23/03/2015 - 13:52
Às margens do Ipiranga, Dom Pedro I gritou: “Independência ou morte!” Ok, talvez não tenha sido exatamente um grito, conforme revelam alguns livros mais recentes sobre a história do Brasil. Mas, de qualquer forma, a frase tem um simbolismo forte. E poderia facilmente ter uma corruptela para a República do Automóvel: “Dependência é morte!”
Estou tratando da dependência que algumas montadoras têm de um único modelo. Para exemplificar essa situação, peguei a lista das 20 marcas que mais venderam carros no Brasil em 2015 (janeiro e fevereiro) e fiz um paralelo sobre o percentual que os modelos mais vendidos de cada marca representam no total.
Não é coincidência que as quatro marcas líderes do mercado (Fiat, Chevrolet, Volkswagen e Ford) tem menor dependência de um único modelo do que quase todas as outras 16 do ranking. O Palio e o Onix representam pouco mais de 27% da venda total da Fiat e da Chevrolet. A Volkswagen é a que menos depende de seu líder no momento: o Fox representa apenas 23,4% de suas vendas. E o Ka, mesmo tendo se tornado o carro mais popular da Ford, representa 33,5% das vendas da montadora norte-americana.
O ideal é que esse índice de dependência de um único carro fique abaixo de 30%, mas, pelas características do mercado brasileiro, menos de 40% já é uma marca aceitável. Nessa situação, entre as marcas de maior volume, estão a Renault (38,3% dependente do Sandero), a Toyota (35,1% dependente do Corolla) e a Mitsubishi (38,1% dependente da picape L200). Ficar acima disso não é bom, pois um eventual fracasso do carro-chefe pode significar perdas para o fabricante. Mais de metade das vendas advindas de um único modelo por ser um risco.
Portanto, em situação perigosa temos a Hyundai (50,5% dependente do HB20), a Honda (48,7% do Fit) e a Citroën (53,1% do C3). Os casos mais preocupantes são os da Peugeot, da Land Rover e da Lifan. Especialmente a Peugeot, pelo volume que tem, corre grande perigo ao ter 70,6% de dependência do 208. Mas a marca francesa está lançando no Brasil o 2008, que certamente vai modificar esse quadro, assim como o novíssimo HR-V deixará a Honda menos dependente do Fit. A Lifan depende 68,8% do X60 e a Land Rover é 60,2% dependente do Evoque. Veja no quadro a lista completa do ranking e o grau de participação das montadoras, bem como a dependência que elas possuem de seus carros-chefe.