Que fique claro: sempre amei a Fórmula 1, sempre amei correr. Amava antes e amo agora. Corridas sempre foram – e ainda são – a razão da minha vida. Acredito que vim ao mundo para pilotar carros de corrida.

Sempre fui rápido no molhado, sempre gostei do desafio extra que as chuvas traziam. E sempre gostei de correr em circuitos super-rápidos que de fato testaram a coragem e a habilidade dos pilotos – pistas desafiadoras como Nurburgring e Interlagos (ambas no traçado antigo), Brands Hatch, Watkins Glen, Osterreichring e outros. Sempre soube que a profissão que escolhi era perigosa. E sempre aceitei esse risco.

Porém, em duas ocasiões na minha carreira na Fórmula 1 encontrei condições que apresentavam nível inaceitável de perigo – e nessas duas ocasiões acabei decidindo ir para os boxes e abandonar a prova antes do final, por conta própria.

A primeira vez foi em Montjuic (Espanha) em 1975, pois os organizadores não tinham colocado adequadamente guard-rails, apesar de os pilotos terem suplicado; a segunda foi em Fuji, no ano seguinte, em 1976.

No caso de Montjuic, minha decisão foi claramente correta, considerando a tragédia que se seguiu – o grave acidente de Rolf Stommelen que acabou matando cinco espectadores de forma totalmente vergonhosa e evitável, quando seu carro da Hill-Ford voou sobre a arquibancada e atingiu a multidão (é importante deixar claro que Rolf em si não teve nada a ver com o acidente, e foi totalmente inocente).

Já na corrida de Fuji (Japão), em 1976, tivemos muita sorte – mas não se enganem, poderíamos ter visto uma tragédia de proporções iguais ou maiores se Deus não tivesse sorrindo para nós naquele fatídico dia. Estava ridiculamente perigoso. A água parada tornou a aquaplanagem inevitável e apenas 11 dos 25 carros que começaram a corrida conseguiram a terminar de fato.

Carros em aquaplanagem são impossíveis de controlar. Havia, portanto, grave risco de que os carros pudessem rodar mesmo nas retas, de tão profundas que eram as poças, e que fossem atingidos por outros carros, cujos pilotos seriam incapazes de ver os já parados debaixo de tanta névoa e sprays d’água.

É impossível imaginar um Grande Prêmio começando em condições similares hoje em dia, nem mesmo que fosse atrás do Safety Car – e é claro que nós não tínhamos Safety Cars naquela época. Hoje a Fórmula 1 está cada vez mais segura, e eu espero que continue com essa evolução.