16/06/2020 - 8:00
Não é motivo de orgulho, mas, em 99% das notícias publicadas sobre a vida pessoal de Elon Musk, sua mulher Grimes é retratada assim: sua mulher. Estou me referindo a notícias publicadas no segmento jornalístico ao qual a MOTOR SHOW faz parte: a cobertura da indústria automobilística.
É natural que seja assim. Musk é o todo-poderoso da Tesla, senhor das novas tecnologias sustentáveis, explorador do espaço, o Steve Jobs das quatro rodas.
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Mas este blog tem a amplitude de tema adequada para mudar (mesmo que em apenas um post) a forma como ela é tratada. E, pelo menos aqui, pelo menos hoje, Elon Musk será apenas o marido de Grimes, e somente o pai de seu filho X Æ A-Xii. É que Grimes é (bem) mais interessante que Elon Musk em uma série de aspectos.
Ela nasceu Claire Elise Boucher 32 anos atrás em Vancouver, no Canadá, e é hoje uma das artistas mais inventivas que há por aí. Grimes é uma espécie de tentáculo do legado de David Bowie: o visual camaleônico, a fascinação pelo espaço (que ela divide com Musk). Está tudo lá. O Ziggy Stardust de Bowie é a WarNymph de Grimes.
A persona virtual criada por ela, e alimentada por inteligência artificial, fez boa parte do trabalho de divulgação de último disco. Mas WarNymph não é apenas uma assessora digital. Ela representa o que Grimes define como tecno-feminismo. “Muitas amigas não estão engravidando porque isso atrapalharia a carreira profissional, e nós queremos transpor essa barreira”. Palavras dela ao The Face.
E aos detratores (ou haters) que contra-argumentam que isso é apenas resultado do relacionamento dela com Musk, bem… A resposta mais adequada a isso é um sonolento “Ok, boomer!”. É preciso estar com a antena pop muito enferrujada para não sacar que a (anti)estética de Grimes é do mesmo DNA que a de Billie Eilish. O mesmo descaso artístico que 50 anos atrás ganhou nome: Punk!
Mas no caso de Grimes, isso vai além da estética. Não se trata apenas de música, ou de um manifesto estético. O controle artístico de Grimes sobre sua própria obra é irrestrito. A música, os clipes, as capas dos discos, o figurino. Tudo é concebido e executado por ela, uma artista sem um pingo de educação formal em música. Punk!
Em abril deste ano ela lançou o vídeo para a música You’ll Miss Me When I Not Around. A faixa pertence ao disco Miss Anthropocene, seu terceiro registro apresentado em janeiro. O vídeo foi lançado em chroma-key, a técnica usada no cinema e na TV para inserir imagens em um fundo com tela verde. A ideia é que fãs (ou quem quer que seja) usem o material para fazer vídeos colaborativos da música. Punk!
Seu site oficial é apenas uma página do Google Docs com links que orientam como os eleitores podem se registrar para votar. Todos os stories de sua conta do Instagram hoje são manifestos políticos e sociais defendendo o direito de minorias étnicas e de gênero, ou oferecendo argumentos para o debate sobre abolicionismo carcerário. Punk!
O namorado dela? Ah, ele também faz umas coisas legais. Mas são apenas carros e foguetes!