Audi e BMW fecharam o cerco, a Mercedes reagiu. Em busca do consumidor mais jovem, que vinha perdendo para as concorrentes, a marca decidiu rejuvenescer seus carros e apostou principalmente na esportividade ao criar seu novo Classe A. Não por acaso, é na plataforma dele que toda uma nova família de modelos com tração dianteira está sendo desenvolvida. Mas isso o leitor assíduo de MOTOR SHOW já sabia. Em 2009, adiantamos esses planos e, em março deste ano, mostramos com exclusividade como ficaria o CLA, o cupê de quatro portas que chega no ano que vem (leia quadro). Agora, é hora de conhecer o novo SUV que a marca prepara para combater Audi Q3 e BMW X1, mas que, graças à nova plataforma, terá preço para brigar com as versões topo de linha de Hyundai ix35, Kia Sportage, Honda CR-V, Chevrolet Captiva, Mitsubishi ASX e companhia.

Fotos exclusivas de nossos espiões na Europa já mostram o utilitário-esportivo quase sem camuflagem. A partir delas, criamos as ilustrações que você confere nestas páginas. O novo SUV, que a Mercedes lança daqui a pouco mais de um ano, terá 4,40 m de comprimento, mesma medida dos rivais citados. Apesar de o chamarmos provisoriamente de GLA, esse pode não ser seu nome definitivo: especula-se, ainda, GLC ou MLK. No design, ele não se diferencia muito do Classe A. Dele, deve emprestar, além da plataforma, o painel e o comportamento dinâmico exemplar – para um modelo de tração dianteira, diriam os mais puristas fãs da marca, que sempre privilegiou a tração traseira (com exceção dos antigos Classe A e B).

A princípio, o GLA terá duas opções de motorização: no modelo básico, um 1.6 com turbo e injeção direta que, no Classe A, gera 156 cv e um excelente torque de 25,5 kgfm de 1.250 a 4.000 rpm (números quase iguais aos do 1.8 do atual C 180 vendido aqui). Já a versão topo de linha terá um 2.0 também turbinado e com injeção direta de 211 cv e 35,7 kgfm de 1.200 a 4.000 rpm. Mais tarde, surgirá também a versão superesportiva AMG. As duas unidades são perfeitas para um SUV, principalmente pelo ótimo torque disponível em baixas rotações.

A transmissão do GLA será sempre a DCT, automatizada de dupla embreagem e com sete velocidades. A versão manual de seis marchas (1.6) deve ficar restrita à Europa, com chances remotas de ser oferecida no Brasil. Já a tração 4×4, como manda o mercado, será opcional na versão topo de linha com motor 2.0. A grande maioria das vendas, como tem ocorrido com os outros modelos do segmento, deve ser das versões 1.6 e 2.0 de tração dianteira.

Se na Europa a Mercedes tem tido problemas com as rivais alemãs, aqui no Brasil a briga com Audi e BMW tende a ser ainda mais difícil. A final, a BMW, depois de muita novela, está prestes a finalmente anunciar sua fábrica no Brasil (leia quadro) e a Audi acaba de confirmar uma nova unidade no México – negada veementemente pelo então presidente da Audi do Brasil, Paulo Kakinoff, em entrevista exclusiva à MOTOR SHOW durante o Salão de Frankfurt de 2011. Com a nova geração do BMW X1 (que também terá tração dianteira) fabricada aqui e com a possibilidade de o Audi Q3 sair das linhas mexicanas e chegar sem pagar Imposto de Importação, a Mercedes não vai ficar de braços cruzados. Tudo isso, portanto, só reforça o que dissemos no começo deste ano: a Mercedes reivindica com a matriz a oportunidade de voltar a produzir carros de passeio no Brasil. Para completar, ainda há o novo regime automotivo, que vai privilegiar com redução de IPI e outros benefícios as marcas que tiverem bastante conteúdo nacional e projetos de investimentos no País, além de carros com baixo consumo (isso já garantido pelos modernos 1.6 e 2.0 do GLA). Assim, não há muito como a Mercedes escapar de produzir essa nova família de tração dianteira aqui, como dissemos em março – e o grupo Renault-Nissan, mais novo aliado da Mercedes, deve ter papel importante nessa missão, como também adiantamos na época.

Todas essas informações foram reforçadas no Salão de Genebra deste ano – quando MOTOR SHOW já circulava nas bancas com o CLA na capa e a informação sobre a possibilidade de voltarmos a ter modelos da Mercedes fabricados no Brasil. Philipp Schiemer, vice-presidente de marketing da marca, disse a jornalistas brasileiros presentes no evento que “essa posição sobre uma fábrica brasileira estava distante, mas hoje está bem mais próxima”. E ainda completou: “O plano pode ficar muito mais fácil com um parceiro, que pode ser a Renault, mas também temos a Nissan.” O próprio Dieter Zetsche, CEO do grupo Daimler que trabalhou no ABC paulista nos anos 1980 e tem uma falha paulistana, já havia dito à revista ISTOÉ DINHEIRO no ano passado que “o Brasil está cheio de oportunidades” e que a marca poderia, sim, voltar a produzir no País. Além disso, em abril deste ano, Zetsche citou a aliança com o grupo nipo-francês como uma possibilidade para que isso acontecesse. Algo que também já havíamos antecipado.

Como se não bastasse, no final de agosto, a versão alemã do jornal Financial Times disse que a Mercedes vai fabricar modelos no Leste Europeu em parceria com o grupo Renault-Nissan, mais especificamente os carros dessa nova família. Assim, do mesmo modo que o grupo produzirá Mercedes na Europa, parece que também vai fabricá-los no Brasil. A hipótese mais provável é que a marca aproveite a fábrica que a Nissan está construindo em Resende (RJ) e fica pronta em 2014. Mas não dá para descartar a possibilidade de procurar, por conta do parque instalado de fornecedores, uma localização mais próxima da BMW – que ficará em Santa Catarina.