05/11/2016 - 10:00
Por muitos anos, a magnífica obra de Juan Manuel Fangio (1911-1995), de cinco campeonatos mundiais de F1, permaneceu como um recorde. Essa marca só foi ultrapassada muito tempo depois e ainda hoje o recorde está com Michael Schumacher, campeão mundial de Fórmula 1 sete vezes. Assim como Fangio, Schumacher era um piloto super-talentoso. E, também como Fangio, Schumacher priorizava o seu relacionamento com engenheiros e mecânicos.
A excelente autobiografia The Mechanic’s Tale (A Fábula do Mecânico), de Steve Matchett, explica muito sobre Schumacher. Steve é um inglês “cinqüentão” que trabalhou como mecânico de F1 na equipe Benetton de 1990 a 1998, acompanhando Michael em dois campeonatos mundiais (1994/95) e hoje é comentarista de uma rede americana de TV, a NBC. Gosto muito dos comentários de Steve na TV, mas quatro parágrafos de sua biografia, descrevendo a primeira vitória de Schumacher em um GP (em Spa-Francorchamps, Bélgica, 1992), revelam Michael da melhor forma que já vi.
“Seu êxtase ao vencer aquela corrida é algo que ele continuou a mostrar em cada sucessiva vitória. Aqui está um homem que adora vencer e nunca acha que a vitória está garantida. Ele entende que cruzar a linha de chegada na frente de todos os outros envolve um enorme esforço – esforço de toda a equipe, assim como do piloto – um fato simples que muitos outros pilotos claramente esqueceram.”
“Naquela primeira vitória, assim como em todas as que viriam, Schumacher brindou sua felicidade como um reconhecimento ao esforço de toda a equipe: do trabalho dos fabricantes, dos torneiros mecânicos, dos especialistas em composite, dos eletricistas, dos mecânicos e também do pessoal de design. A labuta de centenas de pessoas estava refletida em sua alegria legítima na celebração do pódium”.
“Retornando para o prédio da Benetton, Michael cumprimentou cada um de nós, agradecendo todos pessoalmente pela ajuda, outra demonstração genuína de apreço que continuaria em cada vitória que viria.” “Eu nunca me senti tão participante de uma equipe como quando trabalhei com Schumacher, dividindo o prazer de cada vitória.”
Esta última frase é particularmente reveladora e você pode estar bem certo de que Michael continuou agindo da mesma forma quando chegou à Ferrari e começou a vencer, vencer e vencer novamente. Por isso, como eu admirava Fangio tão apaixonadamente, não será surpresa saber que eu tentei imitá-lo da melhor maneira que pude. Tanto que eu também comecei minha vida nas competições como mecânico, em São Paulo, trabalhando com meu irmão Wilson nos karts, quando éramos ambos adolescentes. Falarei sobre isso na próxima coluna.