25/10/2025 - 18:00
De um modo geral, a distância entre-eixos é uma medida relegada na ficha técnica, juntamente a vários outros números aparentemente sem importância. Mas, acreditem, ela é fundamental no projeto de um novo carro e certamente definirá o porte desse veículo e, principalmente, o seu espaço interno. Motorista e passageiros agradecem!
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Projetos modernos buscam maior entre-eixos
Atualmente, os projetos de modelos modernos procuram posicionar as rodas o mais próximo possível dos extremos da carroceria. Assim, tanto o eixo dianteiro quanto o traseiro deixam pouco espaço no que os técnicos chamam de “balanço”. Esse balanço pode ser descrito como toda a parte da carroceria que está à frente do eixo dianteiro (ou das rodas dianteiras, se preferir) e toda a parte que fica atrás do eixo traseiro. Quanto mais afastados estiverem os eixos dianteiro e traseiro, e quanto mais próximos das extremidades da carroceria, melhor tende a ser o espaço interno.
Limites
Claro que esse distanciamento entre as rodas dianteiras e traseiras tem limites — técnicos e até de design. Mas, teoricamente falando, quanto mais distante, melhor. Explico: as rodas exigem o que os engenheiros chamam de caixas de rodas — para nós, pobres mortais, é a parte interna dos paralamas. Essas caixas de rodas ocupam um espaço significativo e acabam “roubando” lugar de motorista e passageiros. Devemos lembrar também que, nessas caixas de rodas ou ao seu redor, estão elementos da suspensão, como molas e amortecedores.

Antigamente era diferente
É uma equação difícil, que há muitas décadas faz os projetistas quebrarem a cabeça para construir carros com a maior distância possível entre as rodas dianteiras e traseiras, sem comprometer o espaço interno e a instalação da mecânica. Nos anos 1950, por exemplo, os carros tinham uma pequena distância entre-eixos e carrocerias exageradamente longas. Isso fazia com que o balanço dianteiro — espaço entre as rodas e o para-choque da frente — fosse demasiadamente grande, e o traseiro também, o que resultava em porta-malas enormes que desequilibravam o carro quando muito carregados.

Para se ter uma ideia, Chevrolet Opala e Ford Maverick, projetos dos anos 1960 que circularam no Brasil nos anos 1970, tinham distância entre-eixos de aproximadamente 2,60 metros e eram considerados sedans médios. Hoje, essa distância é típica de um hatch compacto, enquanto um médio pode chegar aos 2,75 m ou 2,80 m. Curiosamente, a habitabilidade dos hatches atuais é semelhante à dos sedãs do fim dos anos 1960.
Renault Twingo foi referência
Um exemplo de bom trabalho de engenharia e design foi o Renault Twingo, lançado no Brasil no início dos anos 1990. Ele media apenas 3,43 metros de comprimento, com distância entre-eixos de 2,34 metros. As rodas dianteiras ficavam bem próximas ao para-choque dianteiro, e o mesmo acontecia na traseira.

Na prática, isso resultava em um carro minúsculo, fácil de manobrar e de estacionar, mas com um espaço interno surpreendente. Até mesmo a inclinação acentuada do enorme para-brisa e a disposição transversal do conjunto motor/câmbio dianteiro contribuíam para um aproveitamento magistral do interior. Quando testei esse carro em 1993, fiquei impressionado com a inteligência do projeto, atual até hoje.

Fusca e Kombi: mesmo entre-eixos
Mas quando pensamos em distância entre-eixos, há um caso à parte de toda essa teoria: o Fusca e a Kombi. Acreditem, ambos têm a mesma distância entre-eixos, de 2,40 metros. No entanto, o aproveitamento do espaço interno é completamente diferente. Enquanto a Kombi leva, com relativo conforto, oito passageiros, o Fusca mal acomoda quatro. É tudo uma questão de projeto: enquanto a Kombi foi concebida para transportar pessoas e carga, o Fusca concentra os ocupantes entre os eixos, resultando em um espaço interno bem limitado.

Na Kombi, de forma inteligente, motorista e passageiro dianteiro vão sentados à frente do eixo dianteiro, os bancos intermediários ficam logo atrás desse eixo e a última fileira está à frente do eixo traseiro. Um aproveitamento muito mais eficiente da mesma plataforma do Fusca, praticamente.

Por outro lado, a Kombi é bem mais instável em termos de dirigibilidade. O motorista, posicionado à frente do eixo dianteiro — no balanço dianteiro —, sente certa instabilidade em movimento. Além disso, o centro de gravidade é muito alto, o que limita a velocidade em curvas e a torna sensível a ventos laterais em estradas. Ainda assim, é um caso fascinante: dois veículos com a mesma base e distância entre-eixos idênticas, mas resultados completamente distintos. Interessante, não?









