A indústria já esperava que o Governo se posicionasse em relação ao crescimento dos importados. Mas no lugar de um pacote para melhorar a competitividade das fabricantes locais, uma medida protecionista caiu como uma bomba sobre os importadores de automóveis. No dia 15 de setembro, o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou o aumento – em alguns casos de mais de 400% – no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente sobre os carros vendidos aqui.

Todas as alíquotas foram acrescidas em 30 pontos percentuais. Um carro 1.0 ex, que antes pagava 7% de IPI, passou a pagar 37% (con ra tabela completa). Mas nem todas as marcas sofrerão. Os modelos com, no mínimo, 65% de peças nacionais, que tenham ao menos seis etapas do processo produtivo feitas no Brasil, no Mercosul ou no México, e sejam comercializados por marcas que invistam 0,5% de seu faturamento líquido em pesquisa e desenvolvimento, continuam na faixa anterior. “O mercado interno deve ser usufruído pela produção interna”, justi cou Mantega.

Hoje, um quarto dos carros vendidos no País é importado – porém, mais de 75% deles são trazidos por fabricantes locais, multinacionais que sustentam suas matrizes no exterior. “Sou um empresário brasileiro, investi aqui. O que lucro no Brasil invisto aqui. O que vou fazer? Sinceramente não sei”, a rmou à MOTOR SHOW José Luiz Gandini, importador da Kia no Brasil e presidente da Associacão Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva). “Esse aumento é imoral”, concluiu.

QUEM MAIS TRAZ VEÍCULOS DO EXTERIOR

(TOTAL DE 528 MIL UNIDADES ATÉ AGOSTO)

As 27 associadas à Abeiva têm participação de 5,8 % no mercado nacional e, pelo menos a médio prazo, não oferecem perigo real às grande produtoras locais. O problema é que os importados expõem fabricantes e governo. As primeiras, por oferecerem modelos menos equipados a preços mais altos. O segundo, por impor uma carga tributária que destrói a competitividade da indústria nacional. “A intenção do governo foi barrar o crescimento dos importados e não promover um crescimento do mercado. Se reduzissem o IPI dos nacionais, haveria uma explosão de consumo, e o País não está estruturado para isso. Com essa medida, o crescimento continua gradual e estável”, explicou Fernando Trujilo, um consultor da IHS Automotive. “É uma medida desesperada que atrapalha muita gente e acaba não ajudando em nada o País”, completou.

Nem mesmo a justi cativa de preservar nossos empregos convence. Além dos carros do Mercosul, o desconto engloba também os modelos vindos do México, um dos países que mais rouba investimentos do Brasil. Com mão de obra mais barata e acordo de livre comércio com os Estados Unidos, muitas marcas que poderiam produzir aqui se instalam em terras mexicanas.

TABELA DO IPI PARA AUTOMÓVEIS

“É uma política de fortalecimento da indústria pleiteada há tempos. Não tem a ver com o aumento dos estoques ou com os chineses”, justi ca Ademar Cantero, diretor de relações institucionais da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Seja como for, o consumidor vai pagar a conta.

O brasileiro terá menos opções de carros baratos e menos montadoras “nacionais” baixando preços. O aumento no imposto também deixará o consumidor brasileiro mais distante de tecnologias e sistemas de segurança de carros premium importados, que carão cada vez mais caros, sejam de marcas com fábricas no País ou não – já que esses modelos mais so sticados não são produzidos nem no Mercosul nem no México, e por isso estão sujeitos às mesmas penalizacões da nova lei.

Os aumentos devem começar no próximo mês, quando acabam os estoques atuais. “Os importadores devem absorver parte do aumento. Caso contrário, os preços podem subir até 28%”, avisa Trujillo. Nas próximas páginas, alguns dos lançamentos que foram alvos da nova lei e devem ter seus preços elevados por causa do aumento do IPI.