01/02/2011 - 0:00
Usar os serviços de concessionárias sempre teve boa credibilidade. Até por isso, os valores cobrados nas autorizadas são mais altos do que no mercado paralelo. Muitos até usam o investimento como atrativo na hora da revenda. As concessionárias são o elo que une o consumidor às montadoras. Assim, tudo vendido lá está de acordo com a política da marca. Certo? Errado! Muitos acessórios vendidos como originais não o são, e, além de dani car o carro, podem prejudicar a garantia.
Cada carro tem itens de série, opcionais e acessórios homologados. MOTOR SHOW consultou revendas da Nissan e orçou acessórios para o Tiida Sedan – e nos ofereceram muitos produtos não originais. Pior: disseram que eram produtos o ciais e que a garantia do carro não seria afetada. Questionada, a Nissan se pronti cou a averiguar o caso e a rmou que “a instalação de produtos paralelos compromete a garantia e coloca em risco o funcionamento do carro”.
“Na hora de instalar um sistema de DVD, um aterramento errado pode prejudicar o funcionamento dos airbags e do ABS” Alfredo Guedes, supervisor de relações públicas da Honda
O mesmo aconteceu nas revendas Honda. Neste caso, todos os equipamentos devem ser da Honda Access, divisão de acessórios da marca. Mesmo assim, muitos produtos paralelos são vendidos como originais. Em uma das redes, a lista de acessórios “homologados” tinha 40 produtos, mas só 16 eram da Honda Access.
O argumento mais descarado para convencer de que tudo era genuíno veio de uma vendedora que a rmou que, no caso de um kit mutimídia, a marca mandava um técnico da fábrica de Sumaré (SP) instalar o aparato. Como era de se esperar, a Honda desmentiu. Alfredo Guedes, supervisor de relações públicas da marca, a rma que “a Honda não autoriza a instalação de acessórios que não sejam da Honda Access”. Ele diz que equipamentos de procedência duvidosa podem colocar a integridade do carro e dos ocupantes em cheque: “Se na hora de instalar um aparelho de DVD for feito um aterramento errado, isso pode prejudicar o funcionamento dos airbags, do ABS e de outros equipamentos coordenados pela mesma central”. Para evitar surpresas, ele aconselha consultar o manual. “A bíblia do cliente Honda é o manual. Lá está a palavra da montadora.”
Se você só descobriu que caiu em uma cilada na hora de usar a garantia, não se desespere. Lucas Cabette, do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), diz que esta deve ser uma briga entre a revenda e a fábrica.”Por ter sido comprado na concessionária, ca subentendido que o produto é daquela determinada marca e, portanto, a responsabilidade é da montadora.” Já José Geraldo Tardin, presidente do Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec), acrescenta que, por lei, você perde a garantia se a concessionária lhe informar a procedência dos produtos por meio de documento formal. Além de tudo, segundo ele, esta prática é caracterizada na lei como “uma prática abusiva de exigir vantagem manifestamente excessiva”.
Para não sair no prejuízo, Tardin aconselha recorrer à Justiça. “O melhor é entrar com uma ação para a autorizada arcar com o prejuízo.” Outra opção é exigir a garantia legal, que se estende por 90 dias depois do prazo da garantia contratual. “Se o fornecedor dá uma garantia de um ano, os 90 dias passam a vigorar apenas quando a do fornecedor acaba”, a rma Cabette. Caso a fábrica se recuse a arcar com o prejuízo, o consumidor pode exigir a garantia legal.
Os carros importados estão mais propensos a essas ciladas, até porque, por virem de fora, há menor disponibilidade de acessórios o ciais. Já entre os populares, as próprias marcas, por uma questão de custo para o cliente, atestam produtos de marcas secundárias. No caso dos carros da Volkswagen, a variedade de equipamentos o ciais da linha Tech é muito grande e pode ser consultada pelo site da Volkswagen. Por isso mesmo, todas as concessionárias consultadas da marca indicaram apenas acessórios da linha o cial. Mesmo assim, independentemente da marca e do modelo do carro, o melhor é sempre consultar o manual, para não comprar gato por lebre e ter que procurar seus direitos depois.