Mais de 46 anos separam esses dois Fiat 500. Um deles é o Cinquecento original, de 1966; o outro, sua releitura, fabricada no México em 2012. O modelo dos anos 1960 foi um projeto de Dante Giacosa, baseado no VW Fusca – lançado em julho de 1957 para substituir o 500 Topolino, um modelo de dois lugares de grande sucesso na Europa no final dos anos 1930. Logo virou um símbolo da reestruturação econômica da Itália no pós-guerra. “Comprei o carro na Itália e restaurei no Brasil. Sou o quarto proprietário dele. Estava bem conservado e o trabalho de restauração levou oito meses. Todas as peças são originais e já conquistei prêmios nos encontros de Araxá (MG), Águas de Lindóia (SP) e São Caetano do Sul (SP)”, conta Álvaro Valente, dono do pequenino 500 antigo que você vê nas fotos.

A versão moderna do 500 chegou ao mercado europeu em 2007, quando era fabricada apenas na Polônia. Por aqui, desembarcou em 2009 com preço próximo dos R$ 60 mil – e, em 2011, também passou a ser produzido na fábrica da Chrysler em Toluca, no México. De lá, é exportado para Estados Unidos, Canadá, China e Brasil. Sem pagar Imposto de Importação devido ao acordo de livre comércio com aquele país, ficou mais barato e hoje é encontrado por valores a partir de R$ 42.630. Diferentemente de seu antecessor, que também atendia ao pedido das famílias por carros acessíveis, rapidamente caiu no gosto dos consumidores “descolados”.

O Fiat cresceu consideravelmente nas dimensões, nos motores e, principalmente, na tecnologia embarcada. Mesmo assim, manteve inalterado o conceito de carro urbano. O tamanho ainda reduzido da carroceria aumenta a praticidade, facilita os deslocamentos e ajuda na hora de estacionar. Nos primeiros 500 as portas eram do tipo suicida – com abertura invertida –, mas, a partir da década de 1960, elas passaram a ser abertas da maneira convencional. Ambos levam quatro passageiros, mas com um espaço bastante limitado para as pernas de quem viaja no banco traseiro. Outros elementos do interior do modelo original também foram repetidos no atual. O painel do Cinquecento de 1966 trazia somente o velocímetro circular – que foi incorporado no modelo 2012. Além disso, nele os acabamentos eram pintados na cor da carroceria. Até mesmo o teto de lona foi reinterpretado na linha atual – na versão Cabrio – com a diferença da abertura maior e do acionamento elétrico.

Ao dar a partida no 500 “quarentão”, o som peculiar do motor de dois cilindros invade a cabine. No breve contato que tivemos com ele, deu para perceber que as reações são comedidas, mas, graças ao baixíssimo peso, ele não demora a embalar. O câmbio manual de quatro marchas tem engates curtos e as suspensões com molas helicoidais na frente e com feixe atrás têm acerto firme e pouco curso: boa parte das imperfeições do piso é passada para o motorista.

Sob o capô do novo 500, um motor 1.4 flex de 88 cv ou o 1.4 MultiAir de 105 cv. O câmbio pode ser manual de cinco marchas, automatizado Dualogic ou automático de seis velocidades com opção de trocas sequenciais (no MultiAir). O desempenho é suficiente e condiz com a sua proposta.

As suspensões hoje têm ajuste macio para maior conforto. Nas curvas, no entanto, a carroceria rola além da conta. A direção é elétrica Dual Drive (que enrijece no modo Sport, que também deixa as respostas do acelerador mais rápidas). Esse 500 “moderninho” é também mais preocupado com a segurança e traz de série os freios ABS com EBD (distribuição eletrônica da força de frenagem), o controle de estabilidade e de tração, a sinalização de frenagem de emergência, os airbags dianteiros e o assistente de partida em subidas. Além disso, o Eco Drive ensina o condutor a dirigir de uma maneira mais econômica.

É verdade, muita coisa mudou nessas décadas todas que separam os dois modelos. Mas o fato é que nem mesmo o tempo tirou o charme desse modelo visionário.