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Na mesma toada do Nissan Sentra, do Chevrolet Cruze e do Honda Civic, o Volkswagen Jetta também aparece no mercado brasileiro com uma nova geração. O único dos carros expressivos que não mudou na categoria de sedãs médios é o Toyota Corolla. Mesmo assim, continua disparado na liderança. Por isso, a própria Volkswagen nem perdeu tempo em imaginar que possa desbancar o Corolla e centrou seu ataque no vice-líder, o Civic. Nessa disputa peculiar entre um carro alemão e um carro japonês, escolhemos a versão mais barata do Jetta (Comfortline) e a mais cara entre os Civic equipados com motor 2.0. Por um motivo: o Volks custa R$ 109.990 e o Honda sai por R$ 107.900 (ou R$ 109.400 completo).

Ambos têm uma versão topo de linha com motor turbo: Jetta R-Line (R$ 119.990) e Civic Touring (R$ 126.600). A disputa na casa dos R$ 110 mil, porém, atinge mais consumidores e permite diferentes comparações. Para começo de conversa, o Jetta Comfortline 250 TSI utiliza o mesmo motor 1.4 turbo da versão R-Line. Já o Civic EXL vem com o motor 2.0 aspirado que equipa outras versões mais baratas. Nesse aspecto, se o Jetta tem a vantagem da tecnologia, o Civic é mais competitivo em preço, pois o consumidor encontra mais duas versões com câmbio automático (EX por R$ 101.400 e Sport por R$ 97.900) e uma configuração com transmissão manual (Sport por R$ 90.900). Só pela maior faixa de preço, fica claro que o Honda Civic não entregará o segundo lugar desse nicho tão facilmente. Todavia, a comparação pode nos trazer surpresas.

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A sétima geração do Jetta é fabricada no México e ganhou um aspecto visual que remete ao Passat, seu irmão maior na linha Volkswagen. Ele ganhou 6 cm e ficou um pouco maior que os japoneses Civic e Corolla (2 cm). Com a plataforma MQB, ele também ganhou 3,5 cm na distância entre-eixos para melhorar o conforto dos passageiros de trás. E visualmente adotou a frente que deverá ser utilizada também pelo novo Passat e outros carros da marca. Uma curiosidade do Jetta é que o balanço (distância entre o centro da roda e o para-choque) ficou mais curto na dianteira e mais longo na traseira. Dependendo do ângulo que se olha, o carro tem um aspecto meio estranho. O Civic da décima geração é produzido em Sumaré (SP), já é bastante conhecido do público brasileiro e ganhou todos os prêmios de sedã dos últimos dois anos. Além de um comportamento dinâmico impecável, o carro tem a traseira extremamente ousada e parece mais um cupê do que um sedã. Bonito é, mas muitos consumidores ainda acham essa traseira exagerada para um carro familiar.

A maior diferença entre o novo Jetta Comfortline e o Civic EXL está na motorização. E é o tipo de coisa que acaba influenciando em muita coisa. Ambos são flex. Mas enquanto o motor do Jetta é um 1.4 turbo com injeção direta (TSI), o do Civic é um 2.0 aspirado com injeção multiponto. Claro que o motor da Volks é mais moderno. Tanto que a diferença de potência entre eles é de apenas 5 cv a favor do Civic, cuja capacidade volumétrica é 30% maior. A tecnologia embutida em cada bloco também faz diferença: os 150 cv do Jetta surgem a 5.000 rpm, enquanto os 155 cv do Civic são entregues a 6.300 giros. Portanto, é muito mais fácil (e menos barulhento) utilizar a potência total do Jetta 1.4 do que a do Civic 2.0. Faz tempo que cilindrada deixou de ser um fator determinante para a cavalaria – e uma comparação da potência específica dos dois motores mostra a absurda distância que a Volks tomou nessa disputa: são 107,5 cv/litro no Jetta contra esquálidos 77,6 cv/litro no Civic (que, não custa repetir, também pode vir com um motor mais eficiente, porém ao custo de R$ 126.600).

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Rodando em médias e altas velocidades, os dois carros são muito bons. O volante do Civic é um pouco mais pesado, enquanto o Jetta passa a sensação de ser um carro leve. Os dois carros fazem ultrapassagens rápidas e seguras, mas os 5 cavalos a mais e a carroceria em forma de cupê não são suficientes para levar o Honda a alcançar maior velocidade máxima: ela chega a 195 km/h, contra 210 do Volkswagen. Mas quem quer atingir a máxima num carro familiar, especialmente quando a família está a bordo? Por isso, mais importante nessa questão do motor é o torque. E nesse ponto o Jetta dá um banho. Seus 25,2 kgfm surgem a apenas 1.400 rpm, enquanto o Civic precisa girar o motor a 4.800 rpm para entregar bem menos torque: 19,5 kgfm. O torque específico do Jetta é praticamente o dobro: 18,3 kgfm/litro contra 9,7 do carro japonês.

Em consumo, o Jetta também leva vantagem em todas as situações, segundos os testes do Inmetro (veja na ficha técnica). Mas o Civic não fica longe, pois conta com um sistema de transmissão claramente voltado para a economia. Ele usa um câmbio automático do tipo CVT (com conversor de torque e relações continuamente variáveis), que proporciona um ronco muito monótono quando o motorista não usa as borboletas para “trocar as marchas”. Já a caixa automática do Volkswagen Jetta (que também usa conversor de torque) tem seis velocidades reais e permite um uso mais esportivo. Aliás, são quatro os modos de condução do Jetta (Normal, Sport, Eco e Individual). O Civic tem o botão Eco (que deixa o carro muito amarrado) e a posição Sport na alavanca de câmbio. Ambos têm ótima posição de dirigir, com ajustes de altura do banco e de altura/profundidade da coluna de direção, mas o volante de aro grosso do Civic é mais agradável para a condução.

Quanto ao passageiro da frente, tanto no Jetta Comfortline quanto no Civic EXL ele fica sem a opção de regular a altura do banco. E nesse ponto o Jetta passa a sensação de ser mais “afundado” no habitáculo, por ter o painel elevado, o que desagrada a maioria dos consumidores hoje em dia. A vida a bordo do Jetta, porém, é mais interessante. Para começo de conversa, ele tem a opção de vir com o maior teto solar da categoria (custa R$ 4.990). O capricho da Volks na textura dos materiais salta aos olhos mesmo em comparação com o Civic, também muito bom. Dentro do Jetta, a sensação é de estar a bordo de um carro superior.

Seu sistema multimídia também é mais simples, com design suave e comandos intuitivos. O Civic tem praticamente as mesmas tecnologias, mas não a mesma praticidade (tanto que na linha 2020 a central multimídia deve ganhar um botão). O fato de ter todos os comandos multimídia táteis, sem botões exceto os do volante, cria dificuldades dentro do Civic. Finalmente, a leitura dos instrumentos também é mais agradável no Volks, mesmo nessa versão sem o belíssimo cluster digital da Highline. Os dois carros são generosos na oferta de porta-objetos e de espaço traseiro e na capacidade do porta-malas, ambos com mais de 500 litros (os 9 litros a mais do Civic são irrisórios).

Se para os passageiros os dois sedãs se equivalem, para o motorista o Jetta é daqueles carros que deixam mais saudade. A suspensão traseira do Civic é independente e dá mais estabilidade ao carro em altas velocidades, além de filtrar com maior eficiência as irregularidades do piso para quem senta no banco de trás. Porém, o Jetta é bem mais ágil e se torna particularmente empolgante no modo Sport, mesmo usando eixo de torção na suspensão traseira. Ao contrário das gerações anteriores do Jetta, nessa a Volkswagen cedeu um pouco na questão do conforto, deixando o carro com um rodar mais macio.

Como carro, o Jetta Comfortline leva vantagem sobre o Civic EXL por causa da maior eficiência do motor 1.4 turbo em relação ao 2.0 aspirado. Mas a vida não é só prazer – tem horas que também é preciso fazer contas. É nesse ponto que a Honda dá o troco. Para além de ter outras opções mais em conta em sua linha, o Civic tem um gasto de manutenção menor. A diferença de custos de revisão até 30.000 km é apenas R$ 181, mas quando comparamos algumas peças o sedã da Honda vence por cerca de R$ 9 mil. O farol de um Jetta custa R$ 4.200 (quase três vezes a mais que o do Civic) e uma roda sai por R$ 1.900 (quase o dobro do que custa a do Honda), entre outros itens. A fama de confiabilidade dos sedãs japoneses também é maior e isso acaba sendo valorizado na hora da revenda.

Mesmo assim, na disputa entre essas duas versões na faixa dos R$ 110 mil, nossa recomendação é pela compra do Jetta. A diferença a mais é de uns R$ 2 mil, mas sua vantagem em pontos chave – como motor e conectividade – é tão evidente que justifica o investimento.