10/05/2025 - 9:00
Tudo aconteceu em dezembro de 1988 e janeiro de 1989, e foi publicado na revista Quatro Rodas de fevereiro de 1989. Me foi atribuída a responsabilidade de levar adiante o importante comparativo do então lançado Gol GTI e de seu irmão Gol GTS. O Gol GTI, naquela ocasião, era a estrela do momento e havia sido apresentado no Salão do Automóvel de novembro de 1988.
Tinha como grande atrativo o pioneirismo do sistema de injeção eletrônica de combustível, em substituição ao bom e velho carburador. Além disso, o esportivo acenava com o arsenal de seu troncudo e potente motor de 2.0 litros com um sistema de ignição eletrônica, batizado pela Bosch de “EZK”.
Com esses artifícios tecnológicos, desenvolvia 120 cv de potência e o torque máximo além dos 18 mkgf. Na época, números surpreendentes! Vale lembrar que o sistema de injeção eletrônica Bosch, o “LE Jetronic”, era ainda analógico, e não digital como os atuais. Fato limitava muito a alimentação de combustível do esportivo.
Do outro lado, tínhamos o Gol GTS, mais simples e despojado. Mas, quando o assunto é esportividade, pouco vale a badalação e o desenvolvimento tecnológico se esses fatores não resultarem em alta performance. Por isso, o GTS custava muito menos que o GTI. Ao invés do interior mais refinado, com bancos Recaro de costuras azuis e rádio toca-fitas Bosch Rio de Janeiro, o GTS trazia também assentos esportivos e toca-fitas, mas ambos de modelos mais simples.
O Gol GTS tinha um valente motor 1.8 da conhecida e respeitada geração AP, movido a álcool, que gerava 106 cv de potência e quase 15 mkgf de torque. Como tinha menos “frufrus”, o GTS era ligeiramente mais leve, e na hora de medir a performance, ele não ficava muito longe do GTI. Na aceleração de 0 a 100 km/h por exemplo, a diferença ficava na casa dos 6 décimos de segundo. Se considerarmos o degrau de preço entre os dois, cada décimo de segundo custava uma nota preta!
Fui eu mesmo, em 1989, que levei os dois carros para a pista e fiz as medições de desempenho, nível de ruido, e consumo de combustível, seja em velocidade constante ou na estrada, apenas com o motorista ou o carro carregado.
Mas, o interessante e curioso dessa reportagem foi sua foto de abertura. Nela, GTS e GTI aparecem voando, literalmente como dois aviões. Essa foto, na realidade, foi feita em um estúdio de fotografias que a Editora Abril possuía, bem próximo de onde, hoje, fica o Shopping Morumbi. Para quem é de outro estado, falo da capital de São Paulo.
A imagem foi clicada pelo fotógrafo Pedro Rubens, especialista em captação em estúdio. Era uma época em que começaram a ser feitos com perfeição e custo aceitável os truques em fotografias. Gol GTS e GTI foram posicionados lada a lado como está na foto de abertura da matéria, só que levantados com um macaco hidráulico e apoiados em 4 cavaletes, daqueles que se usam nas oficinas mecânicas. Utilizamos 8 cavaletes no total, e mais o macaco hidráulico que levantou os carros.
Pronto! Uma parte do truque já estava feita: os carros no alto, lado a lado. A partir daí, Pedro Rubens cuidou da iluminação homogênea e os clicou sobre diversos ângulos.
Porém, precisávamos de motoristas nos carros, dando a impressão de que eles estavam em movimento. Dois voluntários, na realidade auxiliares de fotografia, estavam no estúdio, se posicionaram como se estivessem dirigindo. Pois foi nesse ponto que ficou evidente de que aquilo era um truque: os motoristas da foto estavam relaxados e distraídos, atitude impossível se o salto fosse real, com os carros em movimento.
Depois, os especialistas da época trabalharam na foto, e sei que era um trabalho árduo e demorado: fizeram desaparecer os 8 cavaletes que apoiavam os carros, para dar a impressão do tal voo que nunca existiu. Para o grande público, o relaxamento dos motoristas passou despercebido. No final das contas, a foto acabou sendo um verdadeiro sucesso, elogiada até mesmo pelo pessoal de comunicação da indústria automobilística.
