13/09/2025 - 18:00
Parece que foi ontem, mas fazem exatos 35 anos que o Fiat Uno Mille estreou no Brasil. Pacífico Paoli, então CEO da Fiat no Brasil, fez um convite para a revista Quatro Rodas: apresentaria em Betim, Minas Geraes, dois extremos de modelos dentro do Grupo Fiat.
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De um lado, o sedanzão Alfa Romeo 164, que seria um dos primeiros carros de luxo importados para o mercado brasileiro, e do outro o popular Uno Mille, o primeiro Fiat do povo, que nasceu graças ao incentivo governamental de baixa dos impostos para modelos com motor de até 1.000 cm³.
Alfa Romeo 164: sedanzão de luxo

O Alfa Romeo 164 era o ápice do luxo e do desempenho. Equipado com um motor V6 3.0, produzia 184 cv de potência e um torque máximo ao redor dos 27 mkgf. Um canhão para a época! Mas tinha seu preço: era oferecido ao sortudo e rico consumidor brasileiro pela bagatela de 130 mil Dólares. Carro para poucos, e endinheirados.
Uno Mille: popular revolucionário

Em contrapartida, por uma pequena parcela desse valor, havia o inédito Uno Mille. Esse pequeno e modesto Fiat, com a isenção de IPI e ICMS, seria oferecido ao consumidor brasileiro pelo atraente preço de 7 mil Dólares. Um carro simples, sem nenhum luxo ou requinte, mas que, graças ao seu pequeno motor 1.0 de 48 cv, era econômico e atendia bem as necessidades de uma família brasileira.
Para essa empreitada jornalística, partimos eu e meu chefe na época, Luiz Bartolomais Jr. Adivinhem quem fez o teste do Alfa Romeo 164 e quem fez o teste com o Uno Mille? Claro que meu chefe escolheu o sedanzão de US$ 130 mil, e eu apresentei aos meus leitores o novo Uno Mille, que, esse sim, cabia no bolso do brasileiro. O objetivo do governo quando retirou os impostos dos carros com motores de até 1000 cm³ era o de incentivar nossa indústria automotiva, que naquele momento passava por dificuldades e vendas em baixa.

O projeto do Uno Mille
O Mille foi o primeiro carro brasileiro a atender as exigências governamentais da época: em tempo recorde, a Fiat já tinha um motor 1.0 pronto para ser instalados no Uno. Por isso, promulgada a lei, uma semana depois o carro já estava nas concessionárias da marca, pronto para ser vendido ao consumidor.
Foi uma correria atrás do novo e barato carro popular. As outras marcas, que foram pegas de surpresa, demoraram mais tempo para criar carros 1.0 em suas linhas de montagem e, por isso, a Fiat nadou de braçada por um longo tempo. Só para que se tenha uma ideia, as concorrentes só foram se mexer cerca de dois anos depois!

Como o Uno era vendido no mercado nacional com motor de pelo menos 1.300 cm³, na estreia do Mille, faltava potência e torque para mover o carro. Porém, se não era dos mais rápidos, compensava com médias interessantes de consumo, manutenção fácil (esse 999 cm³ era baseado no motor do antigo 147), e a robustez típica do projeto do hatch, que incluía até suspensão traseira por feixes de molas, como em caminhões.
Fui testar o Uno Mille. E…

Na época, Pacífico Paoli, italiano “chefão” da Fiat, me desafiou: “duvido que você consiga quebrar o motor ou o câmbio desse carro. Deixo o dia inteiro você tentar essa façanha”. E ainda fez piada: “só não vale bater o Mille em uma guia ou em um poste, hein?”. Aceitei a parada, e fui rodar com o novo popular, que ainda não havia sido lançado oficialmente. Essa era uma pré-apresentação para a Quatro Rodas.

Realmente, como o desempenho do Mille era modesto, com pouca potência e torque, os esforços para o conjunto motor/câmbio eram mínimos. Rodei o dia todo com o carro entre Betim e Belo Horizonte, exigindo tudo que o motorzinho podia me dar e trocando de marchas na velocidade de um piloto de Fórmula I. Sobrava carro para pouco motor, e o câmbio mostrava-se robusto naquele conjunto mecânico.

Missão comprida! Realmente o Uno Mille mostrava-se inquebrável. E esse era um ponto positivo para alguém que queria comprar um carro zero quilômetro, mas não dispunha de muitos recursos. Aprovado!
E o Alfa?
Você deve estar me perguntando: “e o Alfa Romeo 164? Também foi aprovado?”. Quem iria reprovar uma supermáquina daquelas? O carro era de sonhos com desempenho de arregalar os olhos, acelerando de 0 a 100 km/h na casa dos 8 segundos e atingindo a marca dos 220 km/h de máxima. Tudo isso com muito espaço, conforto, bancos forrados em couro com comando elétrico e outras gracinhas que inexistiam nos carros brasileiros. Dá para criticar? Tirando o preço, não.