O mercado brasileiro de automóveis está prestes a proporcionar um acontecimento raro: a saída de um Volkswagen da liderança anual de carros vendidos. No mesmo ritmo que fez o Atlético Mineiro virar dois jogos para 4-1 contra a dupla Flamengo/Corinthians e o Cruzeiro virar para 3-2 sobre o Santos na Vila Belmiro, o Fiat Palio – que é produzido em Betim, Minas Gerais – vem descontando uma diferença de 11.955 carros para o VW Gol.

Com o resultado de outubro, que saiu esta semana, o Palio reduziu a distância do Gol para apenas 1.796 carros. Faltam dois meses de vendas para terminar o ano. Nos últimos quatro meses, a média de vendas do Palio sobre o Gol foi de 2.760/mês. No último mês sua vantagem foi de 4.167 carros. A média necessária para essa virada é de apenas 899 unidades.
O Gol está na liderança anual do mercado brasileiro há 27 anos, desde 1987. Mais raro ainda do que a perda desse trono (se ocorrer) será a ausência de um modelo da Volkswagen no alto do pódio. Desde 1959, quando a recém-chegada indústria automobilística passou a contabilizar um ranking no Brasil, a Volks esteve no topo durante incríveis 50 anos. Meio século de liderança. Somente em quatro ocasiões um carro de outra marca ficou em primeiro lugar.

De 1959 a 1982, o campeão foi o VW Fusca. Em 1983, o Chevrolet Chevette terminou em primeiro lugar. Depois veio o tetracampeonato da GM, com três títulos seguidos do Chevrolet Monza, em 1984/85/86. Finalmente, de 1987 a 2013, o VW Gol reinou absoluto. Se o Palio conseguir essa proeza, será o quinto carro a chegar lá e marcará a primeira vez da Fiat, que é líder na venda total de automóveis e comerciais leves desde 1990, mas nunca conseguiu colocar um modelo seu no topo do pódio anual.

Embora ainda esteja na liderança, este tem sido um ano (de sucesso) mais difícil para o Gol. Em janeiro, ainda contando com a participação do antigo modelo G4, o Gol abriu uma distância de 9.068 carros sobre o Palio (21.671 contra 12.603). Essa vantagem, talvez com sobras de estoque do G4, foi aumentando lentamente até chegar a 11.955 em maio, quando o Gol atingiu 80.440 vendas e o Palio acumulou 68.485. De julho para cá, entretanto, só deu Palio na liderança mensal. Se, por um lado, o Gol ficou sem o desempenho do G4, por outro lado o Palio ganhou fôlego com a entrada do Palio Fire, um modelo mais antigo, que substituiu o descontinuado Uno Mille. O placar atual aponta 147.186 vendas para o Gol e 145.390 para o Palio.
Antes da Copa do Mundo, ninguém no mercado de automóveis previa essa reviravolta do Palio, devido à “gordura” acumulada pelo Gol no início da temporada. Como o título de carro mais vendido do Brasil rende bastante argumento para o marketing, é provável que a Volkswagen reúna uma força-tarefa para incrementar as vendas do Gol em novembro e dezembro. Não seria a primeira vez que isso aconteceria – e já deu certo no passado. Isso porque a Volks tem uma carta na manga: 48% das vendas do Gol são diretas (para frotistas, taxistas, VIPs etc.) Já o Palio tem apenas 27% de suas vendas nesse canal. Uma venda em lote para uma locadora, por exemplo, bastaria para garantir o 28º título do Gol.

Entretando, tais números também oferecem outra leitura. Considerando só as vendas no varejo (aquelas em que o cliente vai por conta própria na concessionária), o Fiat Palio lidera o ranking anual com 106.595 emplacamentos. Nesse ranking, o Gol é o 5º colocado, com 76.057 unidades vendidas, atrás do Chevrolet Onix (101.682), do Hyundai HB20 (90.812) e do Ford Fiesta (78.522). Esse trono o Gol já perdeu.