15/08/2020 - 8:00
Chevrolet Tracker e Volkswagen T-Cross. Dois utilitários esportivos tentadores que têm atraído olhares dos consumidores. O primeiro é a sensação do momento e debutou neste ano, em meio à pandemia, com uma lista de equipamentos de série capaz de fazer inveja tanto ao Volks quanto aos demais rivais do segmento. O segundo acaba de chegar à linha 2021.
Posicionados na mesma faixa de preços nas configurações top de linha avaliadas, ambos têm lutado pela liderança do segmento de SUVs com o antes imbatível Jeep Renegade. Neste ano, o Volkswagen T-Cross chegou à liderança em fevereiro, enquanto o Chevrolet Tracker, que foi lançado em março, vendeu mais em abril e maio. Em junho e em julho, o T-Cross ficou novamente em primeiro, e o Tracker, em terceiro e segundo, respectivamente. A briga é boa, e pode valer a liderança do mercado total – que as duas marcas também disputam. Mas qual dos dois oferece mais por menos?
O novo Chevrolet Tracker é construído na plataforma GEM (Global Emerging Markets), compartilhada com Onix e Onix Plus, enquanto o T-Cross utiliza a variante A0 da base MQB – do trio Virtus/Polo/Nivus.
DESIGN
Bem distintos visualmente, o Volkswagen tem estilo mais clean, com linhas técnicas e retas, enquanto o Tracker tem design bem vincado, elementos cromados e um olhar com faróis afilados. E o que parece ser luzes de neblina, na verdade, são setas. Um local suscetível a eventuais “braçadas” do motorista –assim como a tampa do porta-malas, que pode amassar em leves colisões. Questão de estilo, e não se pode ter tudo, não é verdade?
Lado a lado, o Tracker é maior no comprimento (7,1 cm) na largura (3,1 cm) e também na altura (5,6 cm). Mas é quem viaja atrás no T-Cross que encontra saídas de ar, duas entradas USB (que o Tracker também tem) e mais espaço para as pernas e joelhos, por conta dos 2,651 m de entre-eixos, contra apenas 2,570 m do oponente.
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CABINE E CONTEÚDO
Ambos dão um show à parte em ergonomia, com colunas de direção ajustáveis em altura e profundidade e comandos bem à mão, mas a qualidade dos materiais e dos acabamentos – acredite –é melhor no Volks. E a posição de dirigir é mais baixa nele, que ainda transmite uma melhor visibilidade dianteira/traseira e tem o atraente quadro de instrumentos Active Info Display de 12,3”, totalmente digital e configurável de série nas versões mais caras.
Já o cluster do Tracker é convencional, com velocímetro e conta-giros analógicos e a tela central colorida do computador de bordo.
O T-Cross tem cluster digital de série nesta versão, além da central VW Play, novidade da linha 2021 em todas as versões (chegou depois de nossas fotos, mas é a mesma do Nivus). Os dois tem ar-condicionado automático. O botão de partida do Volks fica junto da alavanca de câmbio
Volkswagen T-Cross e Chevrolet Tracker têm excelentes centrais multimídia com Android Auto e Apple CarPlay. A do Tracker tem a tela “flutuante”, enquanto a do T-Cross é mais integrada ao painel, garantindo um visual mais limpo ao habitáculo. Apenas o Tracker tem wi-fi embarcado, mas é preciso pagar um plano de dados separado para usá-lo.
Enquanto isso, após fazermos nossas fotos, o T-Cross chegou à linha 2021 e ganhou, em todas as versões, a central Volkswagen Play que estreou no Nivus (leia aqui). Diferentemente do sistema do Tracker, ela precisa usar o celular do motorista (ou de um passageiro) como roteador para acessar a internet e o Waze “nativo” e outros apps poderem funcionar. O fato é que, na prática, nenhuma delas traz vantagem tão significativa – depende muito do uso.
O Tracker tem central multimídia mais no campo de visão e usa de texturas no painel para disfarçar o excesso de plástico. Abaixo, o carregador de celular sem fio, no console à frente da alavanca de câmbio. Ao lado, a alavanca de câmbio: as trocas manuais são feitas apenas por um nada prático botão na lateral dela
O Chevrolet Tracker Premier também tem de série carregamento de celular por indução, alerta de pontos cegos, park assist e teto solar panorâmico. Este dois último é cobrado à parte pela Volks no pacote Sky View (R$ 5.070), e os faróis de LED (de fábrica no Tracker Premier) fazem parte do pacote Tech & Beats no T-Cross (R$ 6.350) – que ainda adiciona o assistente de estacionamento e o poderoso sistema de áudio da Beats com subwoofer. Quando “completão”, o SUV da Volkswagen vai a R$ 134.020, incluindo aí a pintura bitom (R$ 2.000). É quase o valor de um Tiguan Allspace 250 TSI (R$ 140.490), e praticamente o mesmo preço de um Chevrolet Equinox (R$ 135.190 iniciais).
Quem viaja atrás tem mais conforto no T-Cross, com mais espaço para as pernas e saídas de ar-condicionado dedicadas. Os bancos dianteiros são bem equivalentes em conforto
PORTA-MALAS
Já no duelo de porta-malas, o Tracker pode acomodar 357 litros de bagagem, ante os 373 do T-Cross. O assoalho do compartimento de bagagens do Chevrolet é modulável, permitindo expandir em 36 litros (totalizando 393). O T-Cross também tem artimanhas para acomodar mais bagagens: o encosto do banco traseiro pode ser levado à frente para crescer a capacidade em 420 litros, mas fica mais incômodo viajar no banco traseiro.
Os porta-malas têm 357 litros no Tracker e 373 no T-Cross. Usando o espaço abaixo do assoalho, o Tracker vai a 393 litros; o T-Cross vai a 420 mudando a inclinação do encosto do banco traseiro
EMOÇÃO AO VOLANTE?
Se no passado o Tracker já teve motores aspirados 1.8 16V Ecotec de até 144 cv e 18,9 kgfm (etanol), além do 1.4 16V turbo (também da família Ecotec) de até 153 cv de potência e 24,5 kgfm de torque, agora ele esconde sob seu capô um novo três cilindros 1.2 turbinado capaz de entregar 133 cv e 21,4 kgfm rodando no etanol.
Sob o capô do T-Cross fica o quatro cilindros 1.4 16V também com turbo (o mesmo usado pelo Virtus GTS) e injeção direta (indireta no Tracker Premier). São até 150 cv e 25,5 kgfm. A relação peso-potência do Tracker é de bons 9,56 kg/cv,e sua potência específica, de 110,93 cv/litro. Enquanto isso, no Volks são 8,61 kg/cv e 107,53 cv/litro. Os 21 kg a mais do T-Cross na balança acabam sendo bem compensados pelos 17 cv e 4,1 kgfm extras em relação ao rival.
Assim, é o T-Cross que transmite respostas mais afiadas, auxiliadas pelo bom trabalho do seu câmbio automático de seis marchas. Além disso, ele permite trocas sequenciais tanto pela alavanca quanto pelas borboletas junto ao volante – no Tracker, as mudanças manuais são realizadas apenas na posição “L” e por um nada prático botão na lateral da alavanca de câmbio.
O desempenho do T-Cross é entregue mais cedo, e ele mostra uma maior disposição para acelerar. E ainda possui o seletor de modos de condução com os programas ECO, Normal, Sport e Individual. Eles alteram alguns parâmetros, como as respostas do motor, do câmbio, da direção e até o funcionamento do ar-condicionado. O tanque de combustível de 44 litros do Tracker Premier é oito litros menor que do T-Cross (52 litros), o que dá uma bela diferença na autonomia.
DINÂMICA
As suspensões do T-Cross são mais firmes e ele ainda tem bloqueio eletrônico do diferencial. É um SUV com comportamento quase de hatch médio em curvas, transmitindo menor rolagem de carroceria. Essa dinâmica apurada cobra o seu preço ao trafegar pelos nossos asfaltos lunares, pois o conjunto do Tracker filtra e absorve melhor as irregularidades do piso. Em compensação, o vão livre do Chevrolet é de 15,7 cm, contra 19,1 cm do Volkswagen.
Uma desvantagem do Tracker perante ao rival está nos freios a disco apenas no eixo dianteiro, ao passo que no Volkswagen T-Cross são nas quatro rodas. Mesmo assim, o Tracker traz o alerta de colisão com frenagem de emergência e o já citado alerta de ponto cegos. Ainda falando em itens de segurança, o T-Cross inclui o alerta de fadiga para o motorista e o sistema de frenagem automática pós-colisão para evitar uma segunda batida.
Na ponta do lápis
É uma briga boa, e o resultado foi um empate técnico entre Volkswagen T-Cross e Chevrolet Tracker. No entanto, pelo custo/benefício o Chevrolet Tracker sai vencedor do comparativo. Principalmente pela lista de equipamentos de série desta versão Premier, com muitos itens de conforto, comodidade e segurança – alguns deles cobrados à parte no Volkswagen.
A diferença de preço do T-Cross Highline “completão” para o Tracker Premier passa de R$ 15 mil. Além disso, o Chevrolet também tem um menor custo da cesta básica de peças.
Agora, se dinheiro não é problema, fique com o T-Cross. Jogam a favor dele as três primeiras revisões gratuitas, enquanto no caso do Tracker será preciso desembolsar no mínimo R$ 1.392 nos primeiros 30 mil quilômetros. Com dinâmica mais afiada, o T-Cross ainda tem atrativos como o painel digital e o desempenho superior. Mas o Chevrolet não está para brincadeira, e ambos têm potencial para assumir a liderança entre os SUVs.