Sem dúvida nenhuma, esse novo Cherokee é um carro com papel fundamental na estratégia global do Grupo Fiat-Chrysler. Afinal, ele é o primeiro modelo da marca Jeep que usa uma plataforma da Fiat – a CUSW (Compact US Wide). E isso, por si só, é uma grande responsabilidade. Para nosso mercado, porém, ele é ainda mais importante: como sua plataforma é a mesma do Dodge Dart/Fiat Viaggio, sedã que será fabricado no Brasil – onde deverá ganhar outro nome –, esse Cherokee deverá sair da mesma linha de montagem, em Pernambuco, ainda em 2015. O mais interessante é que ele muito provavelmente não será vendido apenas com a marca Jeep, mas também deverá ter uma versão Fiat – e não apenas com o logotipo da marca italiana, mas também com sua identidade visual. Terá a missão de enfrentar Hyundai ix35, Mitsubishi ASX, Honda CR-V, Toyota RAV4, Chevrolet Captiva e cia.

O novo Cherokee não tem a tradicional frente reta como uma parede, com faróis redondos e para-lamas avançados – mas tampouco se pode negar que é um Jeep. Um Jeep de 2013, que superou sua origem na Segunda Guerra Mundial e, finalmente, deixou o estilo evoluir, dando espaço para a aerodinâmica e a praticidade. E agora que a Jeep é do grupo Fiat, uma marca italiana dona de bom gosto em design, claro que seus carros ficaram indiscutivelmente bonitos. Ou não? Há controvérsias… E olha que a frente é a parte mais dinâmica e admirável – já que a traseira não diz nada.

Se por fora as mudanças não agradam a todos, a evolução do interior impressiona. Quem conhece a Jeep sabe que a estética é quase sempre sacrifi cada em nome da robustez e da simplicidade. Mas agora encontramos um painel e uma cabine no mesmo nível dos melhores concorrentes. O espaço é agradável e a posição de guiar é bastante alta, garantindo boa visibilidade.

O novo Cherokee tem versões bastante diferentes para funções também diferentes. A Limited é mais urbana, tem tração só na dianteira – como o Compass atual – e poderá ter, no mercado brasileiro, o design com traços e logotipos da Fiat, além de motorização mais mansa (nos EUA, usa o 4 cilindros 2.4 Tigershark de 187 cv, que pode até, eventualmente, ser fabricado aqui, embora a marca estude outras opções). Já a configuração Trailhawk, off-road de verdade, não abre mão da marca Jeep e tem a motorização mais potente, uma evolução do Pentastar 3.6 V6 usado no Grand Cherokee, no Dodge Journey e no Chrysler 300C, entre outros modelos. Reduzido para 3,2 litros, aceita até 85% de etanol (o que facilitaria torná-lo flex), desenvolve ótimos 271 cv e, mais importante, torque acima dos 30 kgfm – bem aproveitado pelo novo câmbio ZF de nove marchas, que faz nesse novo Cherokee sua estreia mundial.

Em nosso primeiro trecho de test drive, saímos de Malibu, Califórnia, e subimos as montanhas com a versão Limited. Nesse percurso, o crossover se mostrou muito confortável e contornou com precisão as inúmeras curvas que iam atravessando os cânions. A calibração da suspensão dianteira é um pouco gelatinosa, mas nos asseguraram que esse acerto do chassi é específico para os EUA, e que cada mercado terá sua calibração específica, de acordo com as exigências e as preferências locais.

A maior surpresa do carro, principalmente pelo fato de ser um crossover e usar uma plataforma “universal”, não especializada no off-road, foi a capacidade para aventuras fora de estrada da versão Trailhawk. Além de adicionar tração 4×4 com reduzida e bloqueio dos diferenciais dianteiro e traseiro, ela tem sistemas de auxílio em subidas e descidas, controlados por botões junto à alavanca do câmbio. Para completar, há nas versões 4×4 um seletor de tipo de condução e de terreno (automático, esportivo, neve, areia/lama). Naturalmente, os pneus também são diferentes, ganhando mais borracha e perdendo uma polegada no diâmetro (que passa de 18” para 17”). Em um curto percurso de areia e rocha no fundo de um cânion, fizemos manobras incríveis com enorme facilidade. Basta se manter focado no volante para evitar galhos e pedras, porque o resto o Cherokee faz sozinho, subindo ladeiras quase inimagináveis e mostrando perfeito autocontrole nas descidas.

O SUV chega ao Brasil, ainda importado dos EUA, no segundo semestre de 2014, só com o motor 3.2 e preço inicial que deve partir de R$ 115.000 na versão 4×2 e subir para cerca de R$ 130.000 na configuração 4×4. Quando começar a sair das linhas de produção da fábrica Fiat/Jeep em Goiana, Pernambuco, ainda em 2015, o preço inicial do “Cherokee” da Fiat deve cair para pouco mais de R$ 90.000, como os de seus rivais. Já as versões com a marca Jeep, apenas com o motor mais potente, deverão ter valores acima dos R$ 100.000.