Não faz muito tempo que CR-V e Captiva se enfrentaram em nossas páginas, no comparativo “Novas Peruas”. Com preços entre R$ 85 mil e R$ 90 mil, os dois crossovers eram as opções mais acessíveis, acima de EcoSport e Tucson, na disputa pelo antigos consumidores de peruas médias e grandes. Digo “eram” porque, desde o mês passado, a Dodge entrou de vez nessa briga com uma nova versão do Journey, R$ 14 mil mais barata e com apenas cinco lugares, como os rivais (antes, era oferecido só com sete lugares, por R$ 99.900).

Em comum, além da fórmula “posição de dirigir elevada + espaço para a família + tração dianteira”, os três são fabricados no México e, por isso, chegam ao Brasil sem pagar Imposto de Importação. Os três têm também câmbio automático, desempenho apenas satisfatório e listas de equipamentos adequadas, mas que não lhes rendem a classifi cação de luxuosos (quem chega mais perto do adjetivo é o Captiva, como se vê na tabela de equipamentos). Na disputa anterior, o CR-V se mostrou a compra mais racional e o Captiva, mais emocional. Agora vejamos onde o Journey se encaixa.

Você pode achar que, com o motor V6 contra os quatro cilindros dos rivais, o Journey ande mais. Mas não: com 2,7 litros, o motor do Dodge gera 181 cv – contra 150 cv do Honda 2.0 e 171 cv do Chevrolet 2.4. Por outro lado, ele pesa quase duas toneladas, e aí entra a famosa relação peso/potência: cada cavalo do motor tem de “carregar” 10,5 kg no Journey, contra 10,3 kg no Honda e 9,8 kg no Chevrolet. Não é o motor, portanto, que faz o Dodge se destacar. Pelo contrário: seu consumo é mais alto (o Honda é o mais econômico dos três).

Se não é o motor que o faz ser mais rápido, também não é o câmbio. Apesar da vantagem de ser o único com seis marchas (cinco no Honda e quatro no Chevrolet), as respostas da transmissão ao acelerador são lentas, assim como as realizadas na alavanca, no modo sequencial. Característica que não é melhor no Chevrolet – apenas o Honda é um pouco mais ágil nas respostas, mas, como seu motor tem menor torque, o resultado é que os três, na prática, andam praticamente juntos. Vale acrescentar que o Captiva também permite trocas manuais, mas feitas por um incômodo botão na lateral da alavanca – mesmo lugar em que, no Honda CR-V, um botão reduz automaticamente para terceira marcha (função bastante útil em aproximações de curvas e em ultrapassagens).

*Os preços podem apresentar variações dependendo da concessionária consultada

Mas desempenho, aqui, provavelmente não é a prioridade. As palavras-chave em um carro para a família são espaço interno e praticidade. E aí estão as mais evidentes vantagens do novo Journey. Para começar, aos 4,58 m de comprimento dos rivais, o Dodge soma 31 cm: uma vantagem considerável, que resulta em generosos 2,89 m de entre-eixos. O Captiva, analisando a mesma medida, deveria oferecer mais espaço que o CR-V, mas não é o que acontece – principalmente na dianteira, a sensação é de um carro mais compacto. Já o Honda, com vidro mais distante do motorista, boa visibilidade e assoalho plano também na frente (com espaço livre abaixo do painel central, entre os bancos) é um pouco mais espaçoso, mas não tanto quanto o Journey. No porta-malas, nova vantagem do Dodge.

Agora, quando se fala em praticidade para uso familiar, o Journey dá um banho nos rivais: todos eles têm bancos traseiros reclináveis e rebatíveis, que deixam o espaço para carga plano, mas só Journey e CR-V também permitem deslizar este banco, variando o espaço para as malas e para os joelhos de quem vai atrás. Finalmente, o Journey tem mais porta-objetos que os concorrentes, incluindo dois grandes e práticos compartimentos no chão, logo atrás dos bancos dianteiros. Além disso, o Dodge tem um porta-luvas adicional refrigerado para levar bebidas. Já o motorista é mais bem tratado no Dodge e no Honda: embora o Captiva seja mais luxuoso, com o melhor acabamento, detalhes em “fi bra de carbono” e alumínio, opção de bancos em couro e ajuste elétrico do banco do motorista, a posição de dirigir é mais adequada nos rivais graças aos bancos mais confortáveis (o do Captiva é curto demais para as pernas) e ao ajuste de profundidade de volante (que o Captiva não tem).

As suspensões, por outro lado, são mais confortáveis no Chevrolet e no Dodge, embora um tanto macias demais – o Honda é mais firme, passando mais segurança, mas também transmite mais os defeitos do piso para a cabine. No sistema de direção, nova vantagem para o CR-V, que tem respostas mais diretas, além da assistência elétrica (item que o Captiva já teve e ajuda também a reduzir o consumo). Para manter sua família segura, o Honda fi ca mais uma vez para trás: enquanto Honda e Dodge têm seis airbags, ele só oferece os dianteiros e não tem controle de estabilidade como os rivais. Além disso, só ele não tem sistema Isofix de fixação de cadeirinhas infantis, item útil para quem tem crianças .

Os três crossovers têm garantia de três anos e preços de seguro praticamente iguais (acima): apesar de as peças do Dodge serem consideravelmente mais caras (o que exigirá mais frequentemente, em caso de pequenas colisões, o pagamento da franquia), ele é menos visado pelos ladrões. O Captiva, por outro lado, tem as peças mais baratas. Já nas revisões obrigatórias dos primeiros 30 mil quilômetros (leia tabela de revisões), gasta-se cerca de três vezes mais com o Chevrolet e o Dodge do que com o Honda. Vale observar que uma quinta revisão de R$ 300 (troca de óleo e filtro de óleo), não mostrada na tabela, ainda é necessária no Journey ao se completarem 30 mil quilômetros (mas não obrigatória, assim como a quarta revisão, caso os três anos de garantia já tenham acabado – aí vai depender do quanto você roda com o carro ao longo de um ano).

Conclusão: para uso familiar, o Journey é o melhor. Mais espaçoso e prático, embora tenha acabamento mais pobre e rede de concessionárias limitada, além de peças caras. O Captiva é para quem quer um carro mais luxuoso e ampla rede de assistência, mas pode abrir mão de parte do espaço. Já o CR-V é mais urbano e tem a melhor dirigibilidade, e ainda apresenta menor consumo e manutenção mais barata, mas fica devendo itens de segurança e conforto. Defina suas prioridades, considere os riscos e faça sua escolha.

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