09/08/2025 - 18:00
Lecar: a proposta inicial é a de uma fábrica totalmente brasileira, produzindo carros 100% nacionais. Ao longo da história da nossa indústria automotiva, já vimos esse sonho algumas vezes: pessoas até bem-intencionadas, que trabalham para a criação de uma indústria genuinamente nacional.
Mas, vale lembrar que a indústria de carros já tem cerca de 150 anos adquirindo experiências na concepção, construção e fabricação de veículos pelo mundo. É difícil alcança-los? Não, afinal de contas os componentes para se construir um carro estão nas prateleiras das indústrias de autopeças mundial.
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É possível criar um carro nacional
Se o cara entender do ramo automotivo, ele pode sim fabricar um carro nacional de boa qualidade, longevidade, confiabilidade e estética atraente, pois os estúdios de design se espalham por todo planeta. Tudo é uma questão de saber juntar “lé com cré” e com isso montar um veículo decente. O objetivo da Lecar é mais ou menos esse: juntar o que de bom o mundo oferece e construir um bom carro, como um Lego de alta tecnologia. Querem fazer um cupê e uma picape, os dois com a mesma base mecânica.
Lecar pronta em 1 ano?
Só acho que prometer a entrega de carros para 1 ano é muito otimista. Mesmo automóveis dos mais simples precisam de muita engenharia e testes por esse Brasilzão a fora. O que dizer, então, desses Lecar com motorização híbrida, tração elétrica, geradores, baterias e afins? É muito teste prático, muito “erra e acerta”, e muita experiência envolvida.
Lembranças da IBAP
Mas, como diz o ditado, “cachorro que foi mordido por cobra tem medo de linguiça”. Aqui no Brasil, no início dos anos 60, mais especificamente em 1963, a IBAP (Indústria Brasileira de Automóveis Presidente), tinha uma proposta semelhante à da Lecar: fabricar um carro 100% brasileiro oriundo de uma fábrica de capital nacional. O carro era o Democrata, um sedan com motor traseiro V6, interior bem acabado, painel em madeira jacarandá e bancos forrados em couro. Um luxo!
Na época, foram apresentados 5 protótipos funcionais e a produção em larga escala seria feita em uma fábrica de São Bernardo do Campo, o berço de nossa indústria automobilística. Uma caravana percorreu as principais capitais brasileiras, mostrando ao público como seria o Democrata e, nesse período, foram vendidas ações da tal nova indústria brasileira.
O fato é que muito dinheiro foi arrecadado, e nenhum carro foi fabricado. Em 1968, a fábrica da IBAP, que possuía até galpões, foi desativada, fechada judicialmente. Seus antigos proprietários, processados para devolverem o dinheiro aos acionistas enganados. Uma fraude que foi escândalo no país nos anos 60.
Vários projetos de carro nacional
É complicado colocar dinheiro em uma empresa que não produz nada, apenas sonhos. Principalmente se ela não for sua! Mas, claro, se tem um exemplo terrível acontecido há 62 anos, a história da Lecar pode ser completamente diferente. Mesmo assim, outras tentativas de se produzir carros 100% nacionais não deram em nada. Uma das maiores foi a Gurgel, que chegou a produzir, vendeu ações na bolsa e muitos brasileiros compraram carros e, no final das contas, não deu em nada. Só prejuízos para aqueles que acreditaram.
Lecar tem muito otimismo
Não sejamos pessimistas, mas realistas. Os números divulgados pela Lecar, pelo menos por enquanto, são presunçosos demais, seja no reduzido tempo de implantação da nova fábrica, cerca de um ano, até o preço do carro. E mesmo sem apresentar protótipos funcionais, a marca já tem resultados de consumo e performance de um carro que sequer existe. É muito otimismo, ou um sonho dos grandes.
Fazer um carro do zero, já com rendimento excepcional, e desenvolver do nada uma fábrica para produzir dois modelos, torna-se ainda mais complicado. Tudo isso em um ano? Acho pouco provável. Porém, ainda não sabemos: pode ser que a Lecar tenha uma carta na manga que desconhecemos, e consiga, para mim milagrosamente, cumprir todas as suas metas. É esperar para ver!
