O Brasil é um país de carros caros, muito caros. O mais em conta (Fiat Palio Fire 2 portas) custa o olho da cara: R$ 27.340. Seu atual principal concorrente em termos de preço, o Volkswagen Gol Special 2 portas, custa R$ 30.230. Menor do que ambos, o VW Up Take 2 portas sai por R$ 30.560. Nenhum desses carros vem equipado com ar-condicionado e direção assistida – dois itens fundamentais para a imensa maioria dos consumidores. Na visão da Ford, esses carros “pelados” são apenas modelos de ficção, não encontrados nas concessionárias porque ninguém os quer e, por isso, nenhum revendedor encomenda-os. Servem apenas para vendas no atacado, para empresas que maltratam seus motoristas em carros de frota sem ar-condicionado num país de clima quente. Assim, o Ford Ka começa em R$ 38.990, já equipado com ar, direção elétrica e outros equipamentos inéditos na categoria, como controle de estabilidade e tração. Com ar e direção, o Palio Fire passa para R$ 32.425, o Gol Special sobe para R$ 32.680 e o Up Take chega a R$ 35.260.

Essa introdução serve para dizer que os quase 11.000 dólares cobrados por modelos 1.0 de entrada (dinheiro que nos Estados Unidos quase daria para comprar um Nissan Versa 1.6) deixam um enorme segmento aberto no Brasil: o de carros verdadeiramente populares. Estou falando de veículos subcompactos, econômicos e com preço abaixo de R$ 24.000. Quem ocupar esse filão vai vender muito automóvel. A Ford, como sabemos, desistiu de produzir modelos subcompactos depois de passar mais de uma década sofrendo com o Ka da primeira geração. Ela acredita que o brasileiro simplesmente não compra carros subcompactos. Sua tese é comprovada em parte pela Volkswagen, que introduziu o Up nesse nicho mas, de tão caro, em 13 meses de vida e 100.000 unidades produzidas depois, ele ainda soma 76.092 vendas, enquanto o Gol fazia os 100.000 (de venda) em apenas quatro meses.

Por isso, quem está com a faca e o queijo Minas nas mãos é a Fiat, cuja fábrica mineira não para de crescer. A partir do ano que vem, a produção da Fiat em Betim passará das atuais 950.000 unidades/ano para 1,2 milhão de unidades/ano. Dessa forma, Betim vai se consolidar como a segunda maior fábrica de automóveis do mundo, perdendo apenas para a planta da Hyundai em Ulson, na Coreia do Sul, que produz 1,5 milhão de carros/ano. Essa ampliação servirá para o nascimento de um novíssimo Fiat subcompacto, que chega em 2016 para ocupar o lugar que era do falecido Uno Mille.

É uma aposta ousada da Fiat, diante dos modestos desempenhos do Ford Ka da primeira geração e do VW Up. Afinal, dos 697.000 veículos de entrada vendidos no Brasil em 2014, apenas 8,4% foram subcompactos. Em 2015, esse percentual é maior, ocupando 12,1% dos 142.000 modelos de entrada vendidos no primeiro trimestre.

Pouco se sabe sobre o futuro subcompacto da Fiat. O projeto X1H não tem nome oficial conhecido e, embora já tenha sido flagrado cheio de disfarces em testes, nenhum desenho do modelo pode ser considerado realmente confiável. Aqui mostramos uma das imagens que já circularam pela internet. É certo, porém, que esse carro vai estrear o novo motor 3 cilindros da Fiat. Vai ser um propulsor 0.9 MultiAir com tecnologia flex para brigar com os motores tricilíndricos que já equipam o próprio VW Up, o VW Fox, o Ford Ka, o Hyundai HB20 e o Nissan March. A grande expectativa, entretanto, é sobre a política de preços. Se esse subcompacto da Fiat custar abaixo de R$ 28.000 com ar e direção, aí sim poderemos ter quebrado o paradigma de que carro subcompacto não vende no Brasil. Mas, se vier com a mesma política de preços dos carros atuais, teremos apenas um Up com com sotaque italiano.