Com a morte de Senna (leia mais aqui), senti a tristeza mais profunda e intensa. Sabia que correr era perigoso, mas, além do pobre Roland Ratzenberger, morto em Ímola no dia anterior, a F1 não sofria fatalidades desde que Elio de Angelis morreu em testes em Paul Ricard em 1986, e ninguém havia morrido em GPs desde 1982 (Riccardo Paletti, em Montreal).

Além disso, o chassi dos carros dos anos 90 já eram de fibra de carbono muito resistentes, e isso talvez tenha nos levado a uma falsa sensação de segurança. Esperávamos que os motoristas saíssem andando de carros destruídos, e geralmente faziam isso.

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Mas, correr é perigoso, sabíamos disso na época e ainda sabemos. Até um piloto do brilhantismo de Ayrton Senna era impotente para evitar ferimentos em um acidente como o da Tamburello, Ímola, 1994.

Olhei para a equipe da Penske da Indycar, na garagem de Michigan, e disse: “Não posso continuar. Agora não.” Eles entenderam. Ayrton havia testado um Indycar Penske-Mercedes um ano antes, então os caras o conheciam. Isso ajudou.

Eu me senti sozinho, mas não solitário. Outros ao redor compartilharam minha tristeza, mesmo que a perda deles não fosse tão grave. Liguei para Roger Penske. “Tenho que ir para casa”, eu disse. Voei para Miami de noite. No voo para casa, fiquei entorpecido.

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A memória do funeral de Ayrton em São Paulo ficará comigo para sempre. Três milhões de brasileiros alinharam-se nas ruas da cidade pelas quais passou o cortejo. Tive a honra de velar Ayrton ao lado de Jackie Stewart, Alain Prost, Gerhard Berger, Damon Hill e Rubens Barrichello. Nós o enterramos no cemitério do Morumbi, São Paulo, e em sua lápide está gravado: “Nada pode me separar do amor de Deus”.

Nunca mais fui capaz de visitar o túmulo desde o fatídico dia. Eu amava Ayrton e tinha orgulho de o Brasil ter produzido tal campeão. Em 1969, cheguei à Inglaterra do Brasil e obtive sucesso rápido, vencendo o campeonato de F1 em 1972 (Lotus) e 1974 (McLaren). Me aposentei da F1 em 1980, e o título de “campeão brasileiro” foi herdado por Nelson Piquet, que venceu o campeonato em 1981, 1983 (Brabham) e 1987 (Williams).

Então, quando a estrela de Nelson começou a se apagar, o palco da F1 ganhou o maior de todos. Ayrton venceu os campeonatos mundiais para a McLaren em 1988, 1990 e 1991, e seu nome sempre serão sinônimo das excelentes máquinas vermelhas e brancas.

O resultado é uma cultura da consciência brasileira da F1 que espero que nunca morra. Nós três vencemos oito campeonatos em 20 temporadas, uma taxa impressionante, e meu irmão Wilson e nosso amigo Carlos Pace, que morreram em 1977, também deveriam ser homenageado por suas contribuições. Idem para Barrichello e Massa.

Mas, como eu disse, Ayrton foi o maior piloto de todos os tempos (leia aqui)  – e ainda é amado com devoção frenética no Brasil. Nas corridas em Interlagos, ao acenar para a torcida, aceno não só por mim, mas também por Senna, que venceu em Interlagos em 1991 e 1993, de McLaren. Sinto a presença de Ayrton todo dia. E rezo por ele sempre. Um dia nos encontraremos novamente.