10/07/2015 - 10:32
Mesmo agora, mais de meio século depois da minha primeira corrida, continuo amando as competições como sempre. Correr ainda é minha vida. Vamos começar pelo início de tudo. Nasci em dezembro de 1946, em São Paulo, e meu pai e minha mãe eram fãs de competições. Meu pai, Wilson, o Barão, competiu em algumas corridas depois da Segunda Guerra, mas ganhou a vida como comentarista de rádio e tevê, cobrindo competições. Lembro-me de minha mãe, quando eu ainda não tinha nem seis anos, correndo com um Mercedes-Benz 180 a diesel em Interlagos, inaugurado em 1940. Fiquei orgulhoso. Em 1954, meu pai me levou para ver uma corrida de motos em um parque em São Paulo, um local muito perigoso para competir.
O vencedor foi o inglês John Surtees, com sua Norton Manx. John era um piloto fantástico em duas rodas e depois em quatro rodas. Muito anos depois fiquei muito feliz em dizer pessoalmente a ele que o vi vencer em São Paulo quando eu tinha apenas 7 anos de idade. Mesmo quando garoto, eu já tinha sido fisgado pelas competições. Mais do que tudo, de alguma forma eu queria estar envolvido com as corridas a qualquer custo. Queria correr de carro, mas era um sonho distante. Então comecei a aprender mais sobre mecânica, já que isso me fascinava e eu pensava que seria útil mais tarde. Carros foram minha primeira paixão, mas você precisava ter 17 anos para correr no Brasil.
Mas, com 14 anos, poderia competir de moto. Comecei na pista com uma 50 cm3, uma pequena “cinquentinha” que eu mesmo preparei. Aprendi como ser um mecânico desse jeito, por minha conta, na base de tentativa e erro. Mas também comecei a estudar formalmente, fazendo Engenharia Mecânica. E aprendi rápido. Logo eu era bom o bastante para trabalhar nos karts com meu irmão mais velho, Wilson, e seu amigo José Carlos Pace. Eles eram uns dois anos mais velhos e logo progredi das duas para as quatro rodas. Fiquei muito orgulhoso quando Wilson se tornou campeão brasileiro de kart, exatamente porque fui seu mecânico durante aquela temporada campeã.
Para correr se gasta muito dinheiro e eu era só um adolescente, não tinha grana nenhuma. Mas o fato de ter me tornado um bom mecânico era uma vantagem. Quando tinha 15 anos, comecei no ramo de acessórios para carros. Tirei a patente de um volante de alumínio Fórmula 1, que o pessoal usava em Fusca. Vendia rodas de magnésio, escapes esportivos e kits de dupla carburação. No final, estava construindo e vendendo mini-karts. Quando fiz 16 anos, já podia comprar uma moto maior, com um belo motor, mas meus pais descobriram meus planos e me proibiram de competir. Eles achavam que eu era muito jovem para correr com algo mais rápido do que uma “cinquentinha”.