O Mercedes-Benz CLA – candidato a ser produzido na nova fábrica paulista de Iracemápolis – já está à venda no Brasil, importado da Alemanha. Mas a marca da estrela vai ter de gastar saliva para explicar o posicionamento desse carro ao seu público-alvo. Afinal, trata-se de um sedã que o fabricante chama de cupê ou de um cupê que as pessoas insistem em chamar de sedã. Tem quatro portas e a terceira coluna bem alongada, daí o batismo de cupê dado pela Mercedes. Para simplificar, o CLA deve ser visto como um “irmão menor do Mercedes CLS”, que inaugurou o segmento que resultaria também no Audi A5 e no BMW Série 6. Até aí tudo bem. Mas, voltando ao Mercedes CLA, ele tem a missão de ser o carro mais jovem da marca – “o carro que seu pai nunca dirigiria”, segundo o slogan. O pai, no caso, dirige um Mercedes Classe C. Só que o CLA, que chegou exclusivamente na versão 200 “Edition One”, custa consideráveis R$ 147.500.

Não é nada, não é nada, é mais caro do que o próprio Classe C que o pai do futuro dono de um CLA dirige. Segundo a Mercedes, isso acontece somente agora, pois a linha C está encerrando seu ciclo de vida e, quando voltar renovada, ainda este ano, deve ser mais cara do que o CLA. Mas os novos C 180 e C 200 – que custam entre R$ 121.900 e R$ 138.500 – subiriam tanto assim de preço? Certamente que não. Portanto, podemos concluir que o CLA “de entrada” pode chegar custando no máximo R$ 118.000, pois seu concorrente direto (não reconhecido pela Mercedes), o Audi A3 Sedan, é vendido por R$ 116.400. A menos que o carro do pai, no caso, seja um Mercedes Classe E. Nesse caso, resta saber se o Classe C faria o papel de carro de entrada.

Como se vê, não é muito fácil de entender o posicionamento do CLA. Mas falemos do carro. Essa série especial de mil unidades tem motor 1.6 turbo de 156 cv de potência e 25,5 kgfm de torque, disponíveis já a 1.250 rpm. É um ótimo motor, da família M270 (o mesmo do Classe A), com injeção direta de combustível, que trabalha com o câmbio 7G DCT de sete velocidades. O carro tem uma esportividade moderada que agrada bastante. Faz de 0-100 km/h em 8,5 segundos, oferece trocas de marchas precisas pelas borboletas atrás do volante, tem suspensão traseira de quatro links com braços em alumínio (muita estabilidade), direção elétrica com função paramétrica (ajusta-se às imperfeições do solo e compensa ventos laterais), traz nada menos que 11 sistemas eletrônicos (como ABS, controle de frenagem, tração e estabilidade) e ótima posição de dirigir.

Pelo menos nessa salgada versão batizada de “Edition One” ele vem com o sistema Attention Assist, que utiliza mais de 200 sensores para avaliar a condução do motorista durante os primeiros 20 minutos. A partir daí, ele traça um perfil de seu estilo e passa a emitir sinais de alerta sonoros e visuais se notar, por exemplo, que o motorista está sonolento. Talvez fosse mais útil no carro do “pai que nunca dirigiria” um CLA. Ainda sobre a segurança, são sete airbags. Tudo isso faz do Mercedes CLA um carro seguro. O volante multifuncional do CLA 200 tem acabamento perfurado e o quadro de  instrumento traz os ponteiros do hodômetro e do conta-giros no estilo “seis horas” (começam apontados para baixo), o que facilita muito a vida de quem conduz o carro. As saídas de ar têm forma de turbina, como as do modelo SLS.

Que o carro é bem equipado, isso é. Mas, espera: não tem sensor de estacionamento (e faz falta devido à traseira alongada) nem ar-condicionado digital automático. Para compensar, tem navegador, CD/DVD, bluetooth, teto solar panorâmico e 17 pontos de luz interna em tom amarelo. Chique. Ah, claro, o CLA 200 é muito bonito. Seu design esportivo revela-se por meio de vincos no capô, entradas de ar grandes, grade com faixa única cromada igual à dos modelos AMG, faróis bixenônio com LED desenhando a “sobrancelha” das luzes e rodas de 18 polegadas com pneus 225/40. Na traseira, as duas saídas de escapamento são cromadas.

Visto de lado, o carro passa muita fluidez. E não é para menos! Trata-se do modelo com o mais baixo coeficiente aerodinâmico (Cx) possível num automóvel de passeio (0,23), segundo a Mercedes. Abaixo desse número, só se tirassem as rodas. Para se ter uma ideia, o mais baixo Cx da natureza pertence aos pinguins e tubarões: 0,11.

Se a produção do CLA na Alemanha aumentar, a Mercedes trará mais 500 unidades para o Brasil. Só que não da “Edition One”. Esperase então que seja uma versão muito mais barata, na faixa do Audi A3 Sedan, mesmo que ele não seja considerado um concorrente direto. Até porque, quando ambos forem produzidos no Brasil, vai ser difícil explicar que não concorrem pelo mesmo filho.