Quando comemoraram o aumento de 30 pontos percentuais na cobrança do IPI para importados, anunciado no nal do ano passado, as fabricantes nacionais nem imaginavam que uma bomba de semelhante poder destrutivo estava prestes a cair em seu quintal. Como a nova alíquota não atingia os carros produzidos no México, marcas como a Fiat e a Nissan, que basearam parte de seu planejamento estratégico na produção de modelos naquele país, continuariam sendo bene ciadas.

Devido ao acordo de livre comércio existente entre o Brasil e o México desde 2002, os carros feitos lá podiam ser trazidos para cá livres do Imposto de Importação de 35%. Uma boa dianteira ante os carros importados fora do eixo. Um CR-V, por exemplo, vindo do México, tem preço atraente quando comparado a um ix35 coreano. Resultado? Ele vende mais até que carros nacionais como EcoSport e Duster. A estratégia era tão segura e rentável que a entrada de carros mexicanos no País começou a fugir do controle e o sinal de alerta acendeu no governo. O déficit comercial era enorme. Em 2011, compramos US$ 2 bilhões em automóveis de lá e eles, em contrapartida, importaram apenas US$ 536 milhões de modelos nacionais. O governo brasileiro decidiu que era hora de rever o acordo.

Depois de algumas semanas de discussão, com farpas trocadas e até ameaças de ruptura total do acordo automotivo, Brasil e México chegaram a um consenso, que estabeleceu cotas para o vai e vém de carros entre os países. De março de 2012 a março de 2013, ficarão isentas do imposto de importação as operações até um limite de US$ 1,45 bilhão. Para chegar a esse número, foi considerado o volume médio dos últimos três anos. Essa cota será aumentada gradualmente até chegar a US$ 1,64 bilhão. Além disso, os dois países se comprometeram a aumentar o conteúdo de nacionalização dos modelos locais. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, não esconde o desejo de que esses carros, mais sofisticados, passem a ser produzidos no Brasil. “Há essa intenção, embora não explícita. É um objetivo a ser alcançado”, afirmou.

A Nissan poderá garantir uma fatia interessante na cota de exportação, já que essa divisão cabe ao México, onde a marca é líder de vendas

A decisão sobre qual marca terá direito à maior parte desse bolo ficará para o México. Foi essa a condição imposta por eles para negociar a cota. Com isso, quem ganha é a Nissan. Líder em vendas no mercado mexicano, ela não teria a mesma força de barganha caso a decisão ficasse a cargo da brasileira Anfavea. O que muda para o consumidor? Provavelmente muito pouco. Conforme já havíamos publicado na edição de julho de 2008, na reportagem Mexicanos: quanto valem?, o lucro da montadora, quando produz um carro naquele país, chega a ser 80% maior do que se fosse feito na Alemanha ou no Japão. Considerando isso, dá para imaginar que as nuvens serão mais assustadoras do que a tempestade que anunciam. Segundo MOTOR SHOW apurou, as montadoras não devem desabastecer o mercado nacional, quarto maior do mundo. O mais provável é que elas rachem o prejuízo com o consumidor. Parte do imposto cobrado sobre os modelos que passarem da cota será absorvida pelas marcas e parte será diluída no custo das unidades que ficaram isentas. Se houver um aumento, deverá ser pequeno.

Colaborou Denize Bacoccina

O que é feito lá e vendido aqui

Dodge: Journey

Fiat: Freemont e 500

Ford: Fusion e New Fiesta

Chevrolet: Captiva

Honda: CR-V

Nissan: Versa, Tiida, Sentra, March e Tiida Sedan

Volkswagen: Jetta e Jetta Variant