Uma das grandes questões de mercado está prestes a ser respondida. O que vale mais para o consumidor: design atraente ou bom preço? Esse comparativo tem como tema central dois dos mais importantes lançamentos do mercado nacional, e cada um aposta em uma dessas qualidades: design e preço. O New Fiesta Sedan tem linhas extremamente ousadas. Comprido e estreito, ele lembra uma lança, e os contornos de sua carroceria são, literalmente, de parar o trânsito (o que aconteceu durante essa avaliação).

A Ford o classifica como um Sporty Sexy Sedan. Não está exagerando. Os faróis puxados, a grade que lembra o Fusion, a lateral com vinco profundo que sobe em direção à lanterna, o friso cromado logo abaixo dos vidros, a traseira com o pequeno aerofólio que salta naturalmente do desenho da tampa – tudo foi pensado para dar um ar mais robusto e moderno ao sedã. Nenhum traço da carroceria remete à caretice típica dos sedãs. Já o Nissan Tiida é o extremo oposto. Suas linhas não são modernas e, para alguns, não estão muito longe de ser classificadas como feias.

O acabamento do Tiida é básico como seu visual, mas os materiais têm boa qualidade. O banco é alto demais e sente-se falta do ajuste de profundidade do volante

O visual do Polo (nas fotos, o Comfortline) é bem resolvido, mas já está envelhecido (a nova geração está a caminho). Por dentro, boa ergonomia e bom acabamento

O design do 207 Passion é mal resolvido e, ainda assim, seu espaço interno não ganha com isso. Por dentro, é o mais difícil para encontrar a melhor posição

O Honda City tem visual bem resolvido. Ao lado do Fiesta, é dos mais modernos, o que se reflete também no painel de instrumentos com detalhes cromados

Em visual, vai ser difícil achar quem não ache o New Fiesta o mais bonito do grupo. O painel, futurista, também causa impacto, e a posição de dirigir é excelente

A dianteira já polêmica do hatch se uniu a uma traseira acanhada que lembra a dos Mercedes mais antigos. Por outro lado, enquanto todos os carros dessa disputa custam por volta de R$ 50 mil, o Nissan, além de ser o mais espaçoso e de ter o maior motor (1.8 16V), traz um preço de quebrar a concorrência: R$ 44.500. Aí voltamos à pergunta inicial: será que o consumidor vai preferir um carro pequeno, com motor menor, mas com a carroceria mais bem resolvida do segmento ou um mais espaçoso, com desempenho superior e preço justo? Racionalmente, o segundo parece uma melhor alternativa

Tamanho é documento

O problema do Ford (aliás, o mesmo do Peugeot) é o porte. Por mais bonito, moderno e bem acabado que ele seja, continua sendo um… Fiesta. Sim, aquele compacto lançado aqui anos atrás e que continua sendo vendido – como Novo Fiesta – um degrau abaixo no portfólio da Ford, por cerca de R$ 40 mil. Suas medidas denunciam isso a olhos vistos e tornam complicada sua vida na faixa dos R$ 50 mil. A carroceria do modelo tem 4,41 m de comprimento e 1,70 de largura e seu entre-eixos é de 2,49 m. É, portanto, o segundo maior entre os cinco competidores. Mas quando se olha o interior de cada um, o espaço útil no qual cinco pessoas terão que se acomodar, fica claro que o Ford sacrifica o conforto. Para esta comparação, fizemos algumas medições simples e práticas, que mostram como o espaço interno disponível pode variar. Medimos, por exemplo, o comprimento do painel central até o encosto do banco traseiro, a largura dianteira e traseira entre as portas, a distância disponível para as pernas e a altura do assento traseiro até o teto (compare os números no quadro). Nas nossas medições, o Fiesta tem área interna aproximada de 1,96 m2, contra 2,19 m2 do City e 2,29 m2 do campeão absoluto, o Tiida Sedan.

O modelo da Ford leva a pior, inclusive, frente aos também pequenos Polo Sedan e 207 Passion, que ficam com 2,04 m2 e 1,98 m2 de área útil, respectivamente. Os três ocupantes traseiros dividem no Fiesta um espaço de apenas 1,25 m, por conta das portas visivelmente mais grossas que o normal. Segundo a marca, isso acontece por causa do sistema de absorção da energia de impacto instalado na peça, mas fica difícil não imaginar que o desenho ousado possa ter contribuído. O fato é que cada um dos três passageiros de trás precisa se acomodar em 42 cm. No Tiida, eles dispõem de dois centímetros a mais cada um e, no City, de três. Com o banco ajustado para o mesmo motorista de 1,73 m de altura e todos com o volante recuado (nos que têm ajuste de profundidade, como o Fiesta), o espaço para as pernas de quem vai atrás também é a menor no Ford: são apenas 22 cm de vão livre contra 33 cm do Tiida e 31 cm do City.

Medimos a área interna de cada um deles para conferir quem oferece mais espaço para a sua família: o Tiida é imbatível neste quesito

Na medição de porta-malas, a situação melhora um pouco para o Ford, que acomoda 440 litros – contra 420 litros do 207 e 432 litros do Polo. Mas ele continua menor que o Tiida (467 litros) e que o campeão no quesito, o City, com 506 litros de porta-malas. Aqui vale uma ressalva a favor dos menos espaçosos: o Polo é o único com dobradiças pantográficas, que não invadem o espaço das malas quando o compartimento é fechado, e o 207, apesar de também manter as tradicionais alças do tipo pescoço de ganso, tem uma caixa de proteção no seu entorno, evitando que malas sejam colocadas no local – onde seriam amassadas. Nos outros modelos, cabe ao motorista ficar de olho para evitar esse incômodo, o que limita um pouco o uso do espaço disponível. Para quem compra um sedã procurando espaço para toda a família, a melhor opção recai mesmo sobre o Tiida Sedan, que oferece conforto de qualquer modelo médio. Depois dele, a melhor opção, nesse caso, é o City, seguido do Polo. Fiesta e 207 Passion, apesar da aparência grandalhona, mantiveram o porte dos pequenos que lhe deram origem.

Quem vê cara não vê desempenho

Se em relação ao espaço interno o Tiida é melhor, no quesito desempenho sua vitória parece anunciada. Com o motor de 1,8 litro, o de maior capacidade cúbica do comparativo, trabalhando em conjunto com um câmbio manual de seis marchas (os rivais têm apenas cinco), o modelo japonês promete um banho nos adversários. Na verdade, ele realmente se dá melhor: com aceleração de zero a 100 km/h em 9,6 segundos e velocidade máxima de 195 km/h, tem números finais de desempenho superiores e, apesar de seus 126 cv (com etanol) e 17,5 kgfm aparecerem em rotações bem altas, o variador de fase e a transmissão encurtada garantem uma boa dirigibilidade também em baixos regimes. Se o consumo urbano (com etanol) é penalizado diante dos oponentes, na estrada ele obtém médias superiores. Logo na sua cola, está o também novato Fiesta Sedan com seu moderno motor 1.6 16V, que, embora tenha só 115 cv (com etanol) e 16,2 kgfm de torque, garante uma dirigibilidade quase tão boa quanto a do japonês. Se ele tivesse aqui o duplo comando variável de válvulas, como na Europa, poderia diminuir essa diferença e melhorar seus números de aceleração (11,5 segundos de zero a 100 km/h) e velocidade máxima (190 km/h).

O New Fiesta encanta com as linhas externas, mas o espaço para os joelhos de quem viaja atrás e a largura do banco traseiro são os menores do grupo

Mais potente, o Tiida leva vantagem no desempenho. Mas seu consumo é o mais alto, principalmente quando usado na cidade com etanol

Mas surpreendente mesmo é o motor do City. O pequeno 1.5 16V, cheio de tecnologia da Honda, tem mais potência que o 1.6 da Ford e boa dirigibilidade em baixos regimes. Cada um de seus 116 cv empurra apenas 9,67 kg de peso (no Tiida, a relação peso/potência é de 9,3 kg/cv, a melhor entre os cinco). Ainda assim, como lhe falta cilindrada, com torque de apenas 14,8 kgfm, suas retomadas ficam abaixo das do Fiesta, tal e qual o seu consumo de combustível. Na sequência aparecem o 207 com seu motor 1.6 16V de 113 cv esperto e eficiente (ainda assim, aquém do Fiesta em retomadas e muito mais gastão) e, por último, o Polo Sedan, com seu 1.6 8V de 103 cv, que é esperto na cidade, ágil para ganhar velocidade, mas não garante desempenho satisfatório na estrada. Se o Volkswagen não consegue bons resultados no desempenho, sua dirigibilidade é favorecida pelo bom compromisso entre conforto e estabilidade, um acerto visto também no Tiida. Já o New Fiesta, o 207 Passion e o City privilegiam mais a esportividade, o que acaba penalizando um pouco o conforto.

Novamente, a vitória vai para o Tiida. Em desempenho, com o motor maior, câmbio de seis marchas, melhor relação peso/potência, um motor que – se não é o mais moderno – é o suficiente para garantir eficiência em todos os regimes de rotação, o Nissan leva a melhor, apesar do prejuízo no consumo. Se isso for um problema, o 1.6 16V do Fiesta oferece médias mais atraentes, com desempenho apenas um pouco inferior.

O Tiida só não é maior em todas as medidas por ser um pouco mais estreito que o City. O espaço para os joelhos no banco traseiro é o maior destaque do Nissan

Os bancos de couro são opcionais da versão top, Comfortline. Em termos de espaço, o Polo Sedan se sai bem diante do 207 e do Fiesta, mas perde para City e Tiida

No 207 Passion, os passageiros que viajam atrás têm apenas um centímetro a mais para as pernas do que no Fiesta. Na área interna, tem o segundo pior resultado

O City, quase do mesmo tamanho que o irmão Civic, é o que chega mais próximo do espaçoso Tiida: é o segundo colocado, com folga considerável sobre o terceiro

O que você paga, o que você leva

Os modelos desse comparativo oferecem poucas variações de versões. No caso do Tiida, por exemplo, há apenas uma opção: é o mais barato de todos, mas fica devendo opcionais, como airbag e ABS. Segundo a marca, a decisão de não oferecer os itens de segurança foi estratégica, já que a maioria dos consumidores de carros dessa faixa de preço abre mão desses itens. Na verdade, essa medida deve ter sido motivada também pela restrição na oferta de produto. Fabricado no México, o modelo tem praticamente toda sua produção absorvida naquele país e exportada para os EUA, onde figura na lista dos mais vendidos. Tirar um lote de unidades para vender no Brasil é briga de foice, e os modelos básicos devem ser os mais fáceis de ser “desviados” do voraz mercado norte-americano.

Mas, fora esse detalhe, o pacote é bom: por R$ 44.500, o consumidor leva ar-condicionado, computador de bordo, direção com assistência elétrica, travamento automático das portas, vidros elétricos “um toque” e CD com entrada auxiliar. O maior pênalti da versão está na roda de aço com uma calota de gosto duvidoso. A marca permite trocá-la por rodas de liga leve, também aro 15, vendidas como acessório na rede Nissan.

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