Um Lamborghini Huracán aventureiro? Em Sant’Agata, Itália, os engenheiros da Lamborghini geralmente não precisam de conselhos. Sabem muito bem o que é preciso para se fazer um supercarro. Mas há sempre a hora de pensar “fora da caixa”, de criar coisas novas, não convencionais, contracorrente, contraditórias.

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Aí as decisões ficam difíceis, muito difíceis, pois sua força disruptiva ao mesmo tempo convence e nos deixa inquietos. É assim que me sinto na província de Brindisi, junto com três colegas de outras partes do mundo que vieram até Nardò, por décadas uma das pistas mais famosas do mundo para desenvolvimento de carros (agora de propriedade da Porsche).

Teoricamente, tenho que participar de algo que ficaria no meio do caminho entre um brainstorming e uma clínica com potenciais clientes. Na prática, trabalhar um dia no R&D (Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento) da Lamborghini, cara a cara com este estranhíssimo Lamborghini Huracán “aventureiro”. O importante, hoje, são nossas reações a um carro tão particular: em breve, o conselho de administração da Lambo terá que decidir se dá sinal verde ao projeto.

Não, só que sim

Assim que você vê esse Lamborghini Huracán pela primeira vez, você diz não. Um “não” imediato, no sentido mais etimológico do adjetivo: não mediado, mas vindo diretamente do coração e do fígado. Pouco depois, porém, cabe ao nosso cérebro sobrepor esse carro às versões Safari do Porsche 911, vislumbrar algo de um Lancia Stratos e, depois de alguns instantes, até pensar nas versões de Rally do Jarama (1973) e do Urraco (1974).

Nesse ponto, você percebe que, antes de mais nada, não devemos julgar este Lamborghini Huracán (que a marca está pensando em batizar de Sterrato) com as categorias usuais, dos europeus conservadores: não é um carro para nós, nem seria. Mas o mundo é muito grande e, entre a Califórnia, a Austrália, a Arábia e o Brasil, muitos poderiam apreciar a capacidade desta máquina de lidar com cenários desafiadores. Um carro para quem vai surfar depois do trabalho, direto para a praia. É pensando nisso que entro no carro e caio na pista de testes.

Atrás do motorista fica o motor V10 de 640 cv com 5,2 litros do Lambo Performante (ou do Huracán Evo, se você preferir). No resto, as diferenças mecânicas são facilmente resumidas: suspensões elevadas em 4,7 cm, pneus mais largos (30 mm) em rodas aro 20, pneus tipo “balão” protuberantes com ombros que nunca se imaginou num Lamborghini.

Dinâmica de Huracán

É o suficiente para mudar muito o Lamborghini Huracán, e não apenas a estética – mas também na pista. A direção não é aquela afiada da qual você se lembra nos Lambo, a carroceria passou a rolar minimamente, mas é preciso um pouco mais de tempo para tirar conclusões. É mais uma questão de se adaptar, de se convencer de que o Huracán pode ser outra coisa, diferente do que sempre foi.

Enquanto aplico minha alma e meu corpo para tentar entender o que o Lamborghini Huracán Sterrato realmente é, uma coisa ficou clara desde o começo: dirigi-lo é divertidíssimo. É o Lambo menos extremo que já passou por minhas mãos, e isso o torna muito fácil.

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O Lamborghini Huracán Sterrato é um tipo de ponte entre o Huracán e o Urus, o super-SUV e maior sucesso da marca no Brasil (leia aqui). Além disso, foi aqui em Nardò, durante o desenvolvimento do SUV, que a ideia de dar a ela um irmão de duas portas começou a tomar forma. O motor empurra com força, com a habitual magia das 8.500 rpm aspiradas, enquanto o acerto faz parte do que o torna diferente. Assim como a aparência, é algo muito livre, por assim dizer.

As transferências de carga são sentidas com força. Eu disse força, não prepotência. Em qualquer caso,suficiente para impor a regra antiga de “se você está em dúvida, não exagere”. Porque o sobresterço está sempre lá, à espreita. Sempre.

Mas não se preocupe: esse Lamborghini Huracán é um amigo que ajuda você, não um adversário que fica distante. Se não exagerar no acelerador, supera as curvas sem problemas. Mas é difícil resistir. Ainda mais depois que você começa. Porque a ignorância do Sterrato é graciosa, nada vulgar, está toda a serviço de uma palavra que já usei aqui, mas que permanece a única capaz de resumir da melhor maneira: diversão. E diversão pura.

Loucura genial

Com o nome que tem, este Lamborghini Huracán não é para pistas de asfalto. Você vai para o fora de estrada e definitivamente se convence de que o que está dirigindo não é uma loucura. Mesmo que seja, é uma loucura genial. Passa longe da racionalidade, e esta é sua beleza: às vezes parece voltar no tempo, quando nem tudo foi medido com o medidor frio e inflexível da lógica. Você se sente quase num buggy da era moderna, e a baixa aderência não abala muito: você continua a dirigi-lo com instinto e compensando no acelerador.

A prevalência das rodas traseiras é evidente e permite colocá-lo de lado num instante, mas se você exagerar é ele mesmo quem te salva: transfere parte da tração para o eixo dianteiro e o controle é restaurado, com o nariz apontando novamente na direção correta.

As acelerações são impressionantes, e na última volta, acredite, ele acabou me convencendo: o Lamborghini Huracán Sterrato tem o direito de existir. Hoje é uma provocação, amanhã pode ser outra coisa. Por exemplo, a demonstração de que fronteiras podem, às vezes, podem se transformar em horizontes.


Ficha técnica:

Lamborghini Huracán Sterrato

Preço estimado na Europa: R$ 670.000 (€ 150.000)
Preço estimado no Brasil: R$ 2.000.000
Motor: dez cilindros em V 5.2, 40V, duplo comando continuamente variável, injeção direta
Cilindrada: 5204 cm³
Combustível: gasolina
Potência: 640 cv a 8.000 rpm
Torque: 61,2 kgfm a 6.500 rpm
Câmbio: automatizada, dupla embreagem, sete marchas
Direção: elétrica
Suspensões: duplo A (d/t), magnética, diferencial traseiro autoblocante
Freios: disco de carbocerâmica ventilados e perfurados (d/t)
Tração: integral
Dimensões: 4,52 m (c), 1,93 m (l), 1,23 m (a)
Entre-eixos: 2,62 m
Pneus: n/d, aro 20
Porta-malas: 100 litros
Tanque: n/d
Peso: n/d
0-100 km/h: 3s2*
0-200 km/h: 12s*
Velocidade máxima: 303 km/h*
Consumo cidade: 5,3 km/l*
Consumo estrada: 7,0 km/l*
Emissão de CO²: 250 g/km
Nota do Inmetro: (ainda) não vendido no Brasil

*aproximadas