GIUSEPPE MARINELLI “Existe preparação e existe bruxaria, que é o caso dos motores turbo”

Uma vida dedicada aos motores e às corridas. Giuseppe Marinelli nasceu em 3 de março de 1943, em Sammichele Bari, na Itália. Pino, como é chamado pelos amigos, acumulou passagens históricas em sua carreira, como trabalhar na oficina do lendário Carlo Abarth e, anos mais tarde, já funcionário da Fiat, ajudou a marca a ganhar o Primeiro Campeonato Brasileiro de Marcas. Além disso, o italiano também percorreu quase um milhão de quilômetros na mítica pista de Nardò como piloto de testes. Seu conhecimento e envolvimento com as pistas o levou a montar a sua própria equipe de rali, considerada por muito tempo o maior e melhor time da categoria. Durante esta divertida entrevista exclusiva, Marinelli nos revelou, entre outras coisas, a curiosa história da Ferrari F40.

Como o sr. descobriu o talento para a pilotagem?

Na infância, dirigia um trator na fazenda do meu pai, na Itália. Até o dia em que acelerei demais e não consegui frear para fazer uma curva. Não tive escolha, pulei e deixei o trator capotar. O meu pai quase me matou (risos). Nessa época, pegava todo o meu dinheiro e aplicava em mecânica, além de alugar uma moto nos finais de semana. Quando a minha família decidiu, me presentear com uma motocicleta de 48 cm3. A primeira coisa que fiz foi aumentar para 60 cm3. Tinha 11 anos e essa foi a minha primeira preparação.

Como foi trabalhar ao lado do mestre Carlo Abarth?

Todo o meu conhecimento devo a ele. O Carlo era um preparador muito inteligente e exigente. Aos 18 anos, comecei a trabalhar na preparação dos Fiat 500 e 600. Eu lia os catálogos do mundo inteiro e encomendava os componentes. O nível de preparação era impressionante e os motores não quebravam. Foi o Carlo Abarth quem inventou o duplo comando de válvulas. Com 20 anos, montei a minha própria oficina e conheci o engenheiro Massimello, da Fiat Auto. Ele tinha um Fiat 124 Spider, um pouco instável e me propus a fazer um novo acerto de suspensão. Ele falou: “Marinelli, você transformou o carro”. Foi o meu passe para a Fiat.

Qual a experiência de andar no circuito de Nardò?

Era jovem e tinha fogo nas veias. Os testes de durabilidade eram feitos na velocidade máxima o dia inteiro. Não dava para enxergar o nal da reta. Eu saía de Turim na segunda e voltava para casa só na sexta. Fazia com um amor intenso esse tipo de trabalho. Foi uma experiência prazerosa e única. Tenho muita saudade dessa época. Também tive a oportunidade de conhecer o Enzo Ferrari. Em uma ocasião, a Ferrari queria colocar um carro no campeonato de marcas junto com os Porsches. Mas, em Nardò, perceberam que a F40 era inferior aos concorrentes e decidiram transformá-la em uma série especial e vender como versão de rua.

Conte como foi a sua transição para o Brasil.

Desembarquei no Brasil em setembro de 1974 para fazer parte da equipe de testes do Fiat 147. Gostei tanto que decidi não voltar mais para a Itália (risos). Além disso, desde então, montei a minha oficina de competição. O 147 foi o primeiro carro a álcool do mercado. E quem dava o aval final era a matriz italiana. Com o modelo fui do Chuí a Caracas, na Venezuela. O carro só precisou trocar o óleo.

E como foi a sua vida nas pistas?

O sr. foi um dos responsáveis por introduzir a Fiat no mundo das competições. Verdade. Eu fui um dos grandes responsáveis pela vitória da Fiat no primeiro Campeonato Brasileiro de Marcas de 1983. Ganhamos o campeonato, sem nenhuma pole, porque nunca tivemos uma quebra. Certa vez, correndo de 147, fizeram um sorteio e ganhei o último lugar do grid. Logo na terceira volta estava atrás do líder Paulo Gomes. Passei por fora, e olhando para ele. Não sei o que deu no Paulo. Ele me deu uma “porrada” na lateral que fui parar no guard rail. Reclamei e a organização da prova disse que ele estava pegando o vácuo lateral. Respondi que isso não existe, mas ninguém deu bola (risos). Também competi de Uno com motor 1.800 na categoria Hot Car. Em uma outra ocasião, guiei o Tempra usado como Pace Car, durante a etapa de Interlagos da Fórmula 1. Um privilégio sentar no mesmo carro que o Ayrton Senna também tinha dirigido.

Como surgiu a ideia de ter a sua própria equipe?

O mais engraçado é que não gosto de rali. Nunca fui muito fã de terra e sim de asfalto (risos). Montei uma equipe com oito carros, considerada a maior e melhor que existia. A Marinelli Team ganhou praticamente tudo o que disputou. Por exemplo, o campeonato paulista e o mineiro. Até a minha lha compete nas categorias.

O sr. prefere um motor aspirado ou turbo?

Aspirado é melhor. É preparação benfeita ou bruxaria, que é o caso do turbo (risos). Diminui a durabilidade e os componentes sofrem. Na minha opinião, o melhor motor da Fiat é o cinco cilindros do Marea, pelo equilíbrio. Foi uma pena descontinuá-lo. Em uma ocasião, estava fazendo um motor de competição e entre as modificações pedidas estava o aumento do curso do virabrequim. Fiz a retifica à mão. Era o futuro Fiasa 1.490 cm3 do Palio.

Foi uma vida intensa cheia de vitórias.

Não tem nada na vida de que eu não possa lembrar. Sempre fiz tudo com muito amor e paixão.