Não ando de motorista e não pretendo andar. Não gosto nem de sentar no banco do passageiro. Meu lugar é ao volante e por isso me tornei jornalista automotivo. Logo, esse BMW 535 GT, para mim, não faz sentido. Exageradamente grande, seu projeto privilegiou o espaço interno, principalmente traseiro. Se andasse de motorista, seria uma opção. Com 3,07 m de entre-eixos, quem viaja atrás tem o espaço de um Série 7 de R$ 500 mil – e pagando bem menos, cerca de R$ 323 mil (valores ainda sem o aumento no IPI).

O designer do modelo, Christopher Weil, frisou que ele “mostra melhor seu valor de dentro para fora”. Será que nem ele gostou do resultado final? Eu achei assustador… como se já não bastasse a polêmica causada pelo X6. Mas, independentemente da minha opinião, tanto o X6 quanto esse GT são um sucesso, gerando “frutos”, como os Audi A7 e Q6 e, na própria BMW, o Série 3 GT. Misturar conceitos é moda, e, enquanto ela durar, carros como esse continuarão surgindo.

No banco do motorista, mesmo não gostando do desenho, reconheço que é um excelente carro. O conjunto de motor seis cilindros turbo, com 306 cv e câmbio automático de oito velocidades, é impecável, garantindo um desempenho surpreendente para seu tamanho. O comportamento dinâmico do GT também impressiona, considerando seu conforto ao rodar, sua altura e seu peso – mas tudo isso no Série 5 Sedan é ainda melhor.

O teto solar panorâmico proporciona luminosidade no interior, que é muito versátil: o banco traseiro, pela primeira vez em um BMW, é corrediço e a tampa do porta-malas abre em dois estágios, conforme a necessidade. No mais, apesar de estranho, ainda é um BMW, e dos mais luxuosos. A lista de itens de série é completíssima, o conforto é enorme, e por aí vai…

O Audi A7 tem o mesmo preço e também ousa no design, mas com um resultado harmonioso. Sem mudar de marca, eu pagaria R$ 35 mil a menos em um tradicional sedã Série 5 com o mesmo excelente motor (535i) ou ainda R$ 30 mil a mais no 550i, com um V8 biturbo de 407 cv. Ficaria muito mais feliz sempre que o visse, com suas linhas agradáveis e tradicionais. Podem me tachar de conservador, mas esse GT passou dos limites.

BMW 535i Gran Turismo

MOTOR seis cilindros em linha, 3,0 litros, 24V, turbo, injeção direta, comando variável TRANSMISSÃO automática sequencial, oito marchas, tração traseira DIMENSÕES comp.: 5,00 m – larg.: 1,90 m – alt.: 1,56 m ENTRE-EIXOS 3,070 m PORTA-MALAS 440 a 1.700 litros PNEUS dianteiros: 245/45 R19 – traseiros: 275/40 R19 PESO 1.940 kg ● GASOLINA POTÊNCIA 306 cv a 5.800 rpm TORQUE 40,8 kgfm de 1.200 a 5.000 rpm VEL. MÁXIMA 250 km/h (lim.) 0 – 100 km/h 6s3 CONSUMO cid.: 8,1 km/l – est.: 14,9 km/l (Europa) CONSUMO REAL não disponível

Além do generoso espaço, quem vai atrás tem telas multimídia individuais

O painel segue as linhas clássicas da BMW. Ao lado, a tela do navegador GPS; a alavanca do câmbio de pito marchas; os controles do sistema multimídia e do computador de bordo; o CD player e o ar-condicionado; e as enormes rodas

CONTRA PONTO

● Discordo do Flavio Silveira. Sou fã da BMW e sempre olho com atenção suas novas propostas e projetos. Para mim, ele faz muito sentido: o objetivo da marca com esse misto de crossover e hatch foi o maior espaço interno possível para os passageiros, principalmente aqueles que sentam no banco traseiro. Mas isso não significa que motorista e acompanhante sejam mal-servidos. Muito pelo contrário: para quem dirige, o carro é pura satisfação, como cabe a um BMW. Concordo que suas linhas não sejam as mais bonitas e harmoniosas, mas o projetista pensou na facilidade do entrar e sair e na comodidade interior. Que o sedã Série 5 é mais bonito e atraente é um fato, mas ele não proporciona um bem-estar interior sequer semelhante ao do GT. Grande e aparentemente desengonçado, ele é dinamicamente elogiável (mesmo com centro de gravidade mais alto que o do sedã, não perde nada para o três volumes em sua dinâmica) e o casamento entre o motor turbo e o câmbio de oito marchas faz toda a diferença. Nada estranho!

DOUGLAS MENDONÇA| DIRETOR DE REDAÇÃO

OS CONCORRENTES

Audi A7 Sportback

“Por R$ 320 mil, ele é mais baixo, mais leve e mais rápido. Mas só leva quatro e com bem menos espaço no banco traseiro”

Rafael Poci Déa

Mercedes CLS

“O cupê quatro portas ajudou a criar essa fusão de carrocerias, mas é mais tradicional. Só na versão AMG, custa R$ 420 mil”

Ana Flávia Furlan

BMW Série 5

“Como disse o Flavio Silveira, o tradicional sedã, para quem curte dirigir, é mais interessante. E ainda tem a opção do motor V8”

Bruna Marconi