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Apesar do barulho da estreia, não precisa ser um Galileu Galilei para observar que o mundo não gira em torno do Mobi. Na verdade, ele é apenas o “segundo planeta” a girar em torno de um sol chamado “carro subcompacto”. O primeiro foi o Up, lançado pela Volkswagen em 2014. Assim como Terra e Venus ou Terra e Marte, a gosto do observador, Mobi e Up têm muito em comum. Nas versões escolhidas, além do preço na faixa de R$ 42.000 (o Fiat é R$ 290 mais em conta), até os nomes são parecidos, com seus estrangeirismos da moda: Move/Mobi, Up/On.

A Fiat acrescentou um Like. Curtiu? Bem, o Up, poucos curtiram. Ele nunca foi um estrondo de vendas no Brasil. Talvez a chegada do Mobi ajude a ressaltar suas qualidades. Ou tire possíveis clientes. Na dúvida, vale a pena comparar os dois subcompactos. Um dos pontos fracos do Up é o design. Limpo demais, alemão demais, sem graça. Por isso, o Mobi chegou com um desenho mais ousado, com grandes saliências na carroceria. Segundo a Fiat, brasileiríssimo, criado para o gosto tupiniquim.

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Vistos de frente, o Mobi é mais atraente. De lado, o Up mostra ter um desenho simples, porém elegante, enquanto no Mobi a dianteira é tão saliente que o carro parece ter “acabado” no meio. Quanto à traseira, a do Up é triste e insossa, mas a do Mobi é cafona. Se o Volks não empolga, o Fiat pode cansar em pouco tempo. A primeira coisa que chama atenção ao entrar no Mobi é o banco extremamente macio. O assento é tão fofo que parece que você está no sofá de sua casa. A posição de dirigir é boa, mas a maciez do banco deixa o corpo afundado.

O Up tem os bancos rígidos e transfere para os ocupantes as irregularidades do piso. Sua suspensão também é mais dura, pois trata-se uma característica da Volks. Rodando, o subcompacto da Fiat é mais confortável e isso agrada à maioria dos consumidores. O display central do Mobi fica um pouco distante para manuseio do motorista, mas ele compensa com alguns comandos no volante. O painel do Fiat tem excesso de elementos, porém com a vantagem de oferecer duas saídas de ar na direção dos passageiros, enquanto as do Up estão direcionadas para o teto do veículo.

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Num país tropical, as pessoas querem o jato fresco direto no corpo. Além disso, seu console central traz dois porta-copos, contra apenas um do Volks. Por ser mais baixo, o console do Mobi não bate na perna do motorista, ao contrário do que ocorre ao dirigir o Up. De qualquer forma, é visível que o painel do Up foi criado só para ele. O do Mobi reaproveitou peças de outros carros. Os dois carros são apertados atrás (é incrível que sejam homologados para cinco pessoas).

Se o motorista e o passageiro de trás tiverem 1,80 m, os joelhos de quem está atrás vão bater no banco da frente. No Mobi, a cabeça também raspa no teto. Mas a abertura das portas traseiras é mais generosa no carro da Fiat. Não pode passar despercebido o fato de o Mobi ignorar um importante equipamento de segurança dos carros lançados nesta década, que é o isofix para fixação de cadeirinhas de bebês. O Up tem. E ainda exibe cinco estrelas no crash-test do Latin NCap. Nesse caso, a Fiat apostou na pouca importância que muitos brasileiros dão para itens de segurança.

A ousadia do Mobi fica por conta da tampa do porta-malas inteiramente de vidro. A Volks preferiu não arriscar ao nacionalizar o Up. Na prática, isso exigiu um certo malabarismo construtivo da Fiat, que precisou reforçar o para-choque traseiro e foi obrigada a utilizar dois feiosos plásticos pretos que escondem os amortecedores da tampa do porta-malas. Aliás, o do Up tem 285 litros; o do Mobi tem 215 nessa versão. O “porta-malas inteligente” do Mobi consiste de uma caixa removível e do banco bipartido, que permite várias configurações para o acomodamento de bagagens.

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O banco do Up é rebatível inteiramente, o que inviabiliza carregar passageiro atrás. No dia a dia, sentimos falta da abertura do porta-malas do Mobi sem a chave (embora ele abra por dentro). Quanto à tampa de vidro, reduziu bastante a área de visibilidade traseira do Fiat. Com relação aos equipamentos, o Mobi Like On traz de série três itens importantes que são oferecidos apenas opcionalmente no Move Up: faróis de neblina, rodas de liga leve e sensor de estacionamento.

Esse pacote de opcionais custa R$ 1.078 e deixa o Up R$ 1.368 mais caro que o Mobi. Em compensação, o Volkswagen traz dois itens inexistentes no Fiat: imobilizador eletrônico e partida a frio sem tanquinho. Esse último item denuncia o atraso do motor 4 cilindros do Mobi em relação ao 3 cilindros com duplo comando de válvulas do Up. Com etanol, o motor do VW tem a mais 7 cv de potência e 0,5 kgfm de torque, entregue 800 rpm antes. Combinada com os pesos dos carros, que são similares, a tecnologia dos motores faz enorme diferença na dirigibilidade e no consumo.

O Up é 1,5 segundo mais rápido na aceleração de 0-100 km/h. Como ninguém vai apostar corrida na rua, essa vantagem pode ser sentida nas saídas de semáforos, em ultrapassagens e principalmente nas subidas. Enquanto o Up avança com naturalidade, o Mobi precisou adotar um acelerador mais “arisco” e não entrega sua potência com suavidade. Devido ao motor, o Fiat tem um consumo pior em qualquer tipo de uso.

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Numa média de tanque com 50% de gasolina e 50% de etanol, o Mobi gastaria na estrada o mesmo que o Up na cidade. Com 20 litros de gasolina, o Mobi roda 238 km no trânsito urbano; o Up atinge 270 km. Pelo critério que utilizamos nas nossas notas, o Move Up venceu este comparativo, pois obteve duas estrelas e meia de média, contra duas estrelas do Mobi Like On. O carro da Volkswagen é superior, tem mais vida. Entretanto, a guerra do marketing é outra coisa. A Fiat é agressiva e sabe “vender o peixe”.

Podemos dizer que o Up é a equilibrada Terra, enquanto o Mobi é um pouco Vênus (quente demais) e um pouco Marte (ainda sem a receita perfeita). Mas, para sua decisão final, damos quatro razões para você comprar um Mobi (design, acabamento interno, maciez da suspensão e equipamentos de série) e quatro motivos para você adquirir um Up (motor, desempenho, consumo e segurança). As razões do Mobi todo mundo vê. Os motivos do Up é preciso sentir, medir ou confiar – não estão à vista.

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