Juntos, Civic e Corolla respondem por quase a metade das vendas de sedãs médios no Brasil. E esse domínio japonês já dura anos. Então, você perguntaria: por que só o Honda está nesse comparativo com os novíssimos Focus Sedan e C4 Lounge? Por que o Toyota ficou de fora? Bem, pelo mesmo motivo que fez com que perdesse a liderança de mercado nacional: o Corolla vendido aqui hoje já está bem “cansado”, com vendas em queda, e sua nova geração, mostrada há poucos meses, chega no ano que vem. Então, resta ao Civic, o atual líder de vendas, defender a coroa dos sedãs médios – e mantê-la sob domínio nipônico.

O rei Civic tomou o trono, mas agora está sob ataque. Esses dois desafiantes aqui, porém, são novas gerações de modelos sem tradição no segmento, e, por isso mesmo, não têm pretensões imediatas de assumir o poder. Os novos Ford Focus Sedan e Citroën C4 Pallas (que mudou tanto que ganhou um novo nome, C4 Lounge) querem, sim, subir na pirâmide social. Chegar à metade das vendas dos japoneses já seria bom resultado, até porque não são os únicos a brigar nesse disputado segmento, que, além dos tradicionais Jetta, Cruze, Fluence e cia., tem como estreantes a nova geração do Nissan Sentra, avaliada na página 40, e a linha 2014 do Peugeot 408, com suspensões e câmbio aprimorados.

Para atrair consumidores já cativos dos sedãs japoneses, esses dois novatos se esforçam ao máximo para oferecer mais que eles. E com sucesso. Antes de conferir os detalhes, vamos aos preços. Excluindo as versões com câmbio manual – que o consumidor do segmento costuma evitar –, o C4 Lounge tem configurações flex de R$ 66.990 e R$ 72.490 e a turbinada THP Exclusive a gasolina, de R$ 77.990. Já o Civic custa R$ 69.990 com motor 1.8 e, com o motor 2.0, tem as versões LXR, de R$ 74.490, e EXR, de R$ 83.990. Para completar, o Ford, como já mostramos, vem em três versões, com preços quase iguais aos do Civic, porém mais equipadas (a começar pelo controle de estabilidade, item de série desde o modelo de entrada). Nas configurações topo de linha comparadas aqui, o Citroën leva vantagem de R$ 4 mil em relação ao Civic, e o Focus, de R$ 2 mil (ambos com itens que o japonês não tem, como airbags de cortina, retrovisor eletrocrômico e entrada e partida sem chave). Com todos os opcionais, o C4 Lounge sai por R$ 81.290 e o Focus Titanium, por R$ 89.990. Confira na tabela de equipamentos o que as opções mais caras dos três sedãs entregam – e por que, na relação preço-conteúdo, os dois novos desafiantes já dão um susto no rei.

Dentro dos carros, logo de cara chama a atenção a diferença no acabamento. Enquanto o Civic tem pouco couro nas portas, materiais simples e é repleto de plásticos duros (embora com texturas), Focus e C4 esbanjam superfícies emborrachadas e materiais sofisticados. É parte do “algo a mais” de que eles precisam para invadir o território dos japoneses. E, nesse ponto, se o Ford já merece elogios, o Citroën vai além. A marca aprendeu muito com a linha DS – seus “esportivos chiques” – e trouxe parte dessa experiência para o Lounge. Aposentou inovações como o volante de centro fixo do C4 Pallas em nome de mais sobriedade, mas tudo é bem encaixado, macio e agradável de ver e sentir.

E se o Citroën já leva vantagem no acabamento, ela é ampliada no espaço interno – e nesse ponto faz jus ao nome Lounge. Maior e com entre-eixos mais longo, o Citroën tem interior amplo, com espaço de sobra na frente e, principalmente, atrás. A porta traseira grande e com boa abertura torna o acesso bem mais fácil que nos rivais, e há saídas de ar para quem vai atrás desde a versão de entrada. Nesse quesito, o Focus decepciona – e perde também para o Civic. A porta traseira é pequena e há pouco espaço para as pernas. O Honda, além de um pouco mais espaçoso, tem assoalho plano – o que é bom para o quinto passageiro. E o Focus também perde no porta-malas: além de sua boca de acesso ser pequena, prejudicando a passagem de objetos grandes, tem capacidade cerca de 50 litros menor.

Ao volante, ficam ainda mais claros os alvos das novidades: o Focus ataca o Civic, o C4 mira o Corolla. E, nessas investidas, ambos são bem-sucedidos. O Ford, como manda a tradição, esbanja esportividade. Com o motor mais potente do trio, de 178 cv, e câmbio automatizado de dupla embreagem com seis marchas, ele acelera de 0-100 km/h em pouco mais de nove segundos e passa dos 200 km/h. Para completar, tem posição de dirigir baixa, direção direta e suspensões firmes, independentes (como o Civic) e muito bem calibradas. Em tudo que o Hondaoferece de positivo em prazer ao volante e dinâmica apurada, o Focus parece ir além. Mas cabe uma crítica às trocas sequenciais de marchas: enquanto o Civic tem borboletas no volante, o Focus só as permite por um botão na alavanca. Além de ergonomicamente ruim, não combina com a esportividade do carro.

Já o C4 tem desempenho absoluto ainda ligeiramente melhor, graças ao excelente conjunto mecânico dessa versão turbinada – o valente 1.6 de 165 cv com turbo twin-scroll produzido em parceria com a BMW e o excelente câmbio automático Aisin de seis marchas. Apesar disso, ao volante, se destaca mais por outras qualidades. As suspensões, com eixo de torção na traseira, são mais macias que nos rivais, a direção é menos direta… Tudo feito para uma experiência mais “família”, mais neutra, mais… Corolla. O motor, como as suspensões, funciona com baixo ruído – até porque, graças ao excelente torque com pico a apenas 1.400 rpm e quase estável em toda a faixa de rotações, sempre gira baixo. As respostas são imediatas, sem turbo lag, e o câmbio é suave (em oposição a certa agressividade da caixa do Focus). Para completar a experiência agradável na estrada, tem alerta de ponto-cego e, como opcional, faróis de xenônio direcionais, indisponíveis nos rivais (os do Focus têm luz auxiliar de curvas, não canhões móveis).

Depois da compra, todos têm garantia de três anos. No seguro, o Civic tem apólice e franquia mais caras. Já o C4 perde nos preços de peças e revisões obrigatórias. Nesses dois pontos, Civic e Focus são similares, com certa vantagem para o japonês no custo das visitas às concessionárias – para quem roda 20 mil quilômetros por ano ou mais (confira tabela abaixo). Já para quem usa pouco o carro, as revisões semestrais da Ford são um transtorno, e fazem com que os gastos em três anos sejam bem mais altos que os de um dono de Civic: o cliente que percorre só 10 mil quilômetros ao ano gasta, durante o período de garantia, R$ 879,30 com o Civic e R$ 3.508 com o Focus (R$ 1.568 com o Citroën).

No fim, se você é fã da neutralidade do Corolla, compre o C4 Lounge. Tem ótimo acabamento, rodar extremamente confortável e ainda é mais espaçoso. Andar mais é um belo bônus. Nessa versão turbinada, porém, o chassi é quase incompatível com a desenvoltura do motor. Por isso, pense também na configuração com motor flex, suficiente para sua proposta relaxada. Já se você prefere a pegada esportiva do Civic, fique com o Focus. Além de ter um design mais atual, O Ford é mais rápido, equilibrado e divertido – e ainda tem acabamento mais sofisticado e lista de equipamentos de tecnologia e segurança mais generosa. O rei que se cuide…