo de um verdadeiro utilitário-esportivo do que dos tradicionais hatches aventureiros –e por isso já começa essa briga com uma boa vantagem (faltaram só molduras plásticas nos para-lamas, quase obrigatórias nos seus alvos, que aumentam a “robustez visual”).
CABINE E CONTEÚDO
Na cabine, mais uma vantagem do T40. Com 4,13 m, é quase 20 cm maior que HB20X e Onix e 7 cm maior que o já encorpado Sandero (quase um hatch médio). Curioso é que mesmo sendo dono do menor entre-eixos, o JAC tem mais espaço para os joelhos de quem viaja no banco traseiro, seguido de perto pelo Sandero. Onix e HB20X são mais compactos. E se o porta-malas do chinês não é enorme, empata com o do Renault, o maior entre os aventureiros (a JAC declara 450 litros, mas é a medida até o teto, que não consideramos).
O T40 ainda reverte a má-fama dos chineses e oferece o melhor acabamento. Enquanto os rivais têm painel e portas cobertos de plástico duro, no máximo com detalhes em tecido, o JAC tem partes de couro. Sandero e Onix são os mais simples: o primeiro tem bancos com trilhos expostos e outros detalhes típicos de carros de baixo custo, o segundo é criticado pelo cluster “de moto” e pelo excesso de plástico (em parte coloridos de laranja nessa versão). O HB20X Style é um pouco mais caprichado, mas ainda fica distante do T40.
A lista de equipamentos do chinês também é mais farta. É verdade que faltam couro nos bancos, fechamento automático dos vidros ao travar o carro e um computador de bordo completo (não indica autonomia), mas, entre outros itens, tem faróis automáticos, luzes de conversão estáticas, ajuste de altura dos faróis, câmera frontal (grava tudo à frente do carro) e luz diurna (a única DRL de verdade, que atende à lei; o Onix e o HB20X Premium tem LEDs apenas decorativos).
Sandero e Onix têm pacotes intermediários, cada um deles apostando em itens diferentes. Destaque para o ar-condicionado automático, exclusivo do Renault – o do T40 pelo menos tem oito velocidades, eliminando o dilema muito forte/muito fraco dos demais. Já o HB20X decepciona, limitando muitos itens à versão Premium – mas nem ela tem piloto automático, que os rivais trazem e hoje é um item essencial. O T40 ainda se destaca pela segurança, pois é o único com controle de estabilidade, auxílio em rampas, cinto de segurança central traseiro de três pontos e isofix para cadeirinhas – esse último item presente apenas nele e no HB20X (confira os detalhes na tabela “Preço das peças”).
Por menos de R$ 60.000, só o Sandero Stepway Expression e o HB20X Style não têm central multimídia – presente na versão Dynamique do primeiro e opcional no segundo. Os melhores sistemas são do Onix e do HB20X, fáceis de usar e compatíveis com Android Auto/Apple CarPlay – mas a tela do Hyundai é mal-posicionada e difícil de ver quando bate o sol. A do Renault fica devendo em conectividade, mas ao menos tem mapa off-line e o interessante recurso que avalia como você dirige e ensina a economizar. Só aqui o T40 fica na lanterna: a central é boa e tem ótimos alto-falantes, mas a interface ainda precisa melhorar um pouco e não há navegador por GPS.
AO VOLANTE
Apesar da cara de SUV do T40, ao volante quem mais parece com um é o Sandero – para o bem e para o mal. As suspensões transmitem mais robustez, reclamando menos dos buracos e trabalhando em quase absoluto silêncio (quando dá batidas, elas são abafadas). Por outro lado, seu rodar é firme demais e a direção (única eletro-hidráulica) é lenta e pesada, lembrando um SUV “raiz” – o que é ruim no uso urbano. Os bancos são confortáveis, mas a posição de dirigir não é boa.
Já o motor 1.6 tem boa disposição em baixas rotações, funcionamento “liso” e ainda conta com start-stop (desliga e religa o motor em paradas) e regeneração de energia de frenagem para reduzir o consumo urbano. Na estrada, porém, consome o mesmo que na cidade, sendo o mais gastão: uma sexta marcha reduziria os giros (a 120 km/h são 3.250 rpm) e resolveria a questão (mas o ideal seria trocar a caixa toda, que tem alavanca com curso muito longo e engates imprecisos).
No HB20X é mais fácil achar uma boa posição ao volante, pois é o único com ajuste também de profundidade. Seu motor 1.6 é o mais potente e o câmbio manual de seis marchas tem engates bons, ajudando a poupar na estrada (a 120 km/h ele segue a 2.800 rpm). A direção elétrica dessa versão aventureira é leve (até demais) para o uso urbano, porém bastante precisa na estrada. O Hyundai é prazeroso de guiar, mas como aventureiro urbano as suspensões decepcionam. São macias e têm boa altura do solo, mas transmitem muito ruído para a cabine e aparentam certa fragilidade ao encarar a buraqueira nas cidades e estradas.
No Onix também é fácil encontrar uma boa posição de dirigir, graças ao volante bem posicionado. A direção tem ótimo acerto e as suspensões são um pouco duras, é verdade, mas até trabalham em relativo silêncio. O problema é que elas não são tão elevadas (o Onix tem 15 cm de vão livre, contra 18 do T40, 19 do Sandero e 20,6 do HB20X), então o Chevrolet raspa mais em valetas. Já o motor 1.4 é o mais fraco: seu consumo é contido e na cidade o fato de ter 8V garante agilidade, mas com o carro carregado e/ou em retomadas na estrada, o desempenho decepciona – e é preciso trabalhar bem com o câmbio manual de seis marchas.
E aí chegamos ao T40. Mesmo sem ter ajuste de profundidade do volante, a posição de dirigir é muito boa (novidade para modelos chineses). A direção é precisa e tem ótimo retorno, mas as suspensões não passam a mesma sensação de robustez que se vê no Sandero, e embora não sejam tão silenciosas quanto as dele, são bastante macias e proporcionam mais conforto. Seu motor 1.5 tem quase a mesma potência do Hyundai e é elástico. Fica áspero em esticadas, mas como trabalha bem em baixas rotações, permite antecipar as trocas de marcha (como nos rivais, há indicador que mostra o melhor momento para fazê-las, com a vantagem de sempre indicar no painel a marcha engatada).
A embreagem é leve e os engates do câmbio são macios e precisos, mas quarta e quinta marchas têm relações longas para reduzir o consumo, então em retomadas às vezes é preciso reduzir para terceira. Uma sexta marcha solucionaria melhor a questão e ainda diminuiria os giros do motor: a 120 km/h, são 3.200 rpm, mas graças ao ótimo isolamento acústico mal se ouve ele funcionando, e rodando na estrada o T40 é o mais silencioso dos quatro. Pena que as respostas do acelerador não sejam tão progressivas quanto as do freio: às vezes o T40 responde com um incômodo tranco.
PÓS-VENDA
É verdade que a JAC tem uma rede de concessionárias limitada e que alguns de seus modelos anteriores se desvalorizaram muito. Mas, para encorajar o consumidor que ainda tem receio de comprar um carro chinês, a marca dá garantia total de seis anos para o T40, oferece peças de reposição com valores similares aos da concorrência e cobra pelas revisões só um pouco mais que as marcas nacionais (veja tabela “Ficha técnica”). Quanto à desvalorização, a do T40 deve ser menor que a dos demais JAC, pois, ao menos teoricamente, ele ficará definitivamente no mercado. Já os hatches aventureiros não se distinguem muito nos valores de pós-venda, mas o Hyundai tem garantia de cinco anos, o Chevrolet tem a maior rede e o Renault tem peças mais baratas.
CONCLUSÃO
Se a disputa fosse só entre os tradicionais hatches aventureiros, Onix Activ e HB20X ficariam na lanterninha – o Chevrolet seria a escolha para quem prioriza preço e equipamentos e roda principalmente na cidade, o Hyundai seria a melhor compra para quem dá mais importância à segurança e ao desempenho e roda mais na estrada. Mas o Stepway ganharia de ambos por oferecer uma lista de itens de série similar à do Onix (ou um pouco menor por um preço também menor, no caso da configuração Expression) e um desempenho praticamente idêntico ao do HB20X – tudo isso com suspensões mais robustas e silenciosas para encarar a buraqueira e, principalmente, uma cabine e um porta-malas mais espaçosos.
Mas a vitória aqui acaba ficando com o estreante T40, que, graças à sua proposta de “SUV de verdade”, é maior e mais imponente que os rivais (e também mais bonito, mas aí é uma questão de gosto). O estreante da JAC é leve e agradável de guiar na cidade, confortável na hora de encarar buracos ou estradinhas de terra e tem a cabine mais agradável para quem costuma passar horas no trânsito. Para completar, ainda é o mais barato: são mais de R$ 3.000 de diferença para o Stepway no pacote completo. Sim, os chineses chegaram lá!
PREFERE AUTOMÁTICO?
Agora, se você considera o câmbio automático fundamental, a escolha terá que ser entre os dois lanterninhas. Isso porque o T40 só terá versão automática (CVT) em poucos meses e o Sandero Stepway oferece só a transmissão automatizada Easy’R, com embreagem simples e trocas lentas e com trancos. Só opte pelo Renault se o espaço interno for realmente fundamental para você. Caso contrário, recomendamos escolher entre o Onix e o HB20X, ambos com boas caixas automáticas tradicionais de seis marchas e opção de trocas sequenciais. Nesse caso, o Onix Activ sai por R$ 65.250 e o HB20X Style, já com multimídia, por R$ 65.945. Fique com o primeiro se prioriza equipamentos e com o segundo se prefere desempenho.