Todas as desvantagens de uma motocicleta com todas as desvantagens de um automóvel. Assim muitos definem um triciclo. Inclusive eu. Ou melhor, definia. Depois de experimentar o Can-Am Spyder, triciclo de proposta inédita produzido pela BRP (Bombardier Recreational Products), estou revendo meus conceitos a respeito desse tipo de veículo.

CAN-AM SPYDER R$ 73.770

Historicamente, todas as tentativas de fazer de um triciclo um veículo prático e seguro falharam. Os pequenos ATVs dos anos 70 foram banidos da indústria por causarem muitos acidentes fatais, e os grandes triciclos feitos a partir de automóveis também mostraram problemas de dirigibilidade.

Em comum, esses brinquedos tinham uma roda dianteira e duas traseiras. No Can-Am Spyder, como se vê, são duas rodas dianteiras e uma traseira, o que, dinamicamente, lhe confere estabilidade infinitamente superior. Basta ver os exemplos da indústria: o Morgan de três rodas foi um sucesso em sua época, com duas rodas dianteiras, diferentemente do Bond ou do Reliant Regal (aquele que Mr. Bean sempre faz capotar), que têm apenas uma roda na frente.

Do ponto de vista mecânico, o Spyder é uma belíssima máquina: motor V2 refrigerado a água de 998 cm3, com 106 cv e 10,6 kgfm, câmbio de cinco velocidades, acionado pelo pé esquerdo, com embreagem no manete esquerdo, suspensão dianteira com controle eletrônico de estabilidade, freios com ABS acionados exclusivamente pelo pé direito e sistema de direção servo-assistida. Esteticamente, é também uma bela máquina. Seu visual é harmonioso, apesar da deformidade dianteira, e agressivo. E o acabamento é de primeira.

Acima, a posição de pilotagem, idêntica à de uma moto. No painel, contagiros e velocímetro digital. O triciclo conta ainda com marcha à ré, porta-objeto e pisca no retrovisor

Mas o mais interessante ainda está por vir. Sentado ao guidão, a posição de pilotagem é idêntica à de uma motocicleta estradeira. Bastante confortável, por sinal. Acionando o botão de partida, o ronco do V2 impressiona. Embreagem, primeira engatada, parece mesmo uma motocicleta. Ah, não esqueça de soltar o freio de estacionamento, com o pé esquerdo!

O acelerador é igual ao das motos, e não como o dos jet-skis. Isso complica um pouco ao fazer curvas. Com o motor ligado, o guidão é muito leve, graças à ajuda de um servo-motor elétrico. As diferenças em relação a uma moto se acentuam em curvas, quando se deve fazer o jogo de corpo para compensar o efeito centrífugo, e em pavimentos irregulares, quando as suspensões dianteiras trabalham independentemente. Ao parar, basta desligar o motor e acionar o freio de estacionamento. Se precisar, tem marcha à ré.

O Can-Am Spyder já está disponível no Brasil e custa R$ 73.770. Não substitui nem o automóvel nem a motocicleta, mas, contrariando minhas expectativas iniciais, é uma superdiversão.