14/10/2020 - 8:00
O Jeep Compass tem um porte que fica entre o dos SUVs compactos e o dos médios. Já o comparamos, nas versões básicas, com rivais menores (empatou com VW T-Cross e Honda HR-V; leia aqui) e do mesmo tamanho (perdeu para o Peugeot 3008; leia aqui). Agora, veremos como ele se sai contra dois SUVs maiores que chegaram para desafiá-lo: uma novidade – o Ford Territory – e o já conhecido Chevrolet Equinox, mas com a nova mecânica 1.5 turbo.
Outros concorrentes que custavam o mesmo, e até derrotaram o Compass antes, agora passam de R$ 200 mil e ficam fora da disputa (caso do citado 3008 e do Toyota RAV4). Então temos aqui, para desafiar o líder de vendas, produtos de diferentes origens.
O Equinox é um SUV médio fabricado no México e focado principalmente no mercado norte-americano (onde é classificado como um SUV compacto). Enquanto isso, o Jeep Compass é fabricado no Brasil e na Europa, para estes dois mercados e também para os EUA, e o Territory é feito na China para os chineses… e agora também para os brasileiros.
Voltando à questão do tamanho, o Jeep Compass é menor, sim, mas o que mais importa são os preços. Se as marcas rivais quase não têm (ainda) carros do porte do Compass, se esforçam para vender modelos maiores pelos mesmos valores. Assim, o Equinox – beneficiado pelo acordo com o México que o isenta do Imposto de Importação – pega toda a faixa do Compass, enquanto o Territory pega as versões diesel de entrada e as flex mais caras, como a Limited avaliada, de R$ 160 a R$ 180 mil.
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Tamanho pra quê?
O consumidor mais tradicional dos SUVs não parece comprar carro por metro para poder caber na vaga, como acontece com alguns que vivem em metrópoles e tem garagens mais apertadas. Neste caso, melhor um SUV compacto. Mas, pelo contrário, boa parte deles parece comprar carro por metro, sim, mas por achar que quanto maior, melhor – para impressionar os amigos e os vizinhos, acomodar melhor a família, suas coisas, ou se sentir mais seguro.
Externamente, o Equinox é um pouco maior que o Territory, e ambos, como já dissemos, bem maiores do que o Jeep Compass (veja mais detalhes nas fichas técnicas). Mas a questão aqui é como as medidas deles são aproveitadas. Qual é a sua prioridade: ter espaço de sobra no banco traseiro ou no porta-malas?
Se a prioridade for o espaço no banco traseiro, o Jeep Compass já sai em boa desvantagem, afinal é sensivelmente menor, mais estreito e oferece menos espaço para as pernas que os rivais – além de ter um túnel central mais alto, quase inviabilizando um quinto passageiro.
Já se a prioridade for o espaço no porta-malas, aí é o Territory que começa com uma grande desvantagem: leva, até a tampa, apenas 340 litros de bagagem, pouco mais do que um Renault Sandero, e ainda é o único aqui sem opção de tampa do porta-malas motorizada (e olha que ela é bastante pesada para puxar na hora de fechar).
Neste ponto, o Equinox é o que mais se destaca: consegue combinar medidas internas quase idênticas às do Territory, e um assoalho totalmente plano como o dele, com um porta-malas significativamente maior: são 547 litros de capacidade, divididos por uma prática tampa removível, que deixa um compartimento “secreto” abaixo dela.
Além disso, o Chevrolet permite rebater o banco por meio de alavancas no porta-malas – e, quando isso é feito, o assento do banco traseiro abaixa um pouco, deixando o assoalho mais plano e com capacidade de carregar objetos mais altos.
Premium ou não premium?
Mas quem disse que o conforto de um carro é resultado apenas de seu espaço? Ele é um resultado, também, do ambiente que se encontra dentro da cabine, responsável pela experiência do motorista e dos passageiros a bordo. Aí, há diversos outros elementos que precisam ser considerados – dos materiais de acabamento aos equipamentos oferecidos, entre outras características.
Nesse ponto, a Jeep sempre foi considerada uma marca mais “premium”, mas o Territory capricha bem, atendendo ao consumidor chinês que está cada vez mais exigente. Assim como o Jeep Compass, o Ford tem quase todas as superfícies de material macio ao toque – o que não se vê no Equinox.
Este tem também materiais bonitos e macios onde o corpo encosta, mas usa mais plásticos rígidos, menos sofisticados, em partes como portas e alto do painel. O Ford tem interior preto na versão básica e bege na top, com acabamentos imitando madeira (não agradam a todos), enquanto o Jeep pode ter interior bege ou caramelo, opcionalmente, e o Equinox 1.5 tem a cabine sempre toda em preto.
Já em relação aos painéis de instrumentos, apenas o do Ford é 100% digital – e só na versão mais cara (mas ele tem gráficos que são simples demais). Enquanto isso, o Equinox tem um cluster simples e fácil de usar, mas foi o do Jeep que nos agradou mais: combina, com classe e clareza, velocímetro e conta-giros analógicos com uma tela central multifunção grande, e, principalmente, mais rica em cores, design e informações do que as dos rivais.
As centrais multimídia são todas bastante completas. A do Ford tem tela maior e conexão com Apple CarPlay sem fio, mas a interface é confusa. As do Jeep e do Chevrolet estão entre os melhores do mercado hoje, com comandos muito claros e fáceis. E o teto panorâmico, que tanto agrada aos donos de SUV (com motivo, em nossa opinião), é item se série nas duas versões do Territory e também no Equinox Premier (com medidas idênticas). No Jeep ele é opcional, mas, como este começa com um preço mais baixo, mesmo quando se adiciona o teto ele fica mais ou menos com o mesmo preço dos rivais.
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Preços e pacotes
O Equinox parte de pouco mais de R$ 137.000, em uma versão mais simples. vendida por R$ 163.990, a Premier é mais equipada que os rivais no mesmo valor – o Territory SEL e o Compass Limited. Isso porque o Chevrolet não tem opcionais, e por este valor já tem quase tudo que, nos outros dois, é pago a parte (mas vale lembrar que ainda está na linha 2020, e, como o dólar está em alta, pode aumentar quando chegar a linha 2021). Para ter tudo o que o Equinox Premier oferece, é preciso levar o Territory Titanium, de R$ 187.900, ou o Compass Limited com todos os opcionais disponíveis, que vai a R$ 177.990.
Apesar de nestas configurações avaliadas os três estarem bastante completos em equipamentos, incluindo itens como estacionamento semiautônomo, todos eles ficam devendo algo.
Você faz questão de ACC? O Equinox é o único que não tem. Auxílio de manutenção em faixa? O do Ford é o único que não atua no volante. Apple CarPlay sem fio e bancos refrigerados? Só no Territory. Luz alta automática, alerta de tráfego cruzado, som “premium”? O Ford fica devendo. Aletas no volante? Só no Jeep. Questão de prioridades, então não declaramos vencedor neste ponto (veja os detalhes na tabela de equipamentos abaixo).
Ao volante
E há também o conforto ao rodar, claro. Neste ponto, os acertos são distintos, da enorme maciez das suspensões do Territory às mais firmes do Jeep Compass – que não chegam a ser incômodas, mas claramente privilegiam a dinâmica. Logo, para quem acha que o mais importante é conforto, o Territory leva vantagem.
Aliás, ao volante, conforto e suavidade novamente se mostram as palavras de ordem deste novo Ford. A direção dele é bastante leve (até demais, dependendo do gosto do motorista) e o motor 1.5 turbo é o que tem a menor potência (150 cv) – e com um torque pouco além do produzido pelo velho 2.0 aspirado do Jeep.
E, como o motor do Territory é combinado a um câmbio CVT de atuação também suave (poderíamos até chamar de preguiçosa), o desempenho não é o seu forte. Se você afunda o pé direito, depois de certa hesitação ele até “puxa bem”. Mas não é pra isso. E não adianta tentar apelar para trocas manuais entre as marchas simuladas – só permitidas quando se põe o câmbio no modo sequencial –pois não melhoram muito a situação. Melhor mesmo é desfrutar do silêncio ao rodar.
O Equinox é igualmente silencioso em uma condução mais calma, mas, se você quiser andar rápido, ele fica no outro extremo. Não das suspensões, que também são macias e confortáveis, no meio termo entre os rivais. Mas da mecânica: seu motor 1.5 usa um sofisticado turbo de geometria variável para entregar as maiores potência (172 cv) e torque (27,8 kgfm).
A prova de 0-100 km/h, por exemplo, é cumprida pelo Equinox em 9,2 segundos, ante longos 11,8 segundos do Ford. Além disso, as respostas do câmbio – um automático tradicional de seis marchas – são mais rápidas (pena que as trocas sequencias são por um botão nada ergonômico na alavanca).
O Compass tem o mesmo tipo de câmbio, igualmente decidido, com trocas rápidas e sem trancos, mas fica devendo no motor. Seu 2.0 aspirado é o único flex aqui, e até tem boa potência (são 166 cv com etanol), mas é preciso sempre usar mais os giros, trabalhar mais as marchas, principalmente pelo torque menor (20,5 kgfm com pico a 4.000 rpm).
Ao menos, para o motorista poder fazer isso, ele é o único que tem aletas junto ao volante para interferência imediatas (sem precisar tirar do D), muito práticas em ultrapassagens e retomadas. E o fato de ser aspirado garante respostas ao pé direito sem nenhum lag. Ao volante, porém, a impressão é que o Jeep é sempre mais pesado. E mais pesada é também sua direção, que dá a sensação de carro “na mão”, mas cansa mais no trânsito e na hora de fazer manobras.
Já em relação ao consumo de combustível, o Compass tem fama de gastão, mas estes rivais grandalhões não são muito melhores. De acordo com o PBEV-Inmetro (dados completos nas fichas técnicas), o Jeep gasta ligeiramente mais que os rivais na cidade e empata com o Chevrolet na estrada – onde é o Ford que gasta mais.
De fato, em nossa avaliação, foi muito mais fácil chegar aos 12 ou 13 km/l (com gasolina) na estrada com o Compass e o Equinox, enquanto com o Territory mal passamos da casa dos 10 km/l (todos a 2.500 rpm a 120 km/h). Já na cidade, com trânsito mediano, o Ford surpreendeu, e atingimos marcas praticamente iguais, entre 8 e 9 km/l, com os três.
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Vai pegar terra?
Estes SUVs não foram feitos para o uso no fora-de-estrada, obviamente, mas até mostram suas vantagens – seja na terra, seja nas valetas e lombadas da cidade. Para quem precisa de tração 4×4 de verdade, dá para pensar, pelos mesmos R$ 176.990 do Compass Flex Limited completo, em levar um Compass Longitude a diesel básico. Mas, para encarar ocasionalmente estradas de terra que não exigem um SUV off-road de verdade, as melhores opções são o Compass e o Equinox. Nenhum deles é ideal, claro.
A maior vantagem do Jeep Compass está na altura livre do solo – 21,1 cm, contra 17,9 cm do Territory e exatos 16 cm do Equinox. Isso ajuda a evitar preocupações com eventuais raspadas e pedradas. Já o Equinox tem a vantagem da tração integral: por um botão, é possível acoplar seu eixo traseiro, o que nos ajudou bastante a evitar as patinadas na hora de encarar terra, principalmente nas subidas – além de “prender” melhor o carro a superfícies enlameadas ou com muitos pedriscos.
Conclusão
Para desafiar o líder de vendas Jeep Compass, os dois rivais que selecionamos aqui apostam principalmente no espaço extra. Equinox e Territory têm praticamente as mesmas medidas dentro da cabine, mas o Ford mostra um melhor acabamento e uma aparência geral bem mais sofisticada – porém fica devendo, e muito, no quesito porta-malas (muito importante pelo perfil familiar dos SUVs médios em geral).
Ao volante, para quem não tem pressa e procura acima de tudo conforto ao rodar, o Territory agrada bastante, porém sua transmissão e seu consumo rodoviário poderiam ser melhores. Mas, no fim, seu maior problema é mesmo o preço, mais alto do que o dos rivais quando igualmente equipados (e a diferença nem é toda compensada totalmente pela sua manutenção mais barata).
Já o Jeep Compass fica devendo um motor mais moderno e/ou turbinado, isso é verdade, mas ainda assim consegue ser muito bom de dirigir por outras características, como as suspensões e o sistema de direção, deixando o motorista que curte prazer ao volante mais satisfeito que no Territory. Ele é um carro bem mais “na mão”, caso você pegue serras, e também mais valente e resistente para enfrentar eventuais estradas de terra. Mas fica abaixo da concorrência principalmente no espaço interno – e, no porta-malas, vence apenas o Ford.
Então, botando tudo na balança, o melhor equilíbrio entre espaço, motor, dinâmica e prazer ao volante está mesmo no Equinox 1.5. O desempenho é o melhor, o rodar é silencioso como o do Territory e ainda há a conveniente tração integral, que ajuda em diversas situações. Além disso, ele dá uma lavada nos rivais com um porta-malas maior e mais versátil, e ainda custa menos (embora ainda esteja na linha 2020). Pode não ter o melhor acabamento, ou o design mais atual, mas tem o melhor custo-benefício. É, por isso mesmo, é o vencedor do comparativo.