“A água subiu até a metade dos bancos”

Lucas Spolidoro, dono de um 206

A temporada de chuvas costuma se encerrar no fim de março, com a chegada do outono. Assim, não precisamos mais nos preocupar com as enchentes que prejudicam nossos carros, certo? Em parte. Os carros não deverão mais sofrer com os alagamentos, porém, aqueles que afundaram nas águas estão por aí… Recuperados, ajeitados e, provavelmente, expostos em uma loja de usados, à espera de um novo dono que desconheça seu passado. E você, sem saber, pode levar o mico para casa.

E o que fazer para não cair em uma roubada como essa? Primeiramente, devemos saber os tipos de problema que a enchente pode trazer ao carro. O primeiro caso é quando a água vai apenas até metade da roda. Esse é o menor dano possível. “Como a água tirou a graxa, terá que trocar o rolamento da roda, pois ele começa a fazer barulho. O gasto, neste caso, varia entre R$ 400 e R$ 4.000”, afirma o engenheiro Denis Marun, da oficina Chevy, de São Paulo (SP).

A segunda situação é quando a água entrou dentro do carro, na altura da roda.

Assim, além do rolamento, é preciso fazer a higienização, e seu preço varia de R$ 1.200 a R$ 8 mil. Há ainda o risco de, em médio ou longo prazo, as partes elétricas começarem a entrar em curto. Essa chance é maior quando o carro é mais antigo, pois os relês e módulos são vedados por borracha ou silicone e, com o passar do tempo, essas vedações passam a ficar mais ressecadas e não seguram mais a água. É esse o risco de comprar um carro que já passou por uma enchente: o problema não aparece na hora da compra, mas depois pode trazer enormes dores de cabeça para o proprietário.

Se você acha que só corre risco quando procura modelos baratinhos e antigos, olhe esse Porsche sendo recuperado depois da enchente

 

O terceiro e mais grave caso ocorre quando entra água até o teto. “A água chega à entrada de ar do motor e, caso a pessoa esteja devagar, o motor vai morrer, pois a água entope a entrada de ar. Ao dar a partida o motor chupa essa água para dentro dos pistões, o que provoca calço hidráulico, causando o entortamento da biela e do pistão”, afirma o engenheiro. Neste caso, além dos serviços anteriores, é preciso fazer a retífica do motor. O custo varia de R$ 3 mil a R$ 20 mil. Vale lembrar que o ideal é não dar a partida em alagamentos.

A oficina Lucar, de São Paulo (SP), é especializada em higienização: eles desmontam a tapeçaria, tiram o painel, secam tudo, desinfetam e remontam o carro. Porém, nem eles se arriscam a oferecer garantia. “Fazemos o possivel para salvar o carro, mas se der problema depois não podemos nos responsabilizar”, afirma Cleber Watson, funcionário da oficina.

Para identificar se um carro já passou por uma enchente, o engenheiro dá algumas dicas. O mau cheiro é um sinal, pois a agua que penetra no carpete e nas espumas dos bancos não seca facilmente e o odor de mofo permanece no carro. Outra boa forma de identificar um carro recuperado é checar se o macaco e a chave de roda estão enferrujados. Eles são os primeiros a ter esse problema. Repare ainda se há barulho de rolamento, se há sujeira no freio ou marcas de água nos faróis. Verifique o óleo do motor e do câmbio. Se estiverem com aparência leitosa, é sinal de que se misturaram à água. Finalmente, cheque se toda a parte elétrica está funcionando.

É claro que não são todos os carros que passam que não podem ser recuperados. Dependendo do estrago e do serviço feito, eles podem, sim, ter salvação. Um exemplo é o Peugeot 206 de Lucas Spolidoro. Ele garante que seu carro, que passou por uma enchente em 2007, foi totalmente recuperado, apesar de a água ter chegado até o meio dos bancos. “Ficou perfeito depois da higienização e não deu problemas mecânicos até hoje”, conta o proprietário, que ainda não trocou de automóvel.

O maior risco é quando o dono arruma apenas o que é superficial e vende o carro para se livrar. A melhor coisa a fazer é evitar a compra, apesar dos descontos.