O Jeep Commander chegou e já assumiu a liderança de vendas, com filas de espera de até seis meses, complicando a vida do Caoa Chery Tiggo 8, que estava vendendo muito bem, mas reinava quase sozinho. Após um tempo como quase única opção de sete lugares entre os R$ 110 mil do Chevrolet Spin (leia aqui a avaliação) e os R$ 380 mil do Toyota SW4 (leia aqui), o SUV de origem chinesa fabricado em Anápolis agora enfrenta a concorrência do novo Jeep. E ambos miram o mesmo consumidor: aquele que precisa de muito espaço, seja na forma de porta-malas enormes ou assentos extras. O irmão maior do best-seller Compass estreou mundialmente no Brasil, com fabricação em Goiana, PE (observação: ignoramos o cansado Mitsubishi Outlander, já em nova geração no exterior, e o VW Tiguan está temporariamente fora de linha por aqui).

As ofertas são enxutas: o Tiggo 8 tem versão única de R$ 199.990, e o Commander tem as opções Limited e Overland – multiplicadas por dois, pois há flex e a diesel (leia aqui a avaliação do Commander a diesel). O foco aqui é nos primeiros, com preços mais próximos do rival – R$ 212.990 o Limited, R$ 239.990 o Overland –, além de proposta igualmente urbana, com tração dianteira (os a diesel são 4×4 e custam R$ 274.490 e R$ 301.490). A versão das fotos é a Overland, mas as diferenças visuais são poucas.

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Jeep Commander vs. Caoa Chery Tiggo 8: design, cabine e conteúdo

Commander Tiggo

No porte, o design do Commander faz com que ele pareça bem maior, mas nem é tanto assim: é só 6,9 cm mais longo, totalizando 4,769 m, enquanto na largura 1 mm os separa, e, na altura, o Tiggo é 2 cm mais alto. A maior diferença aparece no entre-eixos: o Commander tem ótimos 2,794 m, ante 2,710 do rival – o que faz diferença para quem vai na segunda fileira.

Commander Tiggo

Os dois são carros belos, mas é questão de gosto: as opiniões durante a semana com o carro ficaram divididas. Muitos acharam o Jeep longo demais, com certa cara de “carro funerário” (as colunas pretas ajudam nesta impressão); já o rival tem proporções melhores e personalidade surpreendente para um SUV chinês – algo que faz falta no Ford Territory e outros conterrâneos.

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A cabine do Tiggo 8 peca pelas poucas opções do cluster digital e pela usabilidade não tão intuitiva. Sua alavanca de câmbio parece as do BMW, com comando eletrônico. O celular caiu do carregador várias vezes

A mesma personalidade não se vê no interior do Tiggo 8, que bebe de várias fontes. A central multimídia, por exemplo, parece as dos BMW, tanto pela forma/moldura quanto pela interface – de negativo, é complicada de mexer, com botões de volume físicos não giratórios e atalhos não tão diretos, além de faltar um comando fácil fora do volante para mudar de faixa/estação, por exemplo; de positivo, sua tela se divide em duas e permite ver/controlar, simultaneamente, Google Maps (ou Waze) e app de músicas.

Já os controles do ar-condicionado são (muito) similares aos dos Land Rover, com tela sensível ao toque à frente da alavanca de câmbio (as opções aparecem também na tela superior). No mais, ao lado desta mesma alavanca – que também imita a dos BMW –, o Tiggo tem carregador por indução que não segura bem o celular, e o quadro de instrumentos digital decepciona: além da interface confusa, há problemas como ter que parar o carro para zerar o marcador de consumo. Então, a cabine pode ser bela visualmente e ter um bom acabamento, mas peca em detalhes e praticidade de uso.

Pulando para o Commander, além de a cabine ter personalidade própria, ela agrada bem mais, tanto pela qualidade dos materiais de acabamento, sempre um ponto de destaque dos Jeep recentes, quanto pela usabilidade. Apesar da infinidade de opções, à qual se leva um tempo para acostumar, tudo é mais organizado.

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O Commander supera o rival na cabine, com melhores materiais de acabamento e painel digital e multimídia mais fáceis de usar e configurar. Mas seu carregador por indução sobreaqueceu os celulares

O ar-condicionado tem todos os comandos físicos e também pode ser controlado pela tela, e o cluster, também digital, tem bem mais informações (e mais fáceis de acessar) e uma maior variedade de visualizações. Acionar a tela, ajustar volume e faixas, é tudo bem mais fácil. Além disso, o carregador por indução prende e protege melhor o celular – e faz bem mais sentido, já que há Android Auto e Apple CarPlay sem fio (mas, por outro lado, sobreaquece com facilidade o aparelho, pois o compartimento é fechado demais).

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Já em relação aos equipamentos, ambos são completos. A única vantagem clara do Tiggo está no teto panorâmico, que o Commander só tem na versão Overland (as câmeras 360o do Chery pecam pelo software; na prática, são inúteis). Por outro lado, o Jeep, mesmo Limited, já tem mais itens de segurança e condução semiautônoma – como luz alta automática, piloto automático adaptativo (ACC), assistente de faixa, frenagem automática de emergência e estacionamento automático (que funciona bem e ajuda bastante na cidade, por se tratar de um carro grande). Portanto, os R$ 10 mil extras do Commander “básico” são mais que justificados pelo pacote, e o topo de linha oferece ainda mais. Veja os detalhes na tabela de equipamentos

A vantagem do Jeep se amplia ao ocupar/usar a cabine. Ambos têm muito espaço na segunda fileira, com bancos deslizantes e reclináveis, além de porta-malas similares, com tampa motorizada (no Commander Overland ela abre ao passar o pé debaixo do carro) e espaço enorme, com bem mais que 500 litros (embora os números oficiais difiram: a Chery mede até o teto, a Jeep até a linha dos vidros/cobertura).

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A segunda fila é corrediça em ambos. Eles escondem bem a cobertura do porta-malas – de capacidade similar. No Tiggo, cai a 193 litros com sete ocupantes

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No Commander Overland, couro claro: quem anda com crianças sabe como sujam. Com cinco ocupantes, o porta-malas é enorme. Com sete, tem 233 litros

E ambos têm compartimento para guardar a cobertura ao usar a terceira fileira. Elas servem apenas para crianças em ambos, mas são reclináveis e muito mais facilmente acessíveis no Jeep: além de a segunda fileira ser mais leve de abrir e deixar uma passagem maior, ainda é possível fazer a operação por ambos os lados, enquanto a do Tiggo só é acessada pela direita do SUV.

Jeep Commander vs. Caoa Chery Tiggo 8: ao volante

Se até aqui o Jeep Commander abriu vantagem, ao volante o Caoa Chery Tiggo 8 a diminui, mesmo que parcialmente. Principalmente na cidade, agrada por ser mais ágil, mesmo no modo Eco – na verdade, uma enganação, pois há Eco e Sport, mas não “normal” (que seria o Eco; no Sport, fica arisco). Já o Jeep tem o modo normal (bem “sossegado”) e o Sport (usei mais). Se potência e torque são quase idênticos, o motor de maior capacidade, o peso menor do Tiggo e a transmissão de dupla embreagem ajudam a explicar a vantagem (mas o câmbio automatizado dá trancos nas trocas, principalmente entre as três primeiras marchas).

Outro ponto positivo do Tiggo 8 apareceu no consumo urbano, que surpreendeu com 10 km/l – mas o PBEV indica 9,8 km/l, mesmo número do Commander, então não é bem uma vantagem. Com o Jeep, aferimos na prática só com etanol (7 km/l), mas aí está um ponto superior dele: ser flex, mesmo hoje o etanol não sendo nada vantajoso.

E se o Jeep é menos ágil na cidade, na estrada também sofre mais em retomadas e ultrapassagens, quando parece pesado (o Compass parece ser o “limite” do novo motor). Por outro lado, além da maior suavidade nas trocas de marcha, o Commander tem aletas para fazer as mudanças, úteis principalmente para intervenções pontuais em serras ou antes de curvas (no rival, elas são feitas apnas pela alavanca, e só após deslocá-la à esquerda). Outra vantagem do Jeep aparece no ruído do motor e vento na cabine, bem menor – e a 120 km/h, mesmo com uma marcha extra, o Tiggo indica as mesmas 2.100 rpm. Além disso, no consumo rodoviário, o Jeep foi melhor: no rival, não passamos da marca de 10,5 km/l com gasolina, embora o PBEV indique 12; no Commander, fizemos 9,2 km/l com etanol, ante os 8,3 oficiais.

Por fim, a dinâmica: nenhum deles tem pretensão esportiva, então as direções são lentas, compreensível dentro da proposta “família”. Nas suspensões, pela mesma razão, também não espere fazer curvas rápidas: não que ofereçam riscos, mas não encorajam abusos. O Jeep ainda tem vantagem das suspensões muito mais competentes em filtrar diferentes tipos de irregularidades e defeitos dos pisos, seja em ruas esburacadas ou na terra, e com uma atuação muito mais silenciosa, mesmo neste Overland com rodas aro 19. O Tiggo até que é macio, mas não cobre tão bem toda a gama de pisos e o trabalho do conjunto é mais ouvido na cabine; além disso, o ajuste faz a frente destracionar ao acelerar mais forte.Commander Tiggo

Commander Tiggo

Jeep Commander vs. Caoa Chery Tiggo 8: conclusão

Se a questão financeira é essencial, e você ainda faz questão do teto panorâmico – alguns consideram o item essencial, outros nem gostam – o Tiggo 8 pode ser a melhor escolha. Outra vantagem, como vimos, está na relação peso-potência, que garante discreta vantagem na agilidade das respostas. Mas, pagando só R$ 13 mil a mais, o Jeep Commander Limited já anda bem, tem peças e manutenção mais baratas e mais praticidade tanto no uso das tecnologias – da central multimídia aos sistemas semiautônomos, que oferece em maior número, passando pelo cluster digital – quanto no acesso aos bancos extras e o espaço nas fileiras traseiras. E ainda tem a cabine mais personalizável, bela e original. Acabou a vida fácil do Tiggo 8: o vencedor aqui, sem dúvida, é o Jeep Commander.Commander Tiggo

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