Durante alguns dias na companhia do Honda Accord de atual geração (11ª), ouvi de algumas pessoas, surpresas, a dúvida: “esse carro ainda é vendido no Brasil?”. Não as julgo, afinal não foram muito mais que 200 unidades emplacadas durante todo o ano de 2024. Por R$ 332,4 mil, ele briga com BWM Série 3, Mercedes Classe C e Audi A3, mas costuma ficar na lanterninha de emplacamentos dentre eles.  

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O que tem de tão espetacular?

Pois é…o sedanzão da Honda é tão discreto que nem mesmo brilha nas vendas. Talvez porque a marca japonesa prefira emplacar City’s e HR-V’s, deixando o Accord como um “troféu”, mostrando o que sua engenharia é capaz de fazer. “Ah, mas o que esse cara tem de tão espetacular assim?”. Vamos lá… 

Honda Accord eHEV – Foto: Lucca Mendonça

Não, você não vai ver nele um design arrebatador, ultramoderno ou arrojado, mas sim muita classe, elegância e descrição. Atrai olhares por aí, mais pelo fator “novidade” do que outra coisa. Por dentro, couro legítimo escurecido, linhas limpas e planas, multimídia de tamanho “normal”, instrumentação bem clássica. Nada ousado: esqueça luzes de LED coloridas, teto-solar gigantesco, ou mesmo telas enormes cheias de funções. Não é a praia dele.  

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Sóbrio e tradicional

Prevalece a sobriedade do acabamento esmerado, (muito) silêncio a bordo, e o fator funcional da coisa falando mais alto do que a estética. Basta um clique dali, um menu dali, um botão acolá, e logo você entende como todo o carro funciona. Prático! Donos de Honda atuais se sentem em casa: comandos de ar-condicionado, interface da multimídia e instrumentação, e até outros controles são muito parecidos com os de carros menores da marca.  

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O Accord é um dos veteranos do mercado mundial. Está em linha há quase 50 anos, e há mais de 30 vem ao Brasil, sempre importado da mesma fábrica norte-americana, em Marysville (Ohio). Tradicionalíssimo assim, mantém o conforto e gigantesco espaço interno como virtudes, enquanto motorista e ocupantes seguem em posição bastante baixa. Um alento para quem está cansado dos SUVs altinhos. 

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Não faz desfeita

Com rodar macio, não reclama muito do piso lunar brasileiro, e encara bem lombadas, valetas e afins. Afinal, não se trata de um carro de nicho: nos EUA, é um sedan feito para as massas, sem muita frescura. A robustez está inclusa no seu projeto básico. Porém, é inevitável que, com seus enormes balanços dianteiro e traseiro, acabe raspando para-choques ou mesmo assoalho, dependendo.  

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Aliás, o sedanzão da Honda cresceu pra valer: essa geração já chega perto dos 5 metros de comprimento, com 2,83 m de entre-eixos, tudo condensado em apenas 1,46 m de altura. Nem é preciso dizer que, com isso, seu centro de gravidade torna-se bem baixo, e, com a boa distribuição de peso, suspensões independentes e curso curto de molas e amortecedores, o Accord surpreende nas curvas rápidas.  

Honda Accord eHEV – Foto: Lucca Mendonça

Com tração sempre dianteira, ele encara o desafio de entrar numa curva em alta velocidade, e, só no limite do limite, indica uma leve tendência de sair de frente. Nada de rolar para o lado: a boa geometria de suspensões evita descontrole, o que também vale para viagens em linha reta nas maiores velocidades. É o tipo de carro que, a 150 km/h, você se sente a 90 km/h, tamanho o bom comportamento geral.  

Rei da estrada

É um cara muito bom de viajar, inclusive. No asfalto bom, em rodovias de qualidade, principalmente. O pacote ADAS, de assistentes de condução, da Honda é um dos melhores do mercado, e no Accord opera quase como um relógio suíço. São várias “babás eletrônicas”, aliás, que auxiliam e protegem a condução de diversas formas. 

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Além do silêncio que impera a bordo, do bom espaço interno para todos, e bancos com ergonomia surpreendente, até para um sedan executivo, o conforto conseguido pelo acerto de suspensões agrada. Aliás, essa é uma qualidade típica desses carros projetados para os EUA: por lá, quanto mais confortável, melhor. Isso vale para calibração de direção, peso do pedal de freio e por aí vai.  

Motorização acertada

Os americanos também costumam gostar de carros mais beberrões. Mas, não: esse definitivamente não é o caso do Accord eHEV. Híbrido convencional, ele dispõe de um confiável motor 2.0 16v naturalmente aspirado debaixo do capô, que trabalha no ciclo Atkinson, mais eficiente, com injeção direta de gasolina. Um motor elétrico dianteiro, junto da transmissão CVT, faz as vezes de elétrico, junto das baterias de tração com aproximadamente 1 kWh de capacidade.  

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No total, a Honda fala em 207 cv de potência e torque ao redor dos 34 mkgf. Rápido, ele desponta na frente até dos atuais esportivos brasileiros, como VW Nivus GTS ou Fiat Fastback Abarth, já que demora não muito mais que 7,5 segundos na prova de 0 a 100 km/h, conforme aferimos.  

Nobre menção ao câmbio CVT que, apesar de extremamente suave na condução comum, “vira o bicho” no modo Sport, simulando marchas com maestria, lembrando muito uma caixa automática convencional. É um dos grandes responsáveis pelo bom desempenho do sedan, assim como o casamento fiel entre os dois tipos de propulsão (combustão e eletricidade). No uso diário, nem dá para perceber a troca entre motor elétrico e 2.0 a gasolina, tamanha a suavidade do conjunto. Boa!

Bebe menos que Fiat Mobi

A tocada desse Honda é suave, e assim ele foi conduzido durante os 580 km da semana de testes. Pé leve, modo Eco de condução, mantendo a opção de propulsão híbrida, onde a eletrônica decide quando o carro usa energia das baterias ou gasolina para se mover. E, deu certo. Como deu certo! 

Fotos não negam: o Accord percorreu os tais 580 km, aproximadamente 50% dessa distância na estrada, com menos de meio tanque de gasolina! O marcador digital, a autonomia do computador de bordo e as médias de consumo não mentiam: assim, seria possível passar fácil dos 1.000 km de autonomia com um tanque cheio. É mais econômico que qualquer 1.0 à venda hoje em dia.  

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“Mas também, ele deve ter um tanque enorme, com tamanho das caminhonetes turbodiesel”. Ledo engano: a Honda fala em 48 litros, apenas. Tamanho bem limitado para o porte do carro, aliás, mas que acaba rendendo muito, graças ao powertrain eficiente e tecnológico desse sedanzão. Show de bola.  

Médias? 22,6 km/l acumulados durante toda a semana de testes. Num dia de trânsito livre e velocidade moderada na estrada, passou dos 20,5 km/l. Na cidade, é mais ou menos como o ditado: “o céu é o limite”. Com boa regeneração de energia nas frenagens e desacelerações, sua bateria mantinha-se bem carregada, e assim ele rodava mais como elétrico. Nesse caso, fazia mais de 30 km/l. Mesclando combustão na propulsão, em ciclo urbano, entre 23 e 25 km/l.  

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Vida fácil

Rodar no conforto, espaço e dinâmica de um carro desse naipe, e fazendo mais de 23 km por litro de gasolina, não tem preço. E, como é híbrido comum, esqueça os contratempos de plugá-lo na tomada ou parar para recarregar as baterias. Ele faz tudo sozinho, com o carro em movimento.  

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Enquanto você está lá a bordo, escutando o sistema de som Bose de primeiríssima, controlando a velocidade pelo head-up display, e aproveitando o eficiente sistema de ar-condicionado digital automático de duas zonas, ele te garante as ótimas médias de consumo. 

Grife?

Não dá para mentir. A Honda cobra caro por ele, especialmente considerando que é um carro “comum”, sem a grife de Quatro Argolas ou de uma Estrela de Três Pontas na grade. Mas, se você prefere o conforto de um sedanzão norte-americano, enquanto queima menos gasolina do que um Fiat Mobi, eis esse Accord eHEV…