Quando Lewis Hamilton ajoelhou-se ao lado de seu carro no parque fechado de Interlagos e deu-lhe um beijo de agradecimento, após vencer o 46º Grande Prêmio do Brasil, muitos acharam que ele fazia uma cena combinada. Mas não! Lewis genuinamente agradecia ao incrível Mercedes-AMG F1 W09 EQ Power+ sua 50ª vitória na era híbrida da Fórmula 1, em 99 corridas.

Lewis já era campeão do mundo pela quinta vez; não precisava da vitória. Mas ela veio, para coroar uma das maiores parcerias da Fórmula 1: a do piloto inglês com a equipe alemã. Quando Lewis Carl Davidson Hamilton nasceu em Tewin, uma vila inglesa do condado de Hertfordshire, em 1985, a Mercedes-Benz estava fora da Fórmula 1. Um acidente nas 24 Horas de Le Mans de 1955, que resultou em 84 mortes, fez a Mercedes se retirar das competições por muitos anos. Em Interlagos, 2018, Hamilton e Mercedes comemoraram seu “High Five”.

A Mercedes só voltou a ter uma equipe oficial de Fórmula 1 em 2010. Lewis chegou em 2013, mas quando começou a fase híbrida, com motores V6 de 1600 cm3 e a complexa tecnologia de regeneração da energia elétrica das baterias, em 2014, a Mercedes se tornou novamente imbatível na Fórmula 1 – e Lewis Hamilton foi quem mais soube aproveitar essa vantagem tecnológica.

Os números do piloto inglês a bordo dos Mercedes-AMG F1 são impressionantes. Em apenas cinco anos, ele reverteu uma desvantagem de três títulos em relação a Sebastian Vettel e ultrapassou-o. Ao volante dos modelos W05, W06, W08 e W09, Lewis ganhou os campeonatos de 2014, 2015, 2017 e 2018, tornando-se o terceiro piloto da história a levantar cinco mundiais.

Só perdeu o título de 2016 para Nico Rosberg, por cinco pontos, mas venceu dez GPs, contra nove de seu colega de equipe. Em Interlagos, a Mercedes também conquistou sua 100ª pole-position, enquanto Lewis marcou sua 82ª. No domingo, o novo pentacampeão mundial chegou a 72 vitórias e ultrapassou a casa dos 20.000 km na liderança. Só perde para o mito Schumacher, que pilotou mais de 24.000 km em primeiro lugar. Quanto à Mercedes, soma 86 vitórias em 188 GPs.

Mas um pentacampeão não se faz só com números. A pilotagem de Lewis é de tirar o fôlego. Vê-lo se aproximar de uma curva é ter sempre a sensação de que não irá fazê-la, pois freia o mais tarde possível, quase lá dentro, mantendo o carro mais tempo na trajetória reta com uma pancada no pedal esquerdo, para depois controlá-lo com sua sensibilidade nos pés e nas mãos, arrastando os pneus traseiros. Ele usa e abusa dos freios. Não é qualquer carro que resiste a um Lewis Hamilton. O pedal dos freios tem que ser duro e ele prefere o carro saindo mais de traseira, controlando-o no pedal do acelerador. Ao longo da corrida, Lewis adapta-se a qualquer situação – seja no seco, com pneus desgastados, ou no molhado, quando a sensibilidade do piloto é ainda mais importante. De certa forma, Lewis mostra a perícia dos pilotos da MotoGP nas frenagens, mas com a vantagem de ter quatro rodas.

No início da temporada, havia uma dúvida sobre quem – entre os dois que somavam quatro títulos mundiais – seria o “novo Fangio”. Afinal, desde 2015, quando a Scuderia Ferrari passou a contar com Seb Vettel, outro superpiloto da nova geração, as disputas na pista se tornaram mais intensas. Mas a história já estava dando sua dica: para repetir o feito de Fangio em 1954-1955 com o W196, era preciso estar a bordo de um Mercedes. E quem guiava o fabuloso W09 EQ da AMG Petronas Motorsports era o piloto do carro 44: Lewis Hamilton. Por isso, aquele beijo em Interlagos foi mais do que merecido.