Nos próximos dois anos, uma nova onda de fábricas chegará ao Brasil, como aconteceu no final dos anos 1990. Pelo menos nove marcas começarão a ter modelos made in Brazil, para nosso consumo e também para exportação. Muitas dessas fabricantes decidiram se instalar aqui ou abrir polos adicionais para se tornarem ainda mais competitivas no mercado nacional. É o caso da Fiat – que, além de continuar a fazer seus modelos em Betim, Minas Gerais, está se instalando também na cidade de Goiana, em Pernambuco – e da Nissan, que já produz em São José dos Pinhais, no Paraná, e agora investe em uma unidade na cidade de Resende, no Rio de Janeiro. Além delas, as chinesas Chery e Jac Motors também anunciaram suas fábricas no Brasil logo após o início das vendas de seus importados.

Outras tantas importadoras, no entanto, se viram obrigadas a iniciar a fabricação local por conta do pacote de medidas do governo federal que visa proteger e desenvolver a indústria automobilística nacional. Segundo o Inovar-Auto, publicado em outubro do ano passado, quem quiser apenas vender carros vindos de seus países de origem, além do imposto de importação que já está na alíquota máxima de 35%, pagará um IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) majorado em 30 pontos percentuais sobre as unidades que excederem o limite de 4.800 carros/ano. “Não somos contra o Inovar-Auto, mas acreditamos que a cota deveria ter sido calculada de acordo com a média de importação de cada marca”, afirmou José Luiz Gandini, presidente da Kia Motors do Brasil, um dos únicos importadores que ainda não anunciou planos para o País.

Para aquelas marcas que há anos pensavam em se instalar aqui – para fugir do imposto de importação e dos custos de transporte – o novo regime automotivo foi o empurrão que faltava. É o caso da BMW que, conforme publicamos em abril de 2011, já vinha estudando o início de uma produção local. Poucos dias antes da abertura do Salão do Automóvel, a marca confirmou o investimento de R$ 530 milhões para fabricar 30 mil carros/ano na cidade catarinense de Araquari. Os executivos não con rmam o que sairá das linhas de montagem, mas, segundo MOTOR SHOW apurou, será a nova família de modelos com tração dianteira, que terá pelo menos um hatch e um SUV (os novos Série 1 e X1), além de, possivelmente, um exemplar da Mini.

Marcas de menor expressão local também decidiram investir aqui para aproveitar a vantagem fiscal. A chinesa Great Wall, que inicialmente iria comercializar modelos no Brasil através de um conglomerado chamado LAM (Latin America Motors) mudou os planos. Segundo apuramos junto ao diretor de exportações da marca, Wang Shihui, e ao representante da LAM, Roberto Soneya, o Estado que abrigará a unidade ainda está em estudo, mas entraram na disputa as cidades de Guarulhos e Ribeirão Preto, ambas em São Paulo, além de Joinville (SC) e Salvador (BA). Os modelos da Great Wall têm acabamento acima da média dos chineses e já são vendidos na Europa, na Ásia e na África. Inicialmente, os carros serão importados, ainda neste primeiro semestre. Para produção local, concorrem a picape Wingle (para concorrer com S10 e cia.), o SUV H6 (rival para Honda CR-V, Chevrolet Captiva e similares) e o crossover M4, que tem o porte de um Ford EcoSport.

Durante o Salão do Automóvel, em novembro, a Districar, importadora do empresário Abdul Ibraimo, que representas as chinesas Haima e Changan e a coreana SsangYong, anunciou o investimento de R$ 300 milhões para a produção da picape Actyon Sports e do SUV Korando, ambos da SsangYong, na cidade capixaba de Linhares. No mesmo município será instalada a fábrica da CN Auto, que produzirá os modelos da chinesa Hafei a partir de 2014. Com investimento inicial de R$ 250 milhões, pretendem montar picapes, minivans e furgões. Já a Suzuki produzirá seu jipinho Jimny na planta de Catalão (GO), onde são fabricados os modelos da Mitsubishi.

Mercedes, Land Rover, Audi e Volvo ainda também estudam fabricar aqui nos próximos dois anos (leia quadro). Com isso, o Brasil terá carros melhores, tecnologias alinhadas às dos países desenvolvidos e geração de empregos. Era o objetivo do Inovar-Auto, e parece que será mesmo alcançado.