Um esportivo amigável ou um esportivo raiz? Turbo ou aspirado? Seja qual for o seu gosto, estes VW Polo GTS e Renault Sandero R.S. são os dois únicos hot hatches feitos hoje no Brasil. Eles fazem brilhar os olhos de quem, anos atrás, era instigado por modelos como Ford Fiesta Sport e Ka XR, Fiat Punto T-Jet e 500 Abarth, DS3, VW Golf GTI, Peugeot 208 GT, Suzuki Swift Sport e tantos outros.

Para ver qual é melhor deles, e como muitos donos participam de track days, levamos os dois para ruas e estradas, e também para o traçado de 1.150 m do Kartódromo da Granja Viana, em Cotia (SP), onde fizemos as fotos deste comparativo.

POR FORA

O visual do Polo GTS busca clara inspiração na configuração GTI europeia, exibindo a grade do radiador tipo colmeia e com detalhes em vermelho invadindo os faróis full-LED, além de rodas com desenho de “ventilador”, saias laterais, spoiler no teto, capas dos retrovisores pintadas de preto, dupla saída de escape (também presentes no Sandero R.S.), lanternas de LED e logotipos alusivos à versão espalhados pela carroceria.

Já o Sandero R.S. usou como referência os modelos R.S. do Velho Continente. A linha 2020 trouxe belíssimas novas rodas, apliques Renault Sport na carroceria e uma simpática bandeirinha da França nas laterais, além de lanternas de LED escurecidas e emblemas alusivos à divisão esportiva.

POR DENTRO

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Ao abrir a porta, o acabamento do Polo GTS é superior. O Volks tem melhores materiais, detalhes em vermelho (também encontrados no Renault), multimídia Discover Media com tela tátil de 8” (7” no Sandero R.S.) e funções como mostradores de desempenho e contador/marcador de tempo. Ambos oferecem conectividade com Android Auto e Apple CarPlay.

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Enquanto isso, o Sandero R.S. não esconde os seus laços com outras configurações da família, exibindo muitos plásticos duros no painel e nas portas, mas com um acabamento imitando fibra de carbono. Alguns comandos não ficam muito bem posicionados, como os controles elétricos dos retrovisores e da abertura do porta-malas (e o comando satélite, que continua instalado na coluna de direção). A grande atração da sua cabine são os bancos esportivos com abas laterais pronunciadas – mas o assento menor frente ao do Polo GTS cansa o motorista em trajetos longos.

PIMENTA A GOSTO

O esportivo da Volkswagen adota a plataforma modular MQB, enquanto o Renault segue sobre a base B0. Ambos mostram modificações distintas em relação às versões normais para ficarem mais “apimentados”. O Polo GTS vai pelo caminho do downsizing, com motor 1.4 turbo que usa injeção direta (EA211) – do T-Cross, do Jetta e do Tiguan, mas com calibração específica.

Enquanto isso, o Sandero R.S. usa a mecânica aspirada com o 2.0 (F4R) dos Duster de geração anterior e do Captur. Mas ele é “envenenado”, com coletor de admissão 20% mais largo e duto reposicionado para resfriar melhor o ar, nova programação da central eletrônica e sistema de exaustão 5 mm maior, dotado de um abafador esportivo.

Os dois tem os mesmos 150 cv, mas o Volks pesa 1.214 kg e tem uma relação peso-potência de 8,09 kg/cv, ao passo que o Renault pesa 1.181 kg e chega a 7,87 kg/cv. Mas, indo além dos números, na experiência ao volante sem dúvida é o Sandero R.S. que entrega a dirigibilidade mais irresistível. Vamos lá.

O Polo GTS despeja seu potencial mais cedo, pois o casamento do motor “turbão” com o câmbio automático de seis marchas (AQ250-F) garante acelerações espertas e boas retomadas em baixas e médias rotações, apesar do discreto turbo lag (atraso antes de o turbocompressor encher).

Ele oferece modos de condução Eco, Normal, Sport e Individual, capazes de alterar determinados parâmetros, como respostas ao pedal do acelerador, tempo de trocas de marchas, rigidez da direção e funcionamento do ar-condicionado. E mostra seu lado mais rápido no Sport, com a condução embalada pelo som de escape emulado (já encontrado no Jetta GLI). As marchas são passadas em giros elevados e as trocas sequenciais podem ser feitas pelas aletas no volante ou pela alavanca.

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Do outro lado, o motor 2.0 do Renault anda grande parte do tempo “cheio” e dispara sempre com vontade, seja em baixos, médios ou altos giros. Pede, entretanto, mudanças constantes de marchas – e o pedal de embreagem não leve, sacrificando bem o conforto do motorista no trânsito. Com as relações curtinhas, é marcha sobre marcha – e a sexta não é overdrive, mas sim focada em ajudar no desempenho! A direção tem assistência eletro-hidráulica (elétrica no Polo GTS), com um feeling mais direto, e ainda copia melhor o piso, apesar de ser mais pesada ao esterço e de enviar as irregularidades diretamente às mãos do condutor.

Para se ajustar ao ímpeto do motorista, o Sandero R.S. tem a tecla “R.S. Drive”, com os programas Normal e Sport, que deixa a direção mais pesada e as rotações mais elevadas, entregando respostas sensivelmente mais brutas. Ao pressionar por mais tempo este botão, é ativado o modo Sport+, que desliga o controle de tração e estabilidade. Diferentemente da sonoridade emulada do Polo GTS, o ronco provocativo do Sandero R.S. é totalmente natural, fruto do trabalho no sistema de exaustão do motor.

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NA RETA, E TAMBÉM NA CURVA

Um dos principais “culpados” pela dinâmica afiada do Sandero R.S. é o conjunto muito bem acertado pela divisão Renault Sport. As suspensões têm molas mais rígidas (92% na frente e 10% atrás), buchas de poliuretano e barras estabilizadoras enrijecidas (17% na dianteira e 65% atrás). Enquanto isso, o Polo GTS é ajustado com molas e amortecedores mais firmes que na sua versão normal, além de ter uma barra estabilizadora 1 mm mais grossa na frente (total de 21 mm), eixo de torção traseiro mais rígido e diferencial eletrônico XDS+. Mas as mudanças não são tão sensíveis quanto no rival.

Controle de carroceria e equilíbrio são melhores no Sandero, com a condução beneficiada por ótimos pneus Michelin Pilot Sport 4 (antes exclusivos da série Racing Spirit). Já o Polo usa o Pirelli Cinturato P7. Por conta das suspensões “travadas”, a carroceria do R.S não rola nada nas curvas, fazendo a alegria do “piloto” – mas deixam o carro desconfortável para trafegar por ruas esburacadas (não há almoço grátis).

Vale acrescentar que o Sandero esportivo também é mais baixo que seu rival: o vão livre do solo é de 11,4 cm, contra 14,9 cm no Polo. Os dois usam rodas de 17”, mas uma novidade da linha 2021 do Polo GTS está nas “redondas” de 18” cobradas à parte por R$ 1.470. Já na hora de parar, o Polo GTS possui discos frontais de 276 mm contra 280 mm no Sandero R.S. O acionamento do pedal é mais progressivo no Volkswagen, ao passo que a posição dos pedais do Sandero R.S. favorece o punta-taco (ato de acionar o freio e o acelerador ao mesmo tempo com o pé direito para ganhar tempo no contorno das curvas).

CONCLUSÃO

Antes de anunciar o vencedor da disputa de Polo GTS e Sandero R.S., precisamos agradecer aos dois fabricantes por ainda apostarem em um segmento escasso, ajudando a corrigir a falta de esportivos de verdade – e que sejam acessíveis ao consumidor – em nosso mercado. Falando em preço, o Volks resgata a áurea sigla GTS do passado, aplicada no Gol e no Passat, mas cobra por ela salgados R$ 106.390, contra R$ 77.490 do Renault. São quase R$ 30.000 de diferença! Devemos considerar que o Volks oferece uma lista de equipamentos mais recheada, mas, para quem busca relação custo-benefício (ou diversão benefício)…

Independentemente dos preços, o Polo GTS leva vantagem pela maior conforto e versatilidade para um uso cotidiano e por ser mais moderno e tecnológico. Enquanto isso, o Sandero R.S. é um esportivo “raiz”, com mais alma, motor aspirado, um bom câmbio manual de seis marchas (muitos acham que espeortivo que se preze é sempre manual) e suspensões bem mais firmes, que resultam em uma dinâmica e uma estabilidade para lá de elogiáveis – e uma dirigibilidade irresistível, superior à do rival em termos de esportividade.

No fim, como carro de uso diário com um belo toque apimentado, o Polo leva vantagem, e por isso ganhou – embora por pouco – nas nossas notas “padrão”. Mas, quem curte adrenalina nas veias não precisa seguir dentro de um padrão – e, enquanto esportivo, o vencedor é o Sandero. Eles podem ser esportivos “para todos”, mas a escolha é sua.