Por Rafael Poci Déa

Com o fim da fabricação do Civic G10 nacional e a chegada do G11 só na versão híbrida, agora por R$ 265 mil, parte dos donos – e fãs – do sedã ficaram sem rumo. O ZR-V chega, então, não só para disputar o segmento de SUVs com Jeep Compass, Toyota Corolla Cross, Volkswagen Taos e cia., mas também para acolher estes consumidores, prometendo a mesma dirigibilidade do sedã com a versatilidade de um SUV.

Posicionado entre o HR-V e o CR-V, a novidade custa R$ 214.500 na versão única, Touring, e aposta nas dimensões e no desempenho para incomodar os rivais. Não é missão fácil, mas as qualidades construtivas e a confiabilidade da marca são suas armas para brilhar no disputado segmento.

Importado do México, ele é vendido como HR-V nos EUA (lá eles acharam o “nosso” muito pequeno); leva o nome ZR-V na América do Sul, na Europa e no Japão. Contruído sobre a mesma plataforma do Civic de 11ª geração, o ZR-V tem 4,568 m de comprimento e 2,655 de entre-eixos.

Há espaço amplo para cinco passageiros, pois ele é maior no comprimento que o Compass (4,404 m), o Corolla Cross (4,460 m) e o Taos (4,461 m), e supera, no entre-eixos, os dois primeiros.

+ Honda City recebe novas versões de entrada e linha parte de R$ 113.600
+ Avaliação: novo Honda Civic Type R é presente dos deuses

Qualidades:

• O acesso ao interior é facilitado pelos bons ângulos de abertura das portas.
• Uma vez lá dentro, a qualidade dos acabamentos e arremates agrada.
• Há áreas sensíveis ao toque ou acolchoadas.
• Os comandos ficam bem à mão.
• A área envidraçada beneficia a visibilidade à frente, lateral e traseira.

Diante dos olhos do condutor fica o quadro de instrumentos com tela digital de 7”e a central multimídia de 9” com conectividade com Apple CarPlay e Android Auto sem fio. Ainda há carregador por indução e tomadas USB-C (duas frontais e duas traseiras, e uma USB-A na porção dianteira).

Para completar, as luzes de cortesia são acionadas por toque e há itens como:
• chave presencial,
• freios com brake-hold (mantêm o carro parado sem necessidade de pressionar o pedal do freio),
 freio de estacionamento elétrico.

Obviamente, em um carro com proposta familiar, o porta-malas é um item importante – e aí aparece um ponto fraco da novidade: a capacidade é de só 389 litros, contra mais de 540 nos Civic (tanto no G10 quanto no novo híbrido), 410 no Compass, 440 no Corolla Cross e 498 litros no Taos, para citar alguns exemplos.

Para ter mais espaço, é preciso dispensar os passageiros do banco de trás e rebater os encostos da segunda fileira, o que deixa uma área totalmente plana de 1.306 litros. Uma sacada inteligente do SUV é o tampão do compartimento de bagagens dobrável, que é muito útil e de fácil manuseio.

(Divulgação)

Equilibrado e silencioso

Debaixo do capô, a surpresa é que não há eletrificação nem turbinas. Lá fica o quatro cilindros 2.0 16V naturalmente aspirado da família K20, uma evolução do antigo, movido só a gasolina e casado à caixa continuamente variável. São 161 cv e 187 Nm, números resultam da calibração para nosso combustível e superam os do modelo à venda nos Estados Unidos (que tem 158 cv e 187 Nm).

Pesando os mesmos 1.446 quilos do Taos Highline, o ZR-V Touring avaliado tem uma relação peso-potência de 8,98 kg/cv (no Compass são 8,59 kg/cv). Isto se reflete em um comportamento ágil – e, ao mesmo tempo, ao cravar 100 km/h, o ponteiro do conta-giros repousa na faixa de 1.500 rpm.

Aliás, o baixo nível de ruído é outro destaque, tanto em marcha lenta quanto em alta velocidade.

Apesar de ser um utilitário esportivo, o Honda ZR-V de fato tem uma condução que é mais semelhante à de um sedã. A posição de guiar é excelente, e tem a ajuda dos desenhos dos bancos eletricamente ajustáveis com sistema de estabilização corporal e da coluna de direção amplamente regulável em altura e profundidade.

Em movimento, o Honda ZR-V não mostra ruídos aerodinâmicos e os barulhos de rodagem e externos são filtrados pelos vidros acústicos e pelos revestimentos das caixas de roda – e em toda a extensão do assoalho.

Outro ponto positivo são as suspensões MacPherson na dianteira e multilink atrás (herdada do CR-V). Não só proporcionam conforto na cidade, como também garantem estabilidade nas curvas. As rodas de 17” utilizam pneus de perfil 60, o que ajuda a absorver os impactos ao trafegar por pisos mal pavimentados.

Um componente compartilhado com o Civic é a direção eletricamente assistida, sempre um destaque do sedã. Ela é rápida ao esterço e muito conectada com o motorista, contribuindo na dirigibilidade.

O câmbio CVT de sete marchas simuladas prioriza os baixos giros e possibilita trocas sequenciais por aletas no volante. Trafegando em grande parte do tempo no modo Econ, o computador de bordo indicou consumo urbano de 12 km/l, enquanto na estrada fez quase 17 km/l (no PBEV, porém, fez apenas 10,2 e 12,1 km/l, respectivamente, com uma fraca nota C).

(Divulgação)
(Divulgação)
(Divulgação)
(Divulgação)
(Divulgação)

A cabine clean é quase idêntica à do novo Civic Híbrido, com quem o ZR-V compartilha a base construtiva, mas não a mecânica. Os bancos são bastante confortáveis, a central multimídia é “flutuante” e o quadro de instrumentos digital tem muita informação sem complicar demais

O SUV também capricha na segurança:
• tem oito airbags (dois de joelhos, além dos tradicionais),
• assistente de rampa, monitor de ponto cego,
• alertas de pressão dos pneus e de atenção do motorista,
• sensores de estacionamento frontais e traseiros,
• além do pacote Honda Sensing – que incorpora o controlador de velocidade adaptativo com manutenção da distância em baixas velocidades (low speed), sistema de frenagem para mitigação de colisão e assistentes de permanência em faixa e evasão de pista, além de farol alto com acionamento automático.

O Honda ZR-V pode não ser híbrido e custar mais que o Toyota Corolla Cross e o VW Taos Highline (R$ 212.480), mas custa menos que o Jeep Compass Série S T270 (R$ 240.990).

Para seu consumidor típico, conservador, a marca aposta em um (bom) motor a combustão, na tradição de confiabilidade da marca e em uma dirigibilidade mais próxima daquela de um sedã.

Quem preferir um desempenho mais forte, porém, terá que abrir mão de espaço e levar um HR-V 1.5 turbo, mais leve e mais potente, por R$ 195.800 – ou subir para o Civic (ou, ainda, esperar o CR-V, que também será híbrido e vai complementar a renovada gama da marca; leia a seguir).

Oportunidade perdida

Divulgação
(Divulgação)

Enquanto a rival Toyota investiu em modelos híbridos nacionais (e flex) no segmento de médios – o Corolla e Corolla Cross, respectivamente –, a Honda foi mais conservadora e trouxe o Civic com o sistema híbido apenas como importado, e este ZR-V, embora também importado, só com a mecânica que é produzida no México (o motor 2.0 vendido nos EUA).

Enquanto isso, os europeus tem opções híbridas tanto do “nosso” HR-V quando do ZR-V: no caso deste último, ele ainda ganha teto solar (que o nosso não tem) e a troca de marchas por botões, e não por alavanca.

Honda ZR-V Touring

Preço básico R$ 214.500
Carro avaliado R$ 214.500

Motor: quatro cilindros em linha 2.0 16V, duplo comando de válvulas com variação na admissão e no escape, injeção multiponto
Combustível: gasolina
Potência: 161 cv a 6.500 rpm
Torque:187 Nm a 4.200 rpm
Câmbio: continuamente variável (CVT), sete marchas simuladas
Direção: elétrica
Suspensões: MacPherson (d) e multilink (t)
Freios: discos ventilados (d) e discos sólidos (t) Tração: dianteira
Dimensões: 4,568 m (c), 1,840 m (l), 1,611 m(a)
Entre-eixos: 2,655 m
Pneus: 215/60 R17
Porta-malas: 389 litros (1.306 com o  rebatimento da segunda fileira)
Peso: 1.446 kg
Tanque de combustível: 53 litros
0-100 km/h: 13s*
Velocidade máxima: 195 km/h*
Consumo na cidade: 10,2 km/l
Consumo na estrada: 12,1 km/l
Emissão de CO2 120g/km*
Nota do Inmetro: C Classificação na categoria: C (Utilitário Esportivo Grande) *dados estimados