Perto do sóbrio e elegante Chevrolet Tracker, o Ford EcoSport parece um pavão. Seus faróis bem finos, a grade exagerada e o démodé estepe do lado de fora deixam o utilitário esportivo da Ford muito mais chamativo do que o “mini Captiva” da General Motors. Em termos de qualidade do produto e atualidade do projeto, o Tracker é um concorrente muito mais difícil para o EcoSport – líder no ranking com mais de 5.600 unidades vendidas por mês – do que o Renault Duster, vice-líder do segmento (média de 3.700 por mês). Mas, com sua versão mais barata custando R$ 72.190 (LTZ 1.8 AT pacote 1SD, o Chevrolet Tracker não tem chances de enfrentar o Ford EcoSport na briga de vendas, pois o líder oferece versões a partir de R$ 55.690 (motor 1.6). A versão 2.0 mais barata do Eco parte de R$ 68.990 (Free Style 4WD). Por isso, neste comparativo, vamos nos ater às versões avaliadas, que são as mais completas: Tracker LTZ 1.8 AT pacote 1SE (R$ 75.690) e EcoSport Titanium Plus 2.0 Power Shift (R$ 77.690).

Os dois carros têm o mesmo comprimento e largura, mas o Tracker é um tiquinho mais baixo e tem 3,4 cm a mais na distância entre-eixos. Dirigindo os veículos, entretanto, a diferença de comportamento parece ser superior à frieza dos baixos números. O Tracker é um veículo mais estável, você sente que o carro está mais assentado no chão. De milímetro em milímetro, o Chevrolet ganhou mais estabilidade, pois seus pneus são um centímetro mais largos que o do EcoSport (215/55 R18 contra 205/60 R16) e servem para uso em estrada, mais estáveis do que os pneus de uso misto do Eco. As rodas maiores também contribuíram para o visual do Tracker. Outro ponto favorável ao modelo da GM é o espaço no banco de trás, um pouco maior.

A posição de dirigir é boa nos dois, pois oferecem ajustes de altura e de encosto no banco; o volante pode ser regulado na altura e na profundidade. O volante do Tracker tem uma empunhadura mais agradável, por ser ligeiramente mais grosso. Entretanto, o EcoSport dá um show quando se trata de analisar o quadro de instrumentos e o sistema multimídia. É uma pena que a GM não tenha dotado o Tracker do mesmo cluster do Captiva, afinal estamos falando de dois irmãos Chevrolet. Provavelmente para reduzir o custo, o Tracker ganhou o mesmo quadro de instrumentos dos Chevrolet mais baratos, como o Prisma e o Onix. Esse equipamento é confuso, pois tem um contagiros analógico gigante (o carro nem esportivo é) e os demais itens numa parte retangular e digital. O Captiva não, ele tem três “relógios” redondos que formam um lindo conjunto. O EcoSport, portanto, vence neste quesito, pois as informações de velocidade, giros do motor e consumo, entre outras, estão fáceis de ler e têm desenho coerente.

O sistema multimídia MyLink, da Chevrolet, é muito bom, fácil de usar e oferece boa interatividade com os passageiros numa tela de bom tamanho. Só a memória das estações de rádio é um pouco complicada. Já o sistema Sync da Ford é muito avançado e fácil de operar, embora sua tela seja minúscula e fique mais distante da vista dos passageiros da frente. Ele permite mais recursos, como comando por voz, e seus botões são bastante intuitivos. Por outro lado, o Tracker também parece ser mais bonito por dentro e com acabamento superior. E tem mais: a tela do MyLink exibe a imagem da câmera de ré no Tracker, enquanto o EcoSport tem apenas sensores de estacionamento com indicação gráfica de proximidade no painel (mas também eficientes).

Os dois têm praticamente a mesma potência. Afinal, os 146 cv de potência do motor 2.0 flex do Eco empurram 1.316 quilos, enquanto os 144 cv do motor 1.8 flex do Tracker empurram 1.390 quilos. A relação peso/potência é de 9,0 kg/cv no Ford e de 9,6 kg/cv no Chevrolet. O resultado disso é que o EcoSport acelera de 0-100 km/h em 11,4 segundos, enquanto o Tracker precisa de 11,5 segundos. Só pilotos numa pista se preocupam com um décimo de segundo. Na busca de potência, o motor Chevrolet N18XFF é mais eficiente do que o Ford Duratec, pois aquele consegue 80 cv/litro contra 73 cv/litro deste. Seria o motor do Tracker menos econômico? Pelas medições do computador de bordo, sim. Além disso, a GM nem sequer participa do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular, enquanto o EcoSport 2.0 exibe selo verde de nota A do Inmetro na categoria de utilitários esportivos. Com etanol, o Eco 2.0 automático faz 6,7 km/l na cidade e 8,0 km/l na estrada; com gasolina, sua autonomia é de 9,7 km/l na cidade e de 11,9 km/l na estrada. Assim, ele tem um alcance de 613 quilômetros. Não sabemos até onde o tanque de 53 litros do Tracker pode levá-lo. Deixamos uma sugestão à GM para que volte ao programa de etiquetagem, pois mesmo um consumo inferior dará mais tranquilidade aos seus consumidores do que simplesmente não divulgar os números. Aliás, dos 90 pontos que separaram o Tracker 1.8 do EcoSport 2.0, no dossiê Compra do Ano, vencido pelo Ford, 80 foram no item consumo.

Em torque eles se equivalem, pois os 19,6 kgfm do EcoSport surgem somente a 4.500 rpm, enquanto os 18,9 kgfm do Tracker estão disponíveis a partir de 3.800 rpm. Os dois carros têm seis marchas e ambos oferecem um botão de troca na lateral esquerda da manopla – solução meio chata, diga-se. O Tracker usa a consagrada transmissão GF6 de segunda geração do Cruze, enquanto o PowerShift do EcoSport é automatizado com dupla embreagem. As mudanças do câmbio automatizado dual clutch são mais rápidas. A direção do Tracker é hidráulica, um pouco mais pesada do que a do EcoSport, que é elétrica. Com os carros em movimento, entretanto, ambas são firmes e transmitem segurança.

Como sabemos que o motorista não é o único que decide a compra de um utilitárioesportivo, a briga fica nas preferências pessoais de cada família. Afinal, o que é melhor: controle de tração do Eco ou teto solar elétrico do Tracker? Piloto automático do Eco ou ajuste lombar elétrico do Tracker? Bagageiro no teto do Eco ou chave canivete do Tracker?

Um último ponto a ser destacado neste comparativo é a questão do estepe colocado do lado de fora do EcoSport e dentro do bagageiro do Tracker. Segundo a Ford, seus clientes praticamente exigiram que o novo EcoSport mantivesse o estepe para fora, para dar ideia de aventura. A Ford, claro, os atendeu. Com isso, além de ficar com um item que já saiu de moda, precisa ter a abertura do porta-malas horizontalmente, o que necessita de mais espaço do que a abertura vertical do Tracker. Em compensação, o espaço para bagagens é maior: o EcoSport comporta 362 litros, contra 306 litros do Tracker.

No final das contas, a conclusão é que os dois carros se completam. O carro “perfeito”, neste caso, teria o visual e o painel do Tracker, mas com o quadro de instrumentos, os equipamentos, o Sync (com tela do Tracker) e o câmbio do EcoSport. Mas não é possível. Portanto, pelo quadro de instrumentos, maior volume no porta-malas, sistema Sync e alguns itens que o rival não tem – como airbags de cortina, auxílio de partida em rampa, ar-condicionado digital, controle de estabilidade e tração, e principalmente pelo consumo, a vitória neste comparativo é do Ford EcoSport.