01/07/2007 - 0:00
“Que da hora! Como você faz isso com um fusca?”, pergunta Joaquim Lo Preti, 10, ao ver os curiosos Fuscas durante nossa seção de fotos no bairro do Sumaré, em São Paulo. Realmente os rat rods são carros que despertam a curiosidade. E não só das crianças: motoboys, velhinhas, praticamente todos na rua olhavam, de queixo caído, para os fusquinhas modificados. Na verdade, um rat rod não precisa obrigatoriamente ser derivado de um fusca. “Nos EUA, são Frankensteins. Vão pintando as peças antigas, o cara vai montando o carro”,explica Eric Martins, 35, responsável pelos carros que mostramos aqui. A namorada Sabrina de Lucena Amadei, 25, explica que começaram juntos, há três anos, o projeto que deu origem à Escuderia Bad Bug (www.badbug.com.br).
Eric e Sabrina mostraram suas criações. O charme está nos detalhes: a alavanca de abertura do capô é uma chave combinada, os retrovisores são acessórios de época e os faróis das motocicletas Harley-Davidson
Eric sempre gostou de carros antigos e das reuniões dos grupos de fãs de veículos personalizados. “O objetivo é juntar gente e trocar peças e experiências”. Ele conta também que o Brasil está bastante atrasado na moda dos rat rods, e que na Europa e nos Estados Unidos, principalmente na Califórnia, esses carros já fazem bastante sucesso, e viraram moda há pelo menos sete anos.
O que chama mais atenção nos carros é o aspecto rústico e sujo: o acabamento interno das portas não existe, a pintura é fosca, e a ferrugem está por todos os lados, sem ninguém se preocupar em tratá-la. “A ferrugem faz parte. Não queremos ficar passando flanelinha. Pintei a caçamba na mão”, explica Sabrina.
O carro preto é chamado Harley Bug, por usar diversas peças de Harley-Davidson. A receita é criatividade nos detalhes, como a maçaneta do capô, que é uma chave combinada, os retrovisores de época e o pára-choques dianteiro que imita a ponta do chassi de um Ford 1932.
Não há como passar despercebido. As grandes rodas com pneus largos, as saídas de escapamento sob medida, tudo chama a atenção. No interior, destaque para a falta de acabamento nas portas
Sabrina e Eric reclamam das críticas que recebem tanto dos donos mais conservadores de hot-rods quanto dos fanáticos por fusca, que não gostaram muito dos seus rat rods. “O grande problema é a inveja, daí que vêm as críticas”, se defende. Por outro lado, “o pessoal do Clube do Fusca não teve resistência. Eu pensei que iam me criticar, mas acharam legal”, conta.
A principal diferença entre hot rods e rat rods está no acabamento. Nos primeiros, ele é impecável, e muitas vezes acompanhado de um bom sistema de som e modificações mecânicas para ganhar potência. Já nos rat rods o importante é colocar a mão na massa e não gastar muito. “Gostamos de passar a serra mesmo. Nosso negócio é fazer um carro barato e com muito estilo”, explica Sabrina.
Aos poucos, eles vão conquistando adeptos. Roberto Pereira da Silva, 19, é um deles: trabalhava na serralheria, que agora virou oficina, no bairro da Lapa. “Já gostava de Fusca. Quando vi os carros do Eric, foi um choque. Logo de cara resolvi fazer um para mim, e já comprei um Fusca branco. Assim que der vou começar a mexer nele”.
A picape é mais rústica, e sua pintura foi feita a mão por Sabrina. Já o espelho retrovisor é da Harley-Davidson. Abaixo, à direita, o casal curte o carro junto com os assistentes da oficina recém-montada
O casal já recebeu, inclusive, algumas encomendas. “A transformação leva de três a quatro meses”, diz Eric. Uma picape sai por R$ 16 mil, já incluído o preço do Fusca. O Harley Bug custa de R$ 18 a 20 mil, aprovado pelo Inmetro.
Com quatro carros já na fila, Eric e Sabrina não têm planos ambiciosos, não pretendem montar uma linha de produção. “Crescer é conseqüência, não quero criar muita expectativa. Fazemos isso porque gostamos. Se for necessário, crescemos”, explica. O negócio é a diversão.
A origem
A história dos rat rods é meio incerta. Segundo Eric, nos anos 30 os carro modificados eram chamados speedsters. Na década de 50 surgiu a revista Hot Rod, especializada nestes carros, que passaram a ser chamados pelo mesmo nome. Um cartunista e colunista da revista decidiu montar um Ford 32 modificado. Era um hot rod, mas não tinha nenhum acabamento. “Todos ficavam perguntando quando o carro seria terminado, e diziam que ele parecia um rato”, conta Eric. Daí surgiu o nome, que depois se popularizou graças à forte influência do colunista. Hoje podemos encontrar rat rods por todo o mundo, e a falta de acabamento é parte do charme deles.