31/10/2017 - 11:31
Para mim, Monza é agridoce. Pilotei a primeira vez lá em 1970, um dos finais de semana mais difíceis da minha vida. Acabara de entrar na Lotus, e meu parceiro Jochen Rindt liderava o campeonato. Na manhã de sábado, porém, depois de tomar café comigo, ele bateu na Curva Parabolica e morreu. Fiquei devastado. A Lotus abandonou a prova, então só estreei em Monza em 1971 – um ano ruim para a Lotus (corri no Type 56B experimental, com motor Pratt&Whitney, e cheguei em oitavo).
Já em 1972 a situação era bem diferente. Cheguei em Monza liderando o campeonato, e só Denny Hulme, da McLaren, tinha chances – e bastante baixas – de me roubar o título. Mas o fim de semana começou da pior maneira possível. No caminho para Monza, nossa plataforma se envolveu em um acidente e meu carro ficou seriamente danificado. Um substituto tinha que ser montado e enviado a Monza em tempo recorde – uma tarefa muito difícil, e que deu todos os problemas previstos.
Como frequentemente ocorre em Monza, as Ferrari foram muito rápidas já nos treinos. Jacky Ickx colocou sua 312-B2 na pole, enquanto os companheiros de equipe Clay Regazzoni e Mario Andretti foram quarto e sétimo, respectivamente. Em segundo lugar ficou Chris Amon na sua Matra, em terceiro Jackie Stewart na Tyrrell, e em quinto Denny na McLaren. Eu consegui apenas um tímido sexto lugar com a Lotus. Mas o pior viria no dia da corrida. Nos treinos livres, descobrimos um vazamento no tanque do meu carro. Eddie Dennis, meu mecânico-chefe, disse: “Emerson, temos pouco tempo, mas teremos que trocá-lo”. Os mecânicos foram simplesmente brilhantes e poucos minutos antes da corrida começar botaram um tanque novinho em folha no meu carro.
Mas foi então que algo estranho aconteceu. Depois de um fim de semana até então cheio de problemas, de repente tudo começou a conspirar a nosso favor. O câmbio do Tyrrell de Jackie quebrou ainda no grid e os freios do Matra de Chris falharam logo na terceira volta. A corrida ganhou ritmo e Jacky e Clay lideravam a prova, levando os apaixonados ferraristas à loucura em sua própria casa. Eu seguia em terceiro. Mas então, na volta 17, Clay abandonou a prova com problemas na suspensão, me deixando em segundo, atrás apenas da Ferrari de Jacky.
Finalmente, a apenas nove voltas do final, o motor de Jacky quebrou e eu assumi a liderança. Aquelas nove voltas pareciam intermináveis, mas terminaram. Quando finalmente cruzei a linha de chegada, ganhando a corrida e o título, tornando-me o mais jovem campeão da F1 e o primeiro brasileiro, lembro de ver Colin Chapman jogando o boné para o alto e de imaginar meu pai na televisão – ele era comentarista – descrevendo a cena para a minha família, que assistia a prova em uma pequena tevê preto-e-branco em São Paulo.