Alvo de críticas na geração anterior, o habitáculo do novo 300 está mais bemacabado e tem muitos itens de conforto

grande mudança no design desta nova geração do Chrysler 300C – que MOTOR SHOW avaliou na Califórnia e chega ao Brasil no segundo semestre – é apenas um agravante na crise de identidade do modelo americano que utiliza plataforma de origem alemã da Mercedes e é fabricado no Canadá, sob a batuta da italiana Fiat (para entender melhor essa história, leia quadro na página 54). Apesar disso, as mudanças foram para mlehor. O 300C, que nasceu em 2005, era uma reinterpretação de um clássico dos anos 1950 – daí suas linhas “retrô” (confira as fotos do modelo antigo nas próximas páginas). Já o que chega agora ficou menos quadrado e mais refinado, perdendo a imponente grade frontal tipo “grelha” e, com isso, abrindo mão de parte de sua marca visual. A redução da grade e novos retrovisores ajudaram a melhorar a aerodinâmica, assim como o para-brisa agora mais inclinado. Na lateral, mal se notam mudanças, enquanto a traseira ganhou novas lanternas e saídas de escape. Claro que a grade frontal e os novos faróis não foram as únicas mudanças. Na verdade, apesar de manter a mesma plataforma, apenas aprimorada, o sedã é quase novo. Inclusive no nome: as versões com motor V6 agora se chamam apenas 300 ou 300 Limited. O nome antigo fica para os V8. Com tração traseira, 300C (fotos). Com integral, 300C AWD.

Se o exterior mostra um novo carro, mas ainda com muito do anterior – como as enormes caixas de roda e a linha de cintura alta -, no interior, alvo de críticas, a evolução foi maior. Os materiais estão mais refinados, as superfícies ficaram mais macias, o isolamento acústico melhorou e o painel foi inclinado para a frente, ampliando a sensação de espaço. A lista de equipamentos também foi aprimorada: entre os inúmeros novos itens de série e opcionais, há faróis com LEDs direcionais, monitor de ponto cego (com um conveniente – mas às vezes irritante – alerta sonoro quando a seta está acionada), portacopos que mantém as bebidas quentes ou frias, volante e pedais com ajuste elétrico, teto-solar panorâmico, piloto automático adaptativo, iluminação interna com LEDs e partida sem chave.

Também novo é o sistema multimídia, um dos melhores da atualidade. Com tela sensível ao toque e fácil de operar, tem comandos por voz e conectividade total, além de controlar desde o ar-condicionado até o aquecimento dos bancos, passando pelo GPS e um sistema de previsão do tempo e outras informações em tempo real (transmitidas pela rádio via satélite dos EUA).

Debaixo do capô, o antigo V6 de 249 cv deu lugar ao mais novo e econômico V6 Pentastar. Com comando variável e capaz de usar gasolina pura ou com até 85% de etanol (o chamado E85), ele gera 292 cv e movimenta bem o enorme sedã. As saídas são rápidas, graças ao acerto que deixou a primeira marcha reduzida, e o motor responde bem em quase todas as rotações, mas com um pequeno atraso em relação aos comandos do acelerador – culpa da transmissão automática convencional, com conversor de torque, e de apenas cinco marchas (com trocas sequenciais somente na alavanca).

No meio do deserto, próximo à fronteira do México e longe dos quase onipresentes policiais norte-americanos, algumas retas e uma sequência de curvas rápidas foram suficientes para comprovar o bom acerto das suspensões. Para um carro de quase cinco metros, o 300 tem uma estabilidade excepcional. O sistema de direção, apesar de agora ter assistência elétrica, ainda tem uma calibração adequada, com o peso correto e sem desconectar o motorista do asfalto. O novo V6 é tão bom que achei que o V8 seria desnecessário. Ainda no deserto, troquei o 300 pelo 300C. Para a proposta sedã de luxo, o Hemi de 363 cv é de fato exagerado. Para quem gosta de acelerar, proporciona uma diversão adicional. Depois, ainda dirigi o 300C AWD: ele é mais pesado e na mão (ou seja, mais seguro). E m contrapartida, o motorista perde a sensação do eixo traseiro empurrando a carroceria, que é um dos fatores que garantem diversão nesse modelo. Ou seja, a versão top 4×4 não se justifica. A não ser que vá utilizá-la na neve.

Não adianta procurar este novo modelo, e nem o antigo, nas concessionárias brasileiras. Hoje, só é possível comprar aqui a versão superesportiva SRT8 com a carroceria antiga, pois os estoques das demais configurações já acabaram. Esta nova geração chega no segundo semestre e, em princípio, apenas na versão V6, por cerca de R$ 130 mil.

O novo 300 será um concorrente difícil tanto para carros de porte e preços equivalentes (Chevrolet Omega, Toyota Camry e Honda Accord) quanto para menores na mesma faixa de preço (como Mercedes Classe C e BMW Série 3, por exemplo). Em meio a uma enorme crise de identidade, até que o Chrysler 300 se saiu bem. Está mais europeu, menos chamativo e mais refinado – ainda não tanto quanto um Mercedes Classe E ou um BMW Série 5. Detalhe: esses alemães custam mais que o dobro de seu preço, é sempre bom lembrar. O que diminui um pouco sua responsabilidade.

A traseira revela as maiores alterações visuais. O para-choque, as lanternas (com LEDs), as ponteiras e a tampa do porta-malas são novos

O interior ficou mais refinado e o sistema multimídia é o melhor já avaliado por MOTOR SHOW. Em sua tela, o motorista recebe previsão do tempo e pode controlar todos os itens de conforto

O ANTIGO

O modelo antigo era inspirado nos clássicos dos anos 50, daí sua carroceria retrô e mais agressiva

A COMPLICADA VIDA DA

Em 1998, a americana Chrysler (grupo que inclui as marcas Dodge e Jeep) fez uma parceria com a alemã Daimler (dona da Mercedes). Depois, foi incorporada pelo grupo europeu até que, em 2007, o casamento acabou. O 300C é filho dessa união fracassada e, por isso, sua plataforma tem componentes dos Mercedes Classe E (suspensão traseira, ESP, câmbio, diferencial traseiro e coluna de direção) e Classe S (suspensão dianteira). A grande crise econômica americana, que quase quebrou a GM, fez a Chrysler também chegar perto da falência, até que a marca fez uma nova parceria – com a italiana Fiat. Hoje, é a italiana quem paga as dívidas da Chrysler. Quando acabar de quitá-las (não falta muito), poderá controlar 51% da marca. Hoje, a ação da Fiat sobre o grupo Chrysler está clara: o 300 chegará à Europa como Lancia (fotos na seção MotorNews). Ainda nesta edição, confira o Dodge Journey com logotipo Fiat (chamado Freemont) e o 500 que já está à venda nos EUA.

Chrysler 300C

/ MOTOR quatro cilindros em linha, 2.0 litros, 16V, comando de válvulas variável/ TRANSMISSÃO automática, quatro marchas, tração traseira/DIMENSÕES comp.: 4,69 m – larg.:1,81 m – alt.: 1,52 m/ENTRE-EIXOS 2,710 m /PORTA-MALAS 481 litros/PNEUS 225/45 R17/PESO 1.527 kg GASOLINA/POTÊNCIA 143 cv a 6.000 rpm/ TORQUE 20 kgfm de 4.000 rpm / VELOCIDADE MÁXIMA 208 km/h/ 0-100km/h 11,9 segundos/ CONSUMO não disponível/ CONSUMO REAL n ã o d i s p o n í v e l ETANOL /POTÊNCIA 151 cv a 6.000 rpm/TORQUE 22 kgfm a 4.000 rpm/ VELOCIDADE MÁXIMA 208 km/h /0 – 100 km/h 11,9 segundos/CONSUMO não disponível /CONSUMO REAL não disponível