Depois de uma má fase, a Fórmula 3 volta revigorada e, este ano, utilizará carros iguais aos europeus

“Meu sonho é me viabilizar como piloto”, diz Leonardo Cordeiro, de 18 anos, competidor da Fórmula 3 SulAmericana. A categoria é considerada o último passo no Brasil para quem pretende seguir carreira no automobilismo internacional. O que não é ideal. É que para acelerar os 255 cv de um F3 o correto seria que o piloto tivesse passado por categorias inferiores, mas as únicas disponíveis até agora são regionais, sem muita visibilidade, que usam carros antigos da extinta Fórmula Ford.

A partir deste ano, entra para o calendário paulista: a Super Fórmula 2.0, que usará carros da antiga Fórmula Renault. Já a Fiat estuda criar, com o apoio do piloto Felipe Massa, mais uma categoria de base, que se chamaria Fórmula Fiat, mas ainda não há data para a idéia sair do papel. O fato é que faltam competições em nível nacional. “Para me adaptar aos monopostos cheguei a fazer duas corridas de Fórmula SP”, conta Leonardo. “Correr na F3 vindo do kart é um salto muito grande”, confessa o piloto.

Uma das únicas opções de categoria de base, até o ano de 2007, a F3 não vinha numa boa fase com grids pequenos e pouca divulgação. Com a mudança de sua organização no início de 2008, uma série de alterações prometem melhorar a competitividade na temporada, que este ano foi vencida por Nelson Melo, da equipe RC3 Bassani que, como prêmio, fará um dia de testes na Indy Light (último degrau para a Fórmula Indy). “Nosso objetivo é revelar talentos, só assim o Brasil continuará bem reprensentado lá fora”, afirma Dilson Motta, organizador da F3.

E ainda há mais novidades para este ano, entre elas a importação de novos carros, iguais aos da F3 européia. Com isso, os atuais correrão em uma divisão mais baixa, denominada Light. Para Motta, o que não faltam são planos. Um deles é a formação de uma categoria intermediária, que serviria de ponte entre o kart e a Fórmula 3 Light, buraco deixado pela Fórmula Renault. “Tudo vai depender de como será 2009. Estou bastante otimista e, se tudo correr bem, há possibilidade de criarmos uma modalidade preparatória para quem sai do kart”, conta Motta. Mas isso não é uma tarefa fácil.

Acima, Eduardo Bassani, atual chefe da equipe campeã em 2008. Abaixo, uma corrida de Formula Jr, uma das categorias de base que desapareceram, e o pódio da Fórmula 3 com toda a equipe de Amir Nars ainda com Hélio Castro Neves no time

Acima, Leonardo Cordeiro, piloto da Fórmula 3 que sonha em se firmar no automobilismo internacional. Para ele, assim como para qualquer piloto que saiu do kart, a categoria é um salto grande demais. Mas não há opção. Hoje ou o piloto vai para a Stock Car ou para a F3. A idéia é criar níveis menores que propiciem mais experiência aos novatos. Para o chefe da equipe Amir Nars (à esq.), “o importante é não desistir nunca”

Com intenção de cobrir essa mesma lacuna, Antônio de Souza Filho, diretor de marketing da CBA, chegou a tentar promover a Fórmula Brasil 1.6 e 2.0, que usaria os antigos carros de Fórmula Renault 2.0 e Fórmula Jr 1.6. Por falta de apoio, a tentativa não vingou e, já na primeira prova, o grid estava com apenas seis carros. “A idéia não foi descartada, pois o País vive um bom momento no esporte a motor”, afirma Souza.

O grande problema é que o automobilismo é um esporte caro. Para fazer um campeonato de kart, o gasto por mês gira em torno dos R$ 15 mil e uma temporada de F3 sai em média R$ 800 mil. Isso tudo, mais a dificuldade de conseguir patrocínios, afugenta muitos talentos. “Os empresários têm que botar a mão na consciência, senão, depois desta geração que já está na Europa, não haverá mais brasileiros nos representando”, desabafa Eduardo Bassani, chefe da equipe RC3 Bassani de F3. Mesmo com todos os empecilhos, de acordo com Amir Nars, chefe da equipe de F3 que leva seu nome, “o maior erro que um piloto pode cometer é parar de sonhar, pois o sonho é o combustível de uma boa carreira”.