Se o argentino Juan Manuel Fangio foi meu herói de infância, o escocês Jim Clark foi meu ídolo de adolescência. Consegui conhecer e ser amigo de Fangio, mas Jim Clark jamais encontrei. Lamento muito. Jim morreu com apenas 32 anos em uma corrida de Fórmula 2 em Hockenheim, em 1968, um ano antes de eu viajar para a Europa pela primeira vez.

Descobri Jim Clark no começo dos anos 1960 – ele debutou na Fórmula 1 exatamente em 1960 e começou a ganhar GPs em 1962. Lembro que meu irmão mais velho, o Wilson, e nossos bons amigos José Carlos Pace e Luís Pereira Bueno (que também se tornaram pilotos de competição) caram muito entusiasmados com a chegada do prodigioso talento deste jovem escocês no mundo dos GPs.

Por isso, quando em 1962 Jim venceu pela primeira vez na F1 – o GP da Bélgica, no difícil circuito de Spa –, quei todo animado, chamei a atenção de meu pai para o sucesso do escocês. Exatamente o contrário do que havia acontecido cinco anos antes, quando meu pai me apresentou ao Fangio. 

Jim ganhou dois campeonatos mundiais em sua curta carreira na F1, em 1963 e 1965, e pilotou para a Lotus em todos os seus 72 GPs. Mas o que mais de ne o talento de Clark é que ele ganhou 25 GPs desses 72… e chegou em segundo apenas uma vez! Em outras palavras, se a Lotus casse inteira, quase sempre ele ganhava.

Eu também debutei na F1 na Lotus, apenas dois anos depois do falecimento de Jim. Naquela época, o chefe Colin Chapman e sua equipe estavam, se não de luto, ainda abalados com a morte de seu amigo. Chapman raramente falava de Jim. Eu acho que ele não conseguia, pois os dois eram extremamente amigos.

Também quei muito amigo de Jochen Rindt e ele faleceu em uma Lotus em 1970. Chapman sentiu demais essa outra tragédia. Em 1972,  quando eu estava a caminho de ganhar o campeonato mundial para a Lotus, Chapman e eu nos tornamos bons amigos. Um dia, ele colocou a mão em meu braço, olhou nos meus olhos e disse: “Emerson, eu gosto de você. E você é um cara legal. Mas eu não quero ser muito próximo de você porque…” E a voz dele cou embargada, não conseguiu terminar a frase. 

Nunca saberemos como teria sido de fato a Fórmula 1 se Jim continuasse vivo e sob o comando de Chapman. O que sabemos é que, assim como Fangio, Jim Clark era superlativo em Spa, venceu lá quatro vezes, ainda que não gostasse do circuito. 

Hoje, quando você estiver vendo um GP com carros in nitamente mais seguros que os daquela época, pense nesses dois heróis destemidos de minha juventude que agora pertencem à história da Fórmula 1. Que eles descansem em paz.