18/10/2020 - 8:09
Nesta coluna, Emerson Fittipaldi fala sobre quanto acelerou um Mercedes-Benz W125.
“Falar sobre Ayrton Senna e sua terrível morte nos meus últimos textos me fez pensar muito na questão da segurança da Fórmula 1. E, acreditem, ela já foi muito pior. Durante minha longa carreira no automobilismo, que começou sobre duas rodas no Brasil, quando era adolescente, e terminou com um grande acidente no Michigan International Speedway, EUA, quando eu tinha quase 50 anos, as maiores mudanças que vi ocorrerem foram relacionadas à segurança.
Pensem bem. Mesmo 80 anos atrás, os monopostos que disputavam os Grande Prêmios eram incrivelmente rápidos. Tomemos, por exemplo, o Mercedes-Benz W125, que foi pilotado pelo grande Rudolf Caracciola e levado ao primeiro lugar no Campeonato Europeu de 1937, precursor do atual Campeonato Mundial de Fórmula 1.
Aquele carro monstruoso tinha um motor dianteiro de oito cilindros em linha com 5,7 litros (ou 348 polegadas cúbicas) que produzia mais de 600 cv. Preparado para corridas, com pneus skinny cross-ply, era facilmente capaz de atingir 300 km/h. Na verdade, uma versão especialmente adaptada do carro, chamada Rekordwagen, atingiu a velocidade de 432,7 km/h em um quilômetro cronometrado naquele ano: não é o que você chamaria de lento.
Na verdade, em termos de velocidade em linha reta, não era mais lento do que os carros de Fórmula 1 e os Indycars de hoje. No entanto, se você olhar as fotos antigas do W125 em ação, verá que os heróis sem capacete que o dirigiam estavam quase totalmente desprotegidos.
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E se a aceleração e a velocidade máxima deste carro eram impressionantes mesmo para os padrões modernos, sua frenagem, direção, handling e aderência à pista não eram. Quanto aos circuitos, me faltam palavras. Eles eram ridiculamente perigosos.
Eu dirigi um W125 em uma corrida de demonstração da Mercedes-Benz, no antigo e famoso circuito de Hockenheim, durante o fim de semana do Grande Prêmio da Alemanha de 1997. Usei um solidéu de couro em vez de um capacete, para fazer as fotos parecerem mais autênticas, e dei umas baforadas em um dos charutos Fittipaldi, de minha própria marca, enquanto subia a bordo.
Havia me aposentado das corridas e pretendia só dar uma passeada, mas, assim que acelerei aquele grande e velho oito cilindros em linha e entrei no circuito, a adrenalina começou a circular por minhas veias e simplesmente não havia mais como eu resistir à tentação de seguir acelerando mais fundo.
Disseram que alcancei velocidades superiores a 274 km/h nas áreas de frenagem para as chicanes, e posso dizer que era importante não me confundir enquanto fazia isso – e eu me confundi. Por quê? Porque a embreagem do W125 fica do lado esquerdo, o freio, à direita, e o acelerador, no centro. Então não se desacelera muito ao pisar no pedal do meio! E eu simplesmente adorei. Mas era seguro? Não. Sem dúvida, não.”
