Desde que saiu o regulamento oficial para a temporada da F-1 2010, um conflito entre a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) e a associação de times da F-1 (Fota) vem sendo um dos assuntos mais comentados da categoria. O documento impõe um teto orçamentário de US$ 60 milhões anuais para cada equipe na temporada 2010.

Este valor, apesar de parecer absurdamente alto, representa um corte de quase 80% nos gastos de uma escuderia grande – como a Ferrari. Segundo a FIA, o objetivo deste limite é evitar episódios como a saída da Honda – por conta da crise financeira – em dezembro do ano passado.

O teto orçamentário não será obrigatório, mas as equipes que aderirem a ele terão alguns privilégios, como permissão para usar motores com maior limite de giros e testes sempre liberados. Além da insatisfação com o limite de gastos, uma das principais reivindicações dos times é a assinatura de um novo Acordo da Concórdia, que rege a negociação comercial e técnica entre Fota, FIA e FOM (Formula One Management, que cuida da parte comercial da competição e é presidida por Bernie Ecclestone).

Este acordo garante a participação das equipes nos lucros da categoria e nas mudanças de regulamento. Assinado na última vez em 1997, o acordo expirou em 2007, e até agora não foi renovado. Sem ele, Max Mosley, presidente da FIA, e Bernie Ecclestone têm autonomia para fazer mudanças sem consultar equipes, como aconteceu agora.

O mal-estar entre os times e a FIA é tão grande que, mesmo com a Federação pressionando para que as equipes realizem as inscrições para o campeonato de 2010, a Fota, por meio de seu presidente, Luca di Montezemolo, ameaça sair da F-1 e montar uma categoria paralela. “A fim de evitar qualquer dúvida, a Ferrari reitera que não participará do Mundial de 2010 sob o regulamento aprovado pela FIA, que viola os direitos da escuderia”, informou em nota o time de Maranello.

A saída da escuderia italiana, única presente na F-1 desde seu início, representaria uma enorme diminuição no interesse pela categoria. A possibilidade de se formar uma nova competição cresce a cada dia.

O brasileiro Felipe Massa, em declaração ao site de sua escuderia, deu a entender que um novo campeonato pode ser a melhor opção para as equipes no momento. “Como as escuderias parecem estar bastante unidas, talvez seja a hora de se fazer algo diferente, algo que poderá ser bom para o esporte”, disso o piloto da Ferrari.

Acima, Luca di Montezemolo, presidente da Ferrari e da Fota, que conta com o apoio dos chefes de equipe. Entre eles Flávio Briatore e Ross Brawn (ao lado). Acima, o carro da Campos na GP2 de 2008, pilotado pelo brasileiro Luca di Grassi

Apesar do futuro da F-1 em risco, Bernie Ecclestone não perde a confiança. “A Fórmula 1 não quer perder a Ferrari, mas a Ferrari também não quer perder a Fórmula 1”, disse Ecclestone em entrevista à revista IstoÉ Dinheiro.

O que a Fota deseja é não estar sob o comando absoluto do presidente da FIA, Max Mosley, e negociar melhor a questão do teto orçamentário, que para as equipes é muito baixo. “A verdade é que há, sem dúvida, uma grande briga de vaidades e poder no meio de tudo isso”, opina o jornalista especializado Livio Orichio, do jornal O Estado de S. Paulo.

Segundo ele, a criação de um novo campeonato não é blefe, mas o mais provável é que se a situação sair do controle o verdadeiro chefão da F-1 pode interferir. “Se a discussão for longe demais, Ecclestone achará uma boa saída política. Afinal, outra categoria não seria interessante para nenhum dos lados”, diz.

Até o fechamento desta edição, apenas Williams, Force India e as novatas Campos, Manor e US F1 estavam confirmadas para 2010. As três estreantes estão entrando na categoria graças ao teto orçamentário. A Manor e a Campos atuam em categorias de base como a GP2 e a F-3 Inglesa. Já a US F1 marca a volta de um time americano para a F-1. A principal candidata a piloto é Danica Patrick, que hoje corre na Fórmula Indy.

Com ou sem as principais equipes que compõem a Fota, o Mundial do ano que vem já está confirmado, e com o custo mais baixo já há até fila de espera para entrar na categoria, caso alguma das atuais fique fora do campeonato de 2010. A única certeza que se tem é que a temporada da F-1 2010 já começou nos bastidores, e se a coisa está pegando fogo assim fora das pistas, imagine dentro delas.