Por menos de R$ 120.000, o Audi A3 Sedan e o BMW 316i são hoje portas de entrada para o mundo dos sedãs de luxo alemães. A versão três volumes do A3 acaba de chegar ao Brasil, mas já tem produção nacional confirmada para 2015. Já o Série 3 mais barato chegou em dezembro e sua produção aqui, embora não tenha sido confirmada, parece óbvia: depende só de converter seu motor 1.6 para etanol, como feito com o 2.0 do 320i – que estreia a produção da BMW em Santa Catarina. São modelos com potencial de, a médio prazo, custar menos de R$ 100.000 (leia mais na página 63).

De cara, os mais detalhistas podem dizer que são carros de categorias diferentes, considerando o porte do BMW (16 cm maior e, a rigor, rival do Audi A4). Mas o brasileiro não é fiel a categorias ou tamanhos. O que importa é o preço. E se o A3 Sedan é um pouco menor que o Chevrolet Cruze, o 316i é do porte do Renault Fluence. Não é tanta diferença. E já que falamos de tamanho, convenhamos: a BMW nunca foi especialista em aproveitamento de espaço. Por isso, apesar de ser maior, no interior sua vantagem só aparece na hora de acomodar adultos de mais de 1,75 m no banco traseiro. O quinto passageiro fica desconfortável em ambos, pois eles têm túnel alto para passagem do cardã, devido à tração traseira do BMW e às opções de tração integral no Audi. Já para quem vai na frente, o Audi é mais espaçoso, graças aos desenhos do painel e console.

Mas vida a bordo não se resume a espaço, e é aí que o A3 mostra mais vantagens. Seu teto solar panorâmico dá uma arejada – e uma ampliada – na cabine, e a qualidade dos materiais é superior. Nesse ponto os Audi estão hoje quase imbatíveis. Além disso, seu painel de instrumentos tem tela central colorida multifuncional, enquanto o BMW tem indicadores simples e monocromáticos. Na verdade, com exceção do banco do passageiro elétrico e do sensor de estacionamento, o Audi tem uma lista de equipamentos mais completa (leia tabela na página 62).

A ergonomia também é melhor no Audi A3 Sedan, com comandos mais próximos, lógicos e amigáveis. Um exemplo está na facilidade de uso do sistema multimídia – que, além da exclusiva tela motorizada que emerge do painel ao ligar o carro, armazena 40 GB de música (11 GB na versão com GPS, comandos de voz e tela maior – opcional de R$ 9.900 sem similar no 316i). No Audi, usar telefone, DVD, mídias e outras funções é mais lógico, e ajustes de volume e avanço de faixas ficam juntos aos demais, enquanto no BMW 316i é preciso usar mais menus para chegar às funções desejadas. Além disso, alguns botões ficam no alto, junto do rádio, e outros, no console, junto à alavanca de câmbio. Tudo meio confuso. Para completar, o A3 tem freio de estacionamento elétrico, enquanto o Série 3 usa a velha alavanca.

Com essa vantagem na cabine do Audi, poderíamos concluir que ele se preocupa em mimar os ocupantes, enquanto o Série 3 oferece mais prazer ao volante, como mandaria a tradição. Mas será mesmo? Não. Esse Audi consegue se igualar ao rival até na posição de dirigir, normalmente insuperável nos BMW. Nas versões comparadas, o Audi é até mesmo superior, com bancos esportivos e extensor de assento. Só _ ca devendo o pedal do acelerador articulado no assoalho, como no Série 3 – mas compensa (e bem) com borboletas no volante para trocas manuais de marcha, falta imperdoável em um BMW (nele, só usando a alavanca, e é preciso deslocá-la para a esquerda antes de empurrá-la).

Na hora de acelerar, o 316i novamente _ ca para trás. Seu 1.6 turbinado tem só 133 cv, mas, mesmo assim, surpreende, graças ao bom torque – 22,4 kgfm de 1.350 a 4.300 rpm. Demora para embalar, porém não decepciona. Acelera até 100 km/h em 9,2 segundos e atinge 210 km/h. Mas o incrível 1.8 também turbinado do A3, que mistura injeção direta e indireta, tem 180 cv e 25,5 kgfm de 1.250 a 5.000 rpm. Parece nunca perder fôlego, fazendo o A3 chegar a 100 km/h dois segundos mais rápido e atingir 235 km/h. Tudo isso com ótimo consumo, nota B no Programa Brasileiro de Etiquetagem. Na estrada, marca 14 km/l, mais que Toyota Corolla, Honda Civic e outros menos famosos. A BMW não participa do programa, mas, durante a avaliação, o 316i fez 13 km/l na estrada, enquanto o A3 passava dos 15 km/l no modo econômico, com a ajuda do sistema de banguela automática; na cidade, ambos usam o sistema start-stop para marcar cerca de 10 km/l.

Além do motor mais valente, o A3 tem a transmissão mais rápida, formando um dos melhores conjuntos da atualidade. O câmbio de dupla embreagem e sete marchas responde com rapidez inigualável aos comandos no modo manual. Já o BMW tem câmbio automático convencional de oito marchas que também impressiona pela velocidade, até se igualando ao do Audi no modo automático, porém é mais lento quando o motorista decide comandar as trocas (por borboletas no volante, que o BMW não tem).

No comportamento dinâmico, surge a velha questão da tração traseira do BMW contra a tração dianteira do Audi. Como no mundo real poucos consumidores percebem a diferença e ninguém fica fazendo drift com esses carros, na verdade isso não faz diferença – ainda mais considerando que não falamos de esportivos (como o divertido Toyota GT86 da página 28), mas de sedãs familiares. Prova de que essa questão está superada é que a Mercedes-Benz fez o CLA “dianteiro” e a BMW já desenvolve seu novo sedã de tração dianteira.

No mais, ambos são bastante prazerosos de guiar. Contam com controle dinâmico de chassi – que altera respostas de motor, câmbio e volante –, direções elétricas surpreendentemente precisas e reativas e fazem curvas exemplarmente. Mas quem, como eu, esperava uma superioridade do BMW nesse quesito vai se surpreender com o A3 Sedan. Acredite, além de mais leve, suas suspensões são mais firmes, mantendo sempre os pneus em contato total com o solo – e sem balançar como o BMW em desníveis na pista, sem sacrificar o conforto e com mais silêncio a bordo, já que trabalham sem fazer barulho (os pneus runfiat do BMW, por outro lado, emitem ruído exagerado em ruas esburacadas).

A vitória do A3 é clara. Para ter chances contra ele, o BMW precisava ser mais potente e/ou mais equipado. E aí não há como não pensar no 320i ActiveFlex de entrada – não esse das próximas páginas. É exatamente tão rápido e veloz quanto esse Audi, mas menos equipado, já que vem com o pacote do 316i. Por R$ 129.950, tem motor maior e flexível e, por isso, é uma opção mais interessante a ele. Mas, se comparado ao A3 Sedan, o 320i compensa só se você tem apego pela marca, faz questão da pequena vantagem no espaço ou, ainda, quer um carro bicombustível – como o que você verá nas próximas páginas…