O adjetivo discreto não deveria se aplicar a cupês. Quem compra esse tipo de carro, além do desempenho esportivo, quer se diferenciar em meio à mesmice do trânsito. E, quando a ideia é chamar a atenção, poucos carros atendem tão bem às expectativas quanto o Peugeot RCZ. Pelo menos nessa faixa de preço. Sua bela carroceria, ao mesmo tempo delicada e feroz, lembra o felino que lhe enfeita o capô, símbolo da marca francesa. Por R$ 139.900, é a forma mais barata que você vai encontrar para se sentir um milionário. Homens, mulheres, crianças, jovens, idosos: ninguém passa incólume por esse carro. Muitos fazem sinal de positivo, acenam, sorriem. Outros torcem o pescoço timidamente para acompanhar sua passagem e alguns, poucos, lançam olhares de desprezo e até de reprovação.

Couro, embora ecológico, até sobre o painel e relógio analógico dão um toque extra de sofisticação ao interior do RCZ. Pena que não haja borboletas no volante, e as trocas sequenciais de marchas só possam ser feitas pela alavanca

O interior do Mini tem acabamento mais simples, e de nada adianta o enorme velocímetro: posicionado no centro, tem difícil leitura para quem dirige. Diferentemente do RCZ, o Mini Coupé tem borboletas no volante, mas do tipo aperta-empurra, aposentado pela Porsche

Já o desenho do Mini é menos harmônico e popular. As pessoas olham, claro, mas não mais do que para outros modelos da marca inglesa. Se no teste de popularidade o RCZ leva a melhor, o Cooper S Coupé oferece outro tipo de satisfação: dá mais prazer para quem está do lado de dentro, ao volante.

Se você entrar primeiro no RCZ terá a impressão de que seu interior é bem esportivo. Teto e bancos baixos, encostos envolventes, posição das pernas típicas de um cupê. Mas, quando você sai do Peugeot e se acomoda no Mini, o francês vira quase um sedã. Esportivo de mocinha, diriam os preconceituosos. Apesar de igualmente refinado, bem acabado e luxuoso, o interior do modelo inglês exala agressividade. Parece mesmo um carro de corrida – você senta quase no chão e seu corpo fica encaixado no assento. Além disso, o teto baixo e a largura reduzida chegam a ser claustrofóbicos, e a visibilidade é péssima, seja pelos retrovisores, seja pelas janelas laterais. Depois dos 80 km/h, então, quando o aerofólio traseiro se abre, pode esquecer. O negócio é se fixar na estrada e acelerar, porque, do mundo a sua volta, você não vai conseguir enxergar quase nada.

O Mini provoca o motorista A acelerar sempre mais e exige um esforço intenso para ser controlado, enquanto O RCZ é bem mais espaçoso e amigável, mas não deixa de ser divertido

O aerofólio do Mini só aparece, de modo automático, em alta velocidade, e as rodas têm aro 16. A posição de dirigir é bastante envolvente, e o espaço atrás dos assentos dianteiros serve apenas para guardar mochilas

A coisa é bem diferente no Peugeot. Os retrovisores são eficientes e a asa traseira – também com abertura automática após os 80 km/h, mas que pode ser acionada até com o carro parado, para fazer inveja aos vizinhos – nem é notada do lado de dentro. Os bancos traseiros, suficientes só para crianças (e pequenas), dão uma amplitude maior ao interior e ajudam a respirar. O habitáculo desses dois modelos é, na verdade, um cartão de visitas, um prefácio do que cada um deles se propõe a entregar.

Apesar de usarem o mesmo motor 1.6 turbo acoplado a caixas automáticas de seis velocidades, Mini Coupé e Peugeot RCZ têm comportamentos absolutamente distintos. Não só por conta da maior pressão do turbo no carro inglês – que se traduz em uma potência 19 cv maior –, mas também pelo próprio acerto característico de cada uma das marcas. São como os dois lados de uma mesma moeda: no Peugeot, a entrega de potência é suave e progressiva, enquanto o Mini é mais afoito, e convida a acelerar.

As trocas de marchas podem ser feitas manualmente nos dois modelos, mas no Mini elas são mais rápidas e obedientes e há borboletas no volante – uma ausência bastante sentida no Peugeot. O resultado prático, em números, traduz as diferenças: em 7,1 segundos o modelo inglês já atingiu os 100 km/h e chega à máxima de 224 km/h. Já o francês cumpre a prova de aceleração em 8,4 segundos e vai até 213 km/h. Em uma corrida, seria uma lavada! Na rua, nem tanto. A questão é que a dinâmica segue na mesma tocada. As suspensões construtivamente parecidas, com rodas independentes (MacPherson na dianteira e multilink na traseira), respondem de modo diferente às solicitações externas. O Coupé repassa absolutamente todas as irregularidades do asfalto para os ocupantes. Na cidade, chega a ser cansativo depois de alguns dias. Na estrada, é pura diversão, mas exige cuidado.

O RCZ tem dois assentos traseiros que, na prática, servem apenas para crianças ou malas adicionais. As rodas têm aro 18 e o aerofólio também é automático, mas pode ser acionado em baixa velocidade por um botão (abaixo)

O volante do Mini, extremamente direto e leve, deve ser manejado com cautela e a tendência a desequilibrar a dianteira é mais empolgante do que assustadora. Você sente que está realmente domando o carro a cada curva, ainda que uma parafernália eletrônica esteja a postos para qualquer imprevisto. Já o RCZ é mais equilibrado. Faz curvas com extrema competência, mas, ao mesmo tempo, consegue ser confortável. Suas reações são mais previsíveis e suaves, exigindo menos perícia. Os pneus largos e baixos ajudam na aderência, e o volante, bem leve na condução urbana, se torna mais pesado.

Quem realmente quer um cupê para curtir apenas nos fins de semana, pode apostar no Mini. Mas ele não oferece muito mais que um Cooper S normal, é bom que se diga. Apesar de ser mais baixo, seu comportamento é bastante parecido, mas o visual cupê ajuda na empolgação e cria o clima ideal para viagens divertidas. Os bancos traseiros perdidos… não fazem falta nenhuma. Afinal, quem compra um Mini Cooper não pretende, de fato, usá-los, não é? Agora, se você quer diversão eventual, mas vai precisar usar o carro no seu dia a dia, a coisa muda de figura. A versatilidade do RCZ faz dele a opção ideal. Os bancos traseiros serão úteis para carregar bolsas, pastas e sacolas, a suspensão tratará melhor suas costas, o painel mais racional e descomplicado será mais prático e a transmissão automática, menos esportiva que a do rival, não fará diferença significativa.