O combustível do futuro chegou ao Brasil: começa a circular em São Paulo um novo ônibus movido a hidrogênio. O uso deste novo combustível é um passo importante na melhoria da qualidade de vida, principalmente nas metrópoles, onde a poluição do ar é mais grave e afeta diretamente as pessoas – um problema que não pode ser ignorado em um País que acredita no seu futuro.

Fruto de um projeto que reuniu os governos federal e estadual, empresas nacionais e estrangeiras e até a ONU (Organização das Nações Unidas), o funcionamento do ônibus parece mágica: o combustível para movê-lo, o hidrogênio, é extraído da água, e, no final do processo, em vez de fumaça preta e poluentes, o único produto do escape é puro vapor d’água (leia quadro).

“Estamos na alvorada da Era do Hidrogênio”, proclama Stanford Ovshinsky, co-fundador da ECD (Energy Conversion Devices), empresa norte-americana que busca fontes alternativas de energia. Ovshinsky fala deste “circuito completo do hidrogênio” desde que fundou a ECD, em 1960, mas só hoje a tecnologia possibilita a realização de sua teoria.

E não há país melhor para o uso do hidrogênio como combustível. Como uma grande quantidade de energia elétrica é indispensável para se “extrair” o hidrogênio da água (a chamada eletrólise), esta é uma das grandes barreiras, em muitos países, para o uso do hidrogênio. Na china, por exemplo, a maior parte da energia elétrica é extraída de fontes sujas, como o carvão – e utilizar esta energia suja para produzir hidrogênio não compensa. Aqui, a energia elétrica limpa é abundante, com fonte em usinas hidrelétricas (que também usam a água como combustível). Mas e o custo? “Se pensarmos no custo para o ambiente e para a saúde do uso dos combustíveis fósseis, usar o hidrogênio é muito barato”, diz Agenor Boff, responsável pela integração de todo o projeto e diretor da Tuttitransporti, fabricante do chassi e do software de controle do ônibus. “Na verdade, é energia de graça, pois o hidrogênio será produzido com a energia hidrelétrica excedente nos horários de baixa demanda [como a madrugada], que normalmente é desperdiçada”, completa.

Outra vantagem do novo ônibus é o baixíssimo nível de ruído. No lugar dos barulhentos motores a diesel, a célula de combustível que produz a energia elétrica a partir do hidrogênio funciona silenciosamente. A autonomia, com 45 quilos de hidrogênio, que são armazenados nos cilindros sobre o teto, é de 300 quilômetros, a mesma de um ônibus a diesel tradicional.

Na verdade, o ônibus é híbrido: três baterias armazenam energia elétrica, garantindo autonomia adicional de 40 quilômetros. Além disso, um sistema igual ao da F-1 usa a energia de frenagem para alimentar as baterias quando o ônibus para em um ponto ou semáforo – energia depois usada em subidas ou outros momentos em que se precise de mais potência.

Para abastecer o novo ônibus, o primeiro posto de hidrogênio da América Latina já está sendo construído na sede da EMTU/SP (Empresa Municipal de Transportes Urbanos de São Paulo), em São Bernardo do Campo (SP), com capacidade para abastecer até três ônibus por dia. Esperamos que esta frota cresça rapidamente.

O ciclo do hidrogênio

NO INÍCIO, A ÁGUA

Usinas hidrelétricas usam a força das águas para produzir energia elétrica.

A ELETRÓLISE

A energia elétrica é utilizada para fazer a eletrólise da água, separando o hidrogênio (que é comprimido e armazenado) do oxigênio, que é liberado no ar. Da água usada neste processo, 50% pode ser reutilizado para lavagem dos ônibus.

ENERGIA E A VOLTA À AGUA

Na célula de combustível, o hidrogênio é combinado novamente com o oxigênio do ar. Nesta reação é gerada a energia elétrica que move o ônibus, e como resultado dela a única substância liberada no ar é vapor d’água puro, sem nenhum poluente.

Acima, um modelo do ponto de ônibus que será colocado no trajeto de testes do novo veículo, um corredor de ônibus plano. Abaixo, Agenor Boff, responsável pela integração dos elementos do projeto e desenvolvimento do chassi, feito em Caxias do Sul (RS) com ideias inéditas no mundo

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