02/01/2019 - 13:20
(Confira o prólogo aqui) No dia da corrida, porém, caiu uma tempestade absurda, e tudo que aprendemos se tornou irrelevante. Nunca em minha carreira, antes ou depois, vi uma chuva tão forte A pista estava inundada, com seu asfalto largo e plano coberto por lagos de água parada. Era claramente inseguro. Naquela época, fazíamos um aquecimento matinal no mesmo dia da corrida – e os acidentes que o marcaram deixaram claro que a chuva tornara inutilizável o circuito.
As enormes poças tornavam impossível os carros não aquaplanarem, não importa o que os pilotos fizessem para evitar, e o “spray” era tão forte que a visibilidade era terrível. Assim, ainda no warm-up, Carlos Pace bateu seu Brabham, seguido de Jean-Pierre Jarier (Shadow), Hans-Joachim Stuck (March) e Larry Perkins (Brabham). Todos perderam o controle dos carros naquelas condições absurdas.
Nós, pilotos, nos reunimos para discutir a situação, e eu queria adiar a largada (prevista para 13h30) até que a chuva diminuísse. A maioria concordou comigo. O atraso foi anunciado – e a chuva continuou. Às 15h, embora as condições não estivessem melhores, disseram que a corrida começaria em cinco minutos. Fiquei espantado. E com raiva: a chuva ainda estava forte, havia lagos de água, e a visibilidade tinha até piorado, com forte neblina na reta, reduzindo a visibilidade para menos de 200 metros.
Disse que faria voltas exploratórias, mas abandonaria a corrida se a considerasse insegura. Foi o que fiz, depois de só nove voltas. Larry e Carlos, da Brabham, também abandonaram a prova depois de uma e sete voltas, respectivamente. Mas nossas aposentadorias passaram despercebidas, porque depois de duas voltas Niki fez a mesma coisa, entregando o campeonato para James se ele conseguisse terminar entre os quatro primeiros. Niki foi para os boxes: ele ia se aposentar e James estava na liderança.
Foi a decisão certa, e sempre vou respeitar Niki por isso. Porque a pressão para continuar, principalmente da Ferrari e da imprensa italiana, era intensa. Assisti ao resto da corrida do pitwall Copersucar-Fittipaldi, e o que vi foi o caos. Senti pena de alguns pilotos – alguns foram ameaçados de demissão, outros continuaram por pura irresponsabilidade.
Mas tivemos sorte. James terminou em terceiro depois de um pneu furado, foi declarado campeão e, como disse, fiquei feliz por ele e meus velhos companheiros da McLaren. Agradeço a Deus por ter vigiado o asfalto encharcado de Fuji em 1976, quando, em vez de causar ferimentos ou até mortes, um GP virou uma lenda (37 anos depois deu origem ao filme “Rush”, que celebra a batalha pelo campeonato de 1976 entre meus amigos Niki e James).